11 de mar. de 2011

Sobre Kant, Reginho e tudo mais que a mulher/consciência deixar...

Nós e nossos conflitos.
Já disse mais de duas vezes que somente nossas escolhas são realmente nossas. Tudo mais escapa de nosso controle. Só nos cabe escolher. Quanto às conseqüências, o que podemos fazer é visualizar o que imaginamos, e torcer para que sejam agradáveis.
E a cada escolha nos deparamos com conflitos que precisamos resolver, para optar por este ou aquele caminho. Ou mesmo se prefiro permanecer nesse.
Alguns conflitos nem são sentidos, e a escolha é feita sem a necessidade de grandes reflexões, como quem escolhe entre pudim de leite e gelatina na sobremesa.
Outros, no entanto, nos fazem debruçar sobre eles, tentando prever as conseqüências no médio e longo prazo, ou ainda, para as futuras gerações. Como quem está para comprar um apartamento ou uma casa com amplo quintal, ou largar tudo e aceitar a nova proposta de emprego naquele paraíso no meio da Austrália (sempre achei a Oceania um mundo à parte em nosso planeta, mas isso não vem ao caso. Não agora pelo menos).
O fato é que alguns conflitos deixam marcas mais profundas que a própria escolha. E, por isso mesmo, todos os pensadores que já ousaram pensar, tentaram nos mostrar o que nós mesmos sempre sentimos. E os filósofos acharam por bem chamar esses conflitos de “Dilemas Éticos” ou “Dilemas Morais”.
E a busca em tentar entender, explicar e, quem sabe, nos livrar desses dilemas, foi uma das molas que impulsionou o surgimento das filosofias, das religiões e das leis. Só perde em importância para a busca desenfreada em acumular riquezas e, claro, para o desenvolvimento de técnicas que ampliem a garantia de cópula (mas isso não deve contar, afinal tudo que os homens fazem é com esse fim...).
Dos gregos clássicos aos contemporâneos pós-modernistas, passando pelos renascentistas, os iluministas e pelos empíricos. De Sócrates a Nilton César, passando por Sartre, todos se dedicaram, e se dedicam, a estudar esses dilemas. Cada um do seu jeito, e conforme seu tempo, é claro.
Enquanto as filosofias científicas tentam entender, as religiões cuidam de tentar amenizar nossas angustias com penitencias, perdões e a vendas de nossa salvação (mercadoria muito comercializada hoje em dia, em grandes templos/mercados).
Mas o dilema continua nos afligindo. Sempre que precisamos decidir alguma coisa, lá está ele para nos atazanar. “Vou de preto ou de vermelho?”, “devo servir vinho branco ou cerveja?”, “na minha casa ou no apartamento dela?”, “monogamia consentida, ou poligamia escamoteada?”, “cinema ou futebol?”, “medicina ou belas artes?”. E essas dúvidas não nos abandonam. São como aquele anjinho e aquele demônio que disputam a escolha da pessoa, no momento da decisão. Essa talvez seja a melhor representação do que acontece em nós.
E o motivo de todo dilema é o fato de termos que equilibrar nossos desejos com nossas possibilidades, dentro dos limites do que é aceito como legal. Ou seja, toda escolha que fazemos, e nós só fazemos escolhas, deve levar em conta três questões básicas: Eu quero? Eu posso? Eu devo?. Havendo resposta positiva para essas três questões, a escolha poderá ser tomada sem nenhum receio, posto que será ética. Aí também encerra o conceito básico de liberdade, “Ter capacidade para fazer o que se quer, sem infligir as leis”.
Muitos conselhos já nos foram dados. Entre os meus preferidos está o de Jesus, encontrado em Mateus, VII, 12: “Tudo que quereis que os outros vos façam, fazei primeiro a eles”.
Mas podemos lançar mão de outros, somente para ilustrar: “O dever é, em suma, isto: não faças aos outros aquilo que se a ti for feito, te causará dor”. Mahâbhârata, 5, 1517; “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convêm”, I Cor. 6:12.
No entanto, o que os filósofos teorizam sempre esteve presente na cultura popular, e nas manifestações culturais. Sobretudo na música popular. Você ficaria impressionado com o que se pode aprender quando se ouve música o tempo todo. E eu não consigo conceber a vida sem música.
Gosto de música em geral, sem preconceito. Claro, tenho minhas preferências, e existem algumas coisas que nunca vou comprar para mim. Mas ouço. E quando digo que ouço, estou falando que escuto mesmo. É que gosto de entender as letras.
Gosto de encontrar beleza onde a maioria acha que não existe nada de interessante.
Não sou um grande conhecedor do que convencionou chamar de “brega”, mas confesso que gosto, e que já encontrei nesse gênero, algumas das mais belas poesias cantadas. Quem, por exemplo, dirá que não acha linda a composição do Fernando Mendes “Você não me ensinou a te esquecer”? Na interpretação do Caetano então, ela ficou maravilhosa.
Mas esse texto não é sobre os dilemas éticos? Então por que cargas d’água desembestei falar de música? Ainda por cima de música brega? Ora, é simples! Por que um dos grandes sucessos do momento, trás à baila uma lição de filosofia, tratando da questão dos conflitos morais de forma tão profunda e clara, que me faz pensar que seu autor foi beber diretamente na fonte iluminista de Kant. Ou será que o leitor nunca parou para analisar o rico conteúdo do maior sucesso de Reginho dos Teclados, “Vou não, quero não, posso não”?
Ao cantar que não vai aceitar os diversos convites para a farra e a vadiagem, o personagem da canção deixa claro sua condição de ser livre, ao equilibra suas vontades, suas capacidades e os acordos legais aos quais está comprometido.
Se Reginho conhece o pensamento de Kant? Não sei. E se foi proposital essa abordagem tão rica, apesar da linguagem simples? não creio também. Mas é aí que se encontra a grande beleza da coisa toda. Pois prova novamente que todos nós temos em nossa consciência a clara noção do que é certo e do que é errado. De quais são nossos direitos e quais são nossos deveres. E para isso não precisa que sejamos filósofos, teóricos, padres, pastores, juízes aposentados, advogados ou compositores eruditos.
E viva a boa e velha música realmente popular, com a benção de Fernando Mendes e Reginaldo Rossi.

8 de mar. de 2011

Jé que é hoje, um pedido...

Meu pai, um homem simples e muito pobre, foi o responsável por todo recurso de que dispus por toda infância e boa parte da adolescência. Até começar a trabalhar. E tive que começar logo cedo, afinal tinha poucos recursos. Meu pai, em seus trabalhos pesados e insalubres, só conseguia ganhar o essencialmente básico para nossa sobrevivência. Não foi um tempo fácil aquele.

Minha mãe, mulher igualmente simples, tratava de cuidar da casa simples, gerir os parcos recursos e, principalmente, se dedicar em nossa educação. Como fui o filho que ficou por mais tempo com eles, fui mais impactado pela convivência com seu Durvalino e dona Felisbina. E posso assegurar, foram dias difíceis, devido à dureza, mas foram tempos fundamentais para mim.
Aprendi muito do que me é importante hoje e que, sei, será importante por toda minha vida. Também tive importantes lições com outras pessoas, é claro (por sorte, a vida sempre foi muito boa comigo). Mas tudo que vivi com meus pais me trouxeram lições vitais.
Alguns bons princípios. A noção de que é preciso esforço para se viver, sobretudo para quem vem da “baixadinha” (seja lá onde for que a sua se localize).
Minha mãe sempre batalhou muito para que melhorássemos de vida. Foi ela quem se dedicou por meses, até conseguir comprar o terreno onde aos poucos nossa casa foi sendo edificada. Era ela quem inventava alguns pratos feitos com ingredientes estranhos, para que não ficássemos sem ao menos uma refeição por dia. Era ela quem passava a noite ao meu lado, muitas vezes chorando, quando eu ficava doente. E foi ela que mesmo sendo semi-analfabeta, se esforçava para ler comigo as estórias mágicas dos livros infantis que havia na pequena biblioteca da Escola Municipal Otalécio Alves Irineu. Ela lia, eu lia, ela se empolgava, comentávamos, riamos muito, conversamos sobre as aventuras mágicas. E ela sempre pedia para que eu pegasse outros no dia seguinte. E foi isso que me fez gostar dos livros. E isso foi fundamental incentivo para que eu gostasse de ler e, consequentemente, de estudar o que não me garantiu fortuna, reconhecimento ou sucesso em nada. Mas me permitiu crescer, e me tirou daquela “baixadinha”, de onde vários dos meus amigos de infância não conseguiu sair.
Meu pai é um homem bom. Simples, analfabeto e meio rude. Mas com uma delicadeza maior que na maioria dos homens com quem ele convivia. E me influenciou muito.
No entanto, foi minha mãe a grande responsável por eu ser quem sou.
Sei que ela teria feito muito mais, se tivesse um trabalho que lhe rendesse um bom salário. Mas, na maioria do tempo ela não tinha trabalho pelo qual recebia salário algum. Sua ocupação em quase todos os seus dias, era com sua casa e com sua família. E por isso não tinha salário. Na verdade, nem sempre o devido agradecimento. Mas reconheço, não hoje, mas sempre soube, que sua principal contribuição para minha formação não dependia de recursos financeiros ou da sua posição social. Não é disso que se trata. Mas do fato de ser mulher.
Sou favorável, e apoio todas as lutas das mulheres em busca de “emancipação”, igualdade e, principalmente, em busca de respeito e mais dignidade. Sou favorável, apoio e defendo.
No entanto acho necessário fazer uma reflexão que, para algumas vai parecer o contrário. Mas que não é mesmo.
É que mesmo não sendo sociólogo, antropólogo, sexólogo, hippie “porra louca” ou irmã beneditina, há algum tempo observo algumas das conseqüências dessas lutas. Algumas muito favoráveis, como a ocupação cada vez maior de cargos e funções de direção, quer de empresas ou de órgãos de governos, por mulheres. Mas também algumas conseqüências nem tão favoráveis assim. Uma delas, o fato de andar vendo cada vez mais mulheres solitárias, angustiadas, deprimidas. A segunda, e mais grave, vejo a sociedade cada vez mais violenta, as pessoas mais agressivas, menos tolerantes, mais propensas a revidar qualquer insulto, por menor que seja, com agressões gratuitas.
Tudo bem, essa é minha opinião pessoal e intransferível, e vou tentar explicar.
É que, ao que me parece, e para mim isso é muito claro, as mulheres estão tão engajadas em sua luta, por igualdade, dignidade e tudo mais (que, como disse, acho mais que justo), estão se afastando de algumas características da personalidade feminina, que são fundamentais para a manutenção do equilíbrio da sociedade.
E não estou falando de pia, fogão ou tanque. Não acho que as mulheres devam ser domesticas, nem defendo que lugar de mulher é na cozinha. E, a pessoa a quem mais confio, depois de mim mesmo, ao volante, é uma mulher. Não se trata de nada disso.
Certamente se meu pai tivesse mais dinheiro minha vida teria sido diferente (ainda me emociono ao lembrar que no dia que eu passei no vestibular, meu pai chegou em casa com uma bicicleta azul, novinha... Deus sabe que aperto ele teve que passar, mas aquilo era simbólico para ele, e foi para mim também...). Mas foi minha mãe, com sua feminilidade, sua delicadeza, sua forma de me mostrar o mundo, sua fé e sua fragilidade extremamente forte que compõem quase todo meu caráter.
Homens são caçadores. A ordem, o equilíbrio e a transferência dos princípios básicos são papeis das mulheres.
Homens são guerreiros, são focados em objetivos fáceis de serem observados. Nós, homens somos limitados e nossa força bruta nem de longe supera a força e a perspicácia das mulheres.
Pessoas que sabem perdoar, que são mais tolerantes, que cultivam a fraternidade, só existem (ou existirão) se as mulheres nos ensinarem isso (quer ver os conflitos acabarem e a paz ser implantada no planeta, deixemos as negociações nas mãos das mulheres). Da mesma forma, uma sociedade desequilibrada, com todas as doenças sociais e toda sorte de violência que vemos hoje, está aí devido à ausência do espírito feminino.
Sim, em minha opinião, a culpa de boa parte das grandes mazelas que enfrentamos hoje é sim das mulheres. De sua luta feminina e feminista. Não devido à luta propriamente dita, nem pelos objetivos explícitos, que são bastante legítimos. Mas pelo que considero erro de foco, pois na busca por suas conquistas, a grande maioria está se afastando de suas principais características. As mulheres resolveram que deviam, ou que podiam deixar de lado sua posição de mulher, e estão fazendo isso sem preparar ninguém para substituir.
Não podemos negar as verdades históricas. E não se pode mudar a realidade moldada em séculos evolução, em algumas décadas e com algumas atitudes.
Queimar sutiãs pode ser bom para a auto-estima coletiva das mulheres, mas não altera a realidade.
Por isso, hoje quero fazer um pedido a todas vocês: Conquistem seus espaços, dirijam mais empresas e sejam presidentes, marquem gols, cantem, façam mais sexo, sejam livres para assumirem suas opções sexuais, saiam em passeatas, (...). Enfim, façam tudo que acham que devem fazer para serem mais respeitadas. Mas não deixem de ser mulheres.
Todo trabalho que nós homens fazemos, vocês podem fazer tão bem (se melhor ou pior, sempre vai depender do talento e do prazer com que se executa), mas a essência da alma feminina nós não temos como desenvolver. Nunca saberemos o que é ser mãe (infelizmente).
Não são vocês que devem se igualar aos homens. Pelo contrário, o ideal será quando vocês nos ensinarem a sermos como vocês.
Que suas lutas, e conquistas, sirvam para tornar a Terra um lugar melhor de se viver. E não para embrutecer nosso mundo.
Beijo Terno e todo meu respeito e minha enorme admiração.