27 de mar. de 2017

Ainda sobre o amor

Querida amiga, pensei em escrever uma carta, daquelas com caneta, papel e que usa selo impresso colado no envelope para chegar ao destinatário, pelas mãos de um carteiro. Mas a urgência por me expressar foi maior. Não consegui me conter.
Então, seguindo com a conversa iniciada a muito (provavelmente bem antes de termos nos conhecido), e não concluída (pois algumas jornadas são eternas, e algumas lições nunca devem ser esquecidas, sob pena de não serem aprendidas, ou rapidamente esquecidas). Sabe, querida, minhas certezas são apenas minhas, e são fruto de observações atentas do mundo à minha volta e, por consequência, das pessoas que me cercam. Mas sei que por vezes essas minhas verdades vestem muito bem outras pessoas. Por isso gosto de compartilhar meu modo de encarar o mundo.
Então, veja, quanto podemos aprender observando a vida do Oswaldo Montenegro, esse cara que admiramos. Acho até que ele não se dá conta. Mas isso só aumenta a beleza da coisa.
Como já disse antes, em textos e em conversas rápidas, vejo que temos grande dificuldade em entender esse sentimento maravilhoso, rico enriquecedor e edificante que é o amor. Fomos moldados de forma distorcida. Ao longo da história, sobretudo aqui no ocidente, fomos levados a confundir não só nossos sentimentos, mas também nossa percepção a cerca de tudo que nos cerca.
E o amor foi um dos sentimentos que mais sofreu distorções, nesse percurso.
Obrigamos-nos a ligar, sempre, amor com sexo, e/ou laço como namoro, casamento e alhures.
Sim, é bom ser querido. É ótimo saber que alguém nos ama. E é maravilhoso estar em um relacionamento onde somos correspondidos em nossos sentimentos. Mas o amor, assim como todo sentimento que temos, é sentido de forma um tanto solitária. E é muito injusto, com nós mesmo, e com a pessoa que está comigo, exigir que o sentimento seja partilhado na mesma intensidade e profundidade.
Também é injusto com todos, sobretudo com nós mesmos, negligenciar, negar, ou pior ainda, sufocar intencionalmente o amor que sinto por alguém, só pelo fato de não conseguir construir uma relação com essa pessoa.
E é exatamente isso que a maioria de nós faz. Boa parte das pessoas vive, e morre, infelizes, devido essa cobrança injusta.
Deixamos de acreditar no amor, porque a pessoa que amo não quer me namorar. Matamos-nos, e matamos a outra pessoa (sobretudo se sou homem e a outra pessoa for mulher), por achar que somos donos, ou propriedades de quem nos desperta esse sentimento. E alguns se obrigam uma vida inteira de infelicidade, ao lado de alguém, por quem temos amor, mas que é incompatível para se construir uma vida a dois.
Tudo pode parecer confuso, e maluco demais. Mas não é. E o Oswaldo e a Madalena estão aí para nos mostrar isso na prática.
Não sei em que ponto eles entenderam isso. Mas entenderam. E ainda bem.
Veja, minha amiga, existem pessoas que acendem em nós uma chama que as outras pessoas não podem acender. Um sentimento com força para nos influenciar como nenhuma outra. E que, quando compreendido, nos eleva como seres humanos. Nos faz melhores. Nos leva querer sermos melhores. Nos aponta o caminho não apenas da felicidade, mas da iluminação, nos fortalecendo e nos encorajando à cumprir nossos talentos e nossas missões nessa existência.
E tudo isso é muito forte, é muito intenso. É muito bom. Pode ser muito bom.
O problema é que nos contaram uma história equivocada, de que é com essa pessoa que eu devo me casar, ter filhos, construir uma família, e Tal. Ou é isso, ou devo me afastar dessa pessoa, apagá-la de minha vida, eliminar toda marca dela que possa existir em mim. E, em alguns casos, assumimos que, se ela não ficar comigo, então não ficará com mais ninguém. E nos tornamos assassinos. Ou suicidas.
Mas o fato, minha querida, é que não precisa ser necessariamente assim.
Sim, eu quero ter por perto a pessoa que me desperta o amor. Mas não devo me sentir proprietário, nem propriedade, dela. Pode mesmo acontecer de não rolar um romance. Pode mesmo não haver reciprocidade do sentimento. Mas, se o amor que eu sinto é meu, o importante é que eu o sinta, e tente materializar as reações que ele provoca em mim. Daí, querida, é necessário reconhecer todo bem que esse sentimento me faz. Assim, devo reconhecer, também, todo bem que a pessoa que o desperta me proporciona.
Mas preciso compreender, e aceitar que nem sempre será com essa pessoa que eu irei pra cama. Pode ser que aconteça. Mas pode ser que não. E, os motivos de não rolar, podem ser os mais diversos. E isso não deve me tornar infeliz.
Da mesma forma não deve ser motivo de tristeza e infelicidade, o fato da pessoa que eu amo se enamorar por outra pessoa. Eu também irei me enlaçar com outra. Faz parte da construção da vida.
E não estou dizendo que devo aceitar passivamente uma situação, de forma acomodada, e sofrendo com ela. Não é isso. Também não significa construir uma relação embasada em mentiras ou coisa assim.
Se por um lado existem poucas pessoas que nos despertam o amor. Por outro, é um pouco maior, sorte nossa, o número que pessoas que nos despertam desejo, que nos é boa companhia, que nos dá a segurança que precisamos para constituir uma família. Se essa pessoa também nos despertar o amor, tanto melhor. Mas se não for. Então que eu me case com ela, e tenha por perto aquela que me torna melhor. O mundo todo agradecerá, inclusive a pessoa que me for escolhida como cônjuge.
E sim, acho que tudo fica muito mais rico e pleno, se o sentimento for declarado, como no caso de Oswaldo e Madá.
“Não tenha ciúmes, querida. Eu amo essa mulher, mas é com você que quero envelhecer e criar netos”
Também podemos ter esse grande sentimento despertado por alguém incompatível para relação, como nos ensinaram. E por vezes a confusão que nos causa é muito maior, e com conseqüências muito desastrosas. Por exemplo, sendo eu hétero, fui ensinado que não posso amar alguém do mesmo gênero. Que isso me fará homo, diferente, errado. Mas, veja que eu disse AMAR, e não transar. Só que, como fomos condicionados a não enxergar as coisas de forma correta, sempre que eu amar alguém, vou achar que devo ter desejo sexual por essa pessoa. E se ela for um amigo querido, não aceito, por não entender. E matamos o que de melhor pode haver em nós, por pura incapacidade de amar verdadeiramente.


3 de mar. de 2017

Vazio

E há dias em que se sente esse vazio,
Imenso,
Amargo,
E cheio de angustia.
Não é um vazio que expande.
É um vácuo preste a implodir,
Te levando embora
                Pra dentro,
                Pra fora,
                Pra longe
                Pro fim...
Como uma super nova,
Ele ameaça engolir tudo que existe
                Dentro e fora de você.
Mas não o faz,
Pois nem ele se suporta.
E com a pressão, e força de atração de um buraco negro,
Sente repulsa de seu sabor,
Sente náuseas por sua dor
E, em um esforço paradoxal,
Tenta se vomitar...


Árido

Ao longe,
Do deserto,
O navegante fita o mar.
Com paciência e atenção, tenta desvendar seus mistérios
                Que julgava conhecer...
Hoje sabe que, a aparente calmaria pode ocultar violenta tempestade.
Onde havia porto, não há mais cais.
E suas águas, não permitem mais a navegação.
O navegante chora de saudade
Da aventura tranqüila, que era navegar,
Das descobertas e emoções, que era mergulhar,
Da beleza, por tanta vida,
Pela liberdade, vivenciada e oferecida,
Da segurança, pela certeza de poder aportar.
Da certeza de que o mar seria sem fim...

O navegante fita o mar,
Sonha em poder sair do deserto, e se refrescar novamente.
Reza para que a turbulência logo passe,
E, que ao menos o oceano encontre Paz.
Que tanta cor, perfume e energia,
Não se mate com o sal,
Não se polua com ácido,
Não se envenene com o ódio
Não congele nem evapore.

Ao longe,
Do deserto
O navegante fita o mar, sabendo que sempre irá fitar.
Sabe que há Oasis,
Rios, lagos e montanhas,
                E certamente irá se aventurar em outras paisagens
Mas não irá perder de vista o oceano,
Pois nunca vislumbrou, em outro lugar, tanta vida...