19 de jan. de 2009

Uma faculdade, o senador e as intrigas, tudo isso em um mundocapitalista... - 09/11/2007

Mais uma vez essa história ocupa uma parte significativa das páginas desse jornal. Mais uma vez sou levado a ler defesas sobre um tema que tentam me convencer que é importante. Novamente vejo manifestações, puramente partidárias, disfarçadas de defesas de idéias.
Ontem de um lado, hoje do outro. Mas ambos preocupados em fortalecer suas posições, visando capitalizar nas próximas eleições.
De um lado defensores do maior representante do "Tempo novo" do outro a esposa do cacique.
Nada contra os embates. Mas se estão tentando formar opiniões, por que não tocam no ponto que, realmente, é relevante na história?
Ora, se todos concordam que o Senador, e sua esposa, têm direito à concluir um curso superior, então me mostrem o erro que tentam imprimir na iniciativa que ele tomou pra garantir isso.
Não sou partidário de Marconi, nem do "tempo novo", mas não posso mais ficar quieto enquanto vejo, seguidamente, os jornais publicarem o enorme debate que se gerou em torno da turma de direito do Senador.
Vamos aos fatos. A referida turma, montada pra atender ao casal Perillo é uma turma da Organização Alves Faria, uma organização de ensino superior da iniciativa privada. Não se trata de uma organização pública. Não estamos falando de direito público então. Ao menos não diretamente. As Faculdades Alfa, assim como todas as organizações privadas de ensino, vende seu produto a quem possa pagar. Existem os pacotes montados, mas o cliente sempre pode solicitar uma prestação personalizada dos serviços adquiridos. É como uma boate, que em algum momento pode ser fechada para uma festa de debutante, ou a um Centro comunitário que pode ser fechado para os festejos de casamento de membros de duas famílias locais, onde o acesso é restrito aos convidados. Sei que esses exemplos pode não parecer bons. Mas são. Se falamos de instituições privadas, estamos falando de lucros. Tudo isso é apenas sobre isso. Ah, e é claro, sobre quem pode pagar mais. Talvez seja esse o grande ponto a ser atacado pelos adversários do senador. Isso, é claro, se acharem que ele esteja gastando dinheiro que não seja exatamente seu. Mas, e se for?
Em seu último artigo (publicado no DM de ontem, página 17) a senadora evoca o artigo 5º da Constituição, em sua busca de tornar crime, ou ao menos, rejeitável, a atitude do senador adversário. Na dúvida eu me debrucei, novamente, sobre a constituição e, mesmo reconhecendo não ser eu um grande interpretador jurista, não consigo ver nenhuma violação de direitos na postura de um cliente que exige um grau maior de personalização no atendimento de sua solicitação.
Me sinto estranho tendo que dizer essas coisas. Afinal eu sou comunista, por princípio, desde que me alfabetizei em uma escola municipal la do interior de Goiás. Mas se eu vivo em um país capitalista, em um mundo capitalista, então tenho que viver conforme o ditam as regras do capitalismo. Posso, isso sim, lutar minha luta para mudar esse mundo. Mas enquanto não mudar, o mundo continua sendo capitalista. E eu muitas vezes vou me estranhar com atitudes capitalistas vindas de mim, que sou comunista. Mas esse pessoal que tenho visto escrever sobre o "importante" tema nunca foram comunistas. São capitalistas desde suas origens. Nasceram e vivem em meio a oligarquias urbanas e/ou rurais. São grandes latifundiários, empresários ou proprietários dos meios de comunicação e usam os seus cargos eletivos para beneficiarem a sim mesmos ou a seus próximos, e não para promover a ampliação da democracia, distribuição de renda e acesso universal a todos os direitos, e não apenas à educação.
Fico imaginando se ocorrer de a Senhora Íris Araújo for acometida por alguma moléstia, se ela vai buscar tratamento em um hospital público, como o HC ou o HUGO, ou vai se refugiar em um confortável apartamento do Anis Rassi? Eu não tenho dúvidas, se fosse comigo, e eu tivesse a grana que ela tem, iria para o mais exclusivo dos apartamentos de uma unidade particular (se estivesse em Mineiros seria no hospital da família do Dep. Leonardo Vilela, outro expoente no "Tempo Novo", onde se lê na parede ao lado da porta de entrada, e em letras enormes "Não atendemos pelo SUS"). E eu sou comunista. Mas em alguns casos tranqüilidade e privacidade são coisas importantes. E acho que todos deveriam ter direito a um apartamento individual, sempre que precisar se internar em um hospital. E saúde, se não estou enganado, é um desses direitos garantidos no 5º artigo, ou não?
Me lembro de uma época recente quando, precisando melhorar meu inglês básico, e enfrentando dificuldades devido à natureza do meu trabalho, que me mandava sempre para outras cidades, sem um cronograma muito claro, eu e alguns colegas de trabalho (em número não maior que a quantidade de dedos da mão esquerda do nosso presidente), nos reunimos com a direção da unidade do CCAA de Mineiros, e definimos uma turma so pra nós. Onde teríamos o curso normalmente, mas nossos horários. Certamente a ilustre senadora nos amaldiçoaria, não é mesmo?
Outro desses direitos, se não me falha a memória, e o direito à moradia. E, seguindo o mesmo princípio defendido pela Senadora, todos deveríamos morar em igualdade de condições. Independente do poder de comprar de cada um. Aí me pergunto, onde será que mora a senadora e, obviamente, o prefeito? Não creio que seja em setores como o "Madre Germana", ou mesmo, o "Dona Íris", que leva seu nome. Não sei onde, mas certamente ela reside em algum luxuoso condomínio horizontal, em uma grande mansão, com guardas armados nas guaritas, lagos particulares e toda comodidade que seu dinheiro pode comprar. E, ela está errada? Conforme as normas do sistema capitalista em que vivemos, não. Nada tem de errado com isso. Se ela pode pagar, então tem o direito de adquirir. Seja um carro de luxo, uma mansão, uma estadia em hotéis caríssimos, temporadas em SPA, ou um Curso superior em uma universidade particular com atendimento não apenas personalizado, como totalmente pessoal.
Vejam bem, não estou falando de nada que seja público. Se uma universidade decidir por medida parecida, a minha voz será uma das primeiras a ecoar contra isso. Bem como qualquer atitude semelhante de qualquer instituição pública. Seja de educação, saúde, transporte, segurança, ou outra qualquer. Toda essa discussão gira em torno de uma ação de compra e venda. Como já disse, estamos falando de lógica de mercado. Do tão, bravamente defendido por todos que já se manifestaram sobre o tema, modelo "neoliberal". Então, critiquem a qualidade do ensino da referida universidade, se este for criticável. Teçam comentário acerca da competência do futuro advogado Marconi, ou achem outros motivos para denegrir a imagem de seus desafetos políticos. Mas não sejam tão hipócritas. Não venham criticar, pontualmente (e de forma puramente conveniente), atitudes que vocês sempre defenderam, e das quais são suais utilizadores. Ou será que ao se deslocarem para suas atividades o Sr. Prefeito, assim como o Senador, os deputados e todos os demais, utilizam os vôos comerciais, dividindo poltronas com seus bons correligionários? Nunca vi um governador, ou mesmo deputado, desembarcar na rodoviária de Mineiros, de um ônibus "São Luiz", quando de suas visitas oficiais. Mas helicópteros e jatinhos particulares, eu sempre era convidado a recepcionar, com festejos. E, nesses casos, quase sempre são pagos com recursos que deveriam estar permitindo o acesso a um aluno ao ensino formal.
                E depois, o Ilustre Senador Marconi, tem tantos motivos reais para ser criticado, alguns até para ser investigado. Assim como o atual Prefeito de Goiânia. Pensando bem, todos os nossos políticos, com raríssimas exceções. Então porque atacar a lógica de mercado?

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