1 de set. de 2011

Não somos reféns, pois a Terra não é nossa inimiga


Gosto de ler.
Letras, palavras, pessoas...
Somente através da leitura é que se pode conhecer e compreender o mundo. Seja o mundo imediatamente à sua volta ou todo esse mundão de meu Deus.
Pena estarmos perdendo, em ritmo de progressão geométrica, a capacidade de leitura.
A verdade é que não gostamos de ler. Não aprendemos na escola. Não somos incentivados em casa, e o sistema prefere que não saibamos mesmo.
E, se não sabemos ler palavras escritas, sejam em revistas de fofocas, jornais diários ou obras clássicas da literatura, muito menos somos capazes de ler os fatos ao nosso redor. Leitura analítica da conjuntura é coisa para cientista social e político. Não cabe a nós, certo?
Fiquei com muita vontade tratar desse tema, hoje aqui. Mas só citei o gosto pela leitura, e a necessidade que temos de ler, para dizer que essa é uma das formas que uso para observar as pessoas. E tai outra coisa que gosto de fazer, observar as pessoas. Não individualmente, como mexeriqueiro. Mas os comportamentos sociais. Afinal a produção literária reflete bem a evolução moral e intelectual do seu tempo. Ou seja, as uma sociedade escreve aquilo que vive. Ponto.
Por isso se aprende sobre as pessoas lendo tudo que está sendo escrito em cada geração, em determinada localização geográfica.
E, aqui em Goiânia, o Diário da Manhã é um bom espelho a refletir o que pensam as pessoas que vivem aqui, em nossos dias. Afinal o espaço aberto para que as pessoas comuns possam se expressar funciona meio como janela democrática em meio à pressão financeira que mantêm os meios de comunicação. Por isso, e por estar totalmente aberto na internet, me permitindo lê-lo “na faixa”, há tempos essa tem sido uma leitura diária obrigatória.
Às vezes me surpreendo com o que encontro nessas páginas. Às vezes me aborreço, às vezes me alegro, sempre me informo e muito aprendo sobre nós. Na última terça-feira (30/08/2011), dois pequenos textos de leitores, na mesma página, me chamou muito a atenção. Um bom artigo sobre Steve Jobs, e um comentário de 3 pequenas linhas sobre o furacão Irene.
Em seu comentário, o leitor Fernando Borges disse, literalmente, o seguinte: "É impressionante como o furacão Irene provocou destruição. Realmente, somos reféns da natureza". Vejam, caros leitores, ele reconhece a força da natureza, se mostra admirado com o que essa força pode fazer. Ao leitor Fernando ocorreu a percepção de que existem forças bem maiores que todo poder que se pode comprar. Percepção essa que a maioria de nós ainda não tem.
Até aí tudo bem. Bastante louvável, inclusive. Devemos nos alegrar sempre que uma pessoa adquiri um nível de consciência mais elevado.
Ocorre porém que ao encerrar sua manifestação, o leitor explicita algo que, de certo modo, representa a triste relação que a grande maioria da humanidade acredita ter com o planeta. Veja que ele diz “... Realmente, somos reféns da natureza". Confesso, isso me entristeceu um pouco.
Uma olhada rápida em qualquer dicionário e você, se tiver alguma dúvida do significado da palavra, vai confirmar que o termo refém diz respeito à relação de alguém com um inimigo. Quer seja a pessoa que se entrega para garantir a integridade de outrem, ou aquele que é seqüestrado, com o objetivo de obter o pagamento de alguma quantia, por seu resgate. Mas o fato é que trata-se da relação com um INIMIGO. Com o qual você não quer estar, e com quem corre grande risco.
Ora, olhando daqui, de onde olho, não é o que me parece.
Tudo bem, eu não sou delegado de polícia, juiz, advogado, seqüestrador, banqueiro, fiscal da receita federal, negociador da polícia nem apresentador de programas sensacionalista na TV. Mas posso opinar sim, e posso porque aprendi, com alguns bons mestres, que somos filhos da Terra. Que estar aqui é um privilégio, e não um castigo. E, exatamente por isso, precisamos aprender a tratar bem esse planetinha azul, que é a única morada disponível para nós, nessa nossa etapa.
Há tempos que, sempre ao falar de solidariedade, eu falo que já é quase passada a hora de começarmos a ser solidários uns com os outros, seres humanos, mas também com todas as demais formas de vida com as quais convivemos e das quais dependemos.
O que chamamos de catástrofes, talvez seja apenas a Natureza respondendo a todos os nossos ataques e agressões. E, por certo não é respondendo por vingança, mas para equilibrar as coisas na superfície, e nos chamar nossa atenção para a forma errada que estamos nos comportando.
Podemos nos considerar filhos, irmãos ou companheiros da Terra (natureza). Mas não somos reféns, afinal ela não é nossa inimiga. Ao contrário, é ela que nos oferta tudo que precisamos para viver e desenvolver. E ela nos oferece apesar de nós, apesar de como a temos tratado. Tudo que ela espera é que saibamos aproveitar com sabedoria e respeito. Respeito a todos os iguais, e a todos os diferentes. Afinal se vivemos na mesma casa, é bom que vivamos em harmonia. Concorda?
E, afinal, o que o artigo sobre Steve Jobs tem a ver com isso? Você pode estar se perguntando. Bem, como disse, o artigo ficou bom mesmo. O coordenador de MBA Marcos Hiller fez justiça à mente inquieta e genial do criador da Apple. No entanto, e também no fechamento, ele perde a oportunidade de encerrar brilhantemente seu texto, e se permite demonstrar o grave senso comum. Ao dizer que "... A verdade é que eu não preciso de iPad 2, mas tenho de ter ..." , ele assume uma das faces mais egoístas do ser humano que, preocupado apenas com seu bem-estar pessoal e momentâneo, sequer lembra de onde vem os recurso para produzir todas bugigangas tão desnecessariamente vitais.
Não sou eco-chato. Sei que os avanços tecnológicos são importantes e bastante úteis. Estou dizendo apenas que, se eu não tenho um equipamento, que eu possa escolher o que há de melhor. Mas se já possuo um, que eu prolongue sua vida útil o máximo possível, afinal, cada placa, ou parafuso, será feita com parte do corpo de quem nos sustenta em seu colo/superfície.