31 de jan. de 2009

Sobre o que há em comum entre o belo requebrar das baianas e as grandesbarragens...

Car@s,
Ocorreu-me de falar de algumas coisas que se parecem com brincadeira. Então me desculpem, mas preciso da colaboração de vocês. Por favor, experimentem fazer as experiências, ainda que apenas mentalmente. Combinado?!
Primeiro quero lembrar o talento das adoráveis baianas que equilibram, na cabeça, seus tabuleiros de acarajé. Elas descem, e sobem, as ladeiras do Pelourinho, indo da cidade baixa para a cidade alta, sem precisar auxiliar o equilíbrio com as mãos. Vocês já viram essa cena de perto. Acho lindo (além de que acarajé, com vatapá, é uma delícia não é mesmo?).
Elas sabem todos os movimentos que precisam fazer com seus corpos, para que o pesado tabuleiro não incline, e caia. Mas experimentem mudar vários componentes de lugar sem tirar o tabuleiro da cabeça de nossa querida baiana. Por exemplo, empilhe os acarajés todos em uma das metades do tabuleiro. A baiana pode se “entortar” para tentar manter o equilíbrio, mas em determinado momento, ela terá que mover o tabuleiro, buscando um novo “ponto de equilíbrio”, não vai?
Na segunda brincadeira, quero que vocês se lembrem (e imaginem) o que acontece quando se colocar vários objetos (imaginem o que quiserem. Pedras, pedaços de madeira, plástico, ar, areia, água, enfim, o que quiserem) dentro de um recipiente tapado, e fazer vários movimentos uniformes, por longo tempo. Por exemplo, se colocamos tudo o que vocês imaginaram em um recipiente que se assemelhe de uma esfera, e fazer esse recipiente girar, com certa força e por muito tempo, em torno de um eixo que o atravesse bem no meio. Os elementos contidos aí irão, ao poucos de acomodando de forma a equilibrar a distribuição do volume e do peso, não é verdade? E se acrescentarmos mais dois ou três movimentos de duração e energia similar ao primeiro, mas diferentes em seus trajetos e pontos de equilíbrio. A acomodação dos elementos internos se fortalecerá, não acham?
Terceira e última brincadeira. Apenas respondam o que acontece se exercermos certa pressão em um corpo poroso que esteja encharcado de água? (se pressionamos uma esponja cheia de água, o que acontece?). A água será expulsa, não será?
Então, fizeram essas experiências, mesmo que mentalmente? Concordam com as resposta que eu mesmo apontei aqui?
Mas, “por que esse cara está falando dessas coisas obvias agora?”, você pode estar se perguntando, certo? A resposta é simples. É que tenho pensado muito sobre esses princípios básicos da física e, tenho achado que talvez não sejam tão óbvios assim.
Ta bom! Vou explicar melhor.
Pelo que dizem os pesquisadores, a Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos, certo? E, mesmo não sendo físico, geólogo, geógrafo ou coisa do gênero, e apenas conhecendo um pouco sobre forças e energias geradas pelos movimentos, eu sou levado a acreditar (de forma muito empírica, é verdade) que a Terra é como é, e está onde está, devido à ação das forças geradas pelos movimentos de rotação, translação, Precessão e Nutação, além de todas as outras pressões oferecidas pelas forças gravitacionais do Sol, da Lua, da supernova mais distante, do buraco negro mais próximo, do movimento de dilatação do universo e várias outras forças que sequer somos capazes de supor que existam no universo. Todas essas forças exercidas sobre conjuntos de coisas existentes dentro do recipiente que é a atmosfera da Terra, com tanta energia, e por tanto tempo, distribuiu as coisas de forma que cada elemento se ajeitou no melhor lugar para que o formato e a distribuição do peso do planeta fosse, da melhor forma, “ajustado”. Concordam? É minha opinião e, para que ninguém diga que estou me metendo a afirmar coisa sobre as quais não conheço, quero repetir. Não sou físico, geólogo, geógrafo, profeta, visionário, astrônomo, arcebispo irlandês ou George Lucas. Sou apenas um cara observador. E que vive aqui, nesse planeta.
Mas se minhas observações, livre de qualquer base científica, estiverem corretas, cada oceano, montanha, continente, planície, depressão e tudo mais que define o formato do planeta, do núcleo à superfície, foi sendo colocado onde está ao longo de todos esses anos, conforme a melhor adequação, para que o planeta tivesse seu volume e peso distribuído de forma a possibilitar o equilíbrio necessário para que ele se mantenha “de pé”, assim como o tabuleiro de acarajé sobre a cabeça das baianas. Certo?
E, assim como no tabuleiro de quitutes daquelas simpáticas senhoras vestidas em grandes vestidos brancos, creio que se alterarmos, deliberadamente a disposição dos elementos, não pode o planeta se inclinar e, de alguma forma, cair? Ou se deformar, e deslocar-se do curso de seus movimentos. Buscando, assim como as baianas que se “entortam toda” reencontrar o novo ponto de equilíbrio, ou o novo eixo?
Vamos deixar isso de lado, e passarmos à terceira brincadeira. Vou acrescentar uma outra experiência fácil de se fazer. Quanta força é necessário para que vocês consigam quebrar uma desses pedaços de pedra pome, que se vende em casas de cosméticos? Apesar de muito porosa, ainda é bastante dura, não é? Mas quando está encharcada fica se quebra bem mais fácil. Eu mesmo já fiz isso.
Ta bom, eu imagino que o basalto que acomoda o aqüífero Guarani seja bem mais denso que uma pedra pome. Mesmo assim, tenho pensado em que peso ele é capaz de suportar, sem que se quebre, e “derrame” toda água que está armazenada. Pode parecer um pensamento bobo demais. E talvez seja mesmo, mas tenho ficado cada vez mais preocupado com alguns pesos que estamos concentrando onde não estavam antes, devido ao processo de acomodação de bilhões de anos.
E essa preocupação reaparece em mim, com mais força, sempre que ouço falar sobre a construção de uma nova grande barragem para implantação de uma nova usina hidrelétrica (as famosas UHE, tão necessárias para a manutenção do modo de vida que construímos).
O motivo da vez é a notícia de abertura de processo para elaboração de estudos de uma UHE no rio Araguaia, próximo de Torixoréu-MT e Baliza-GO. Prevista para ter uma calha de 01 km de largura por aproximadamente 120km de comprimento e, (se não estou enganado) com profundidade média de cerca de 40 metros, se construída, essa barragem cortará aproximadamente seis municípios.
Mas não quero falar sobre ser contra ou a favor da construção de UHEs. Nem sobre todas as possibilidades de geração de energia que existem. Nem mesmo sobre o “encaixotamento” do MEU Rio Araguaia. Tampouco sobre o sacrifício de hábitos, costumes e tradições das comunidades humanas que serão forçados a se deslocarem, ou da supressão de espécies de vida animal e vegetal que terão seus ambientes inundados (pelas características do projeto, esses impactos podem até ser menores que na maioria dos empreendimentos do gênero). Sobre tudo isso, e ainda sobre o fim das subidas dos grandes cardumes, que tornam o Araguaia um grande fornecedor de peixes, espero poder falar nas audiências públicas. E espero que as populações de Barra do Garças, Aruanã dos demais municípios que, além dos benefícios ambientais que o Araguaia oferece, lucram também financeiramente, se posicionem com firmeza. Aqui, nesse meu “devaneio” pretendo me ater apenas nas brincadeiras propostas no início.
Então voltemos a elas. Agora com um pouco de matemática. Se 1 litro de água, pesa 1 kg, e se em um metro cúbico cabem mil litros do precioso líquido, então em 1m3 cabem exatamente uma tonelada. Correto?! E se a calha é prevista para medir 1000m x 120.000m x40m, então terá um volume de 4.800.000.000m3 (como mesmo que se lê isso?), acumulando um peso de 4.800.000.000 toneladas onde antes não havia esse peso todo. So por isso eu já me permito ficar assustado. Mas meu medo cresce muito, quando me lembro de todas as barragens construídas nas bacias dos rios Paranaíba (so em Goiás os rio Verde, Claro e Correntes quase nem corre mais, devido à quantidade barragens construídas ou planejadas). Ainda tem as do São Francisco, do Tocantins e as do Complexo Madeira. Meu Deus...
E o que é pior, ao menos pra mim, é que não vejo esse tema ser discutido nos estudos. Não ouço falarem sobre as conseqüências da pressão do enorme peso para o interior do planeta, e não apenas na superfície. Será que estou paranóico? Essa minha preocupação não tem nenhuma razão de ser? Gostaria de ouvir alguma opinião bem fundamentada, para me tranqüilizar, ou quem sabe me desesperar de vez.
Sei que a supressão da cobertura vegetal é crítica. Que o aquecimento global, decorrente da queima de combustíveis fósseis é grave e que a produção cada vez maior de lixo, seja reconhecidamente inútil ou alguma inutilidade chique e desnecessária, também deve ser controlada. Mas não sei se são apenas essas as causas de catástrofes naturais como os últimos tsunamis, grandes terremotos e tempestades com ventos cada vez mais fortes. Tenho pensado que isso pode ser, também, a nossa baiana se requebrando pra manter o equilíbrio desse nosso tabuleiro.
Estou totalmente errado, ou faz algum sentido?
           Sirvam-se de acarajé, mas coma somente o que for necessário.

25 de jan. de 2009

Nota publicitária

“Deriva: poesias e idiossincrasias” é fruto maduro de uma caminhada artística de vários anos, de longas reuniões e bate-papos, de observações estendida ao ser humano, tem como fio condutor a autenticidade bairrista de quem vive e peleja pelo seu povo, pela preservação de valores. Apresenta-nos forte sentimento recortado por um sutil ecletismo que prende o leitor e o faz perder a hora ..."


 





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Boa leitura.




22 de jan. de 2009

Da Série "Pequenos contos"

Com sabor de café

Reduziu a velocidade, com cuidado foi encostando próximo à margem do rio. O Sol da tarde, meio escondido na alta vegetação ciliar fazia desenhos na água, e algumas sombras na areia, o que amenizava um pouco o intenso calor, constante na região.
Há muito que ele não passava por ali. A vida o havia levado para longe. Por outros caminhos. Mas Pedro sempre se recordava dos vários momentos vividos naquela cidadezinha. E lembrava com saudades.
Apesar de não estar vivendo tão longe, não encontrava oportunidades para que viesse matar as saudades. Nem oportunidades nem tempo. Coisas dessa vida louca, na qual a maioria de nós está mergulhada hoje em dia, e que nos impede de viver verdadeiramente.
Tinha também um certo medo. Acreditava que ao retornar àquele lugar muitas coisas do passado seriam afloradas, não apenas como lembranças, mas como sensações presentes. E ele não sabia bem como reagiria a tudo isso.
Relembrando vários momentos vividos ali, ele tirou os sapatos, dobrou as calças até os joelhos, e saiu do carro para caminhar um pouco pela areia escura.
Queria respirar aquele ar novamente, e molhar os pés naquelas águas outra vez. Caminhou lentamente, sempre ao alcance das pequenas ondas. Em alguns trechos molhou até quase os joelhos. Estava absorto, sem pressa. Olhava a paisagem toda, mas via mais o que vinha na lembrança de momentos pretéritos.
A brisa morna acariciava seu rosto, e ele quase sentia o doce hálito experimentado em outros tempos. Mais de uma vez pegou-se olhando para o lado, na esperança de encontrar aqueles olhos tímidos, e meio assustados, mas, lindos, fortes e profundos. O velho perfume era sentido como se ela estivesse ali.
Durante sua caminhada Pedro foi lembrando das informações que recebeu de Tânia em todos os momentos que passaram juntos. Sua companhia era sempre uma gostosa aula sobre o lugar, sua história e geografia. Tânia era tão apaixonada por aquela região que até parecia ter nascido lá.
Lembrou-se que, enquanto caminhavam, algumas vezes Tânia tinha os cabelos agitados pelo vento, o que a forçava um gesto constante de retirada dos fios que insistiam em cobrir seu rosto. Fazia isso sempre com a mão esquerda, de uma forma delicadamente bela, ao mesmo tempo em que interrompia um pouco o que estava falando, e sorria de forma marota. Era lindo de se ver. E ao lembrar Pedro sorriu como sempre fazia.
Ao esboçar aquele breve sorriso, Pedro sentiu um nó se formar em sua garganta. Ele engoliu seco e sentiu uma lágrima quente escorrer do seu olho esquerdo e morrer no canto de sua boca. Era salgada, mas lhe pareceu ser a coisa mais amarga que já experimentara.
Caminhou um pouco mais, aproveitou um remanso, se agachou, molhando parte de sua calça, pegou um pouco de água com as mãos e lavou o rosto.
Um pássaro voou mais próximo, ele se distraiu um pouco, sorriu, encheu-se com aquele ar morno e puro, como se alimentasse alguma coisa dentro de si. Fato verdadeiro, pois aquele não era apenas um ar cheio de recordações. Era puro, como não se encontrava onde morava agora. Orgulhava-se de conhecer aquele lugar. Alegrava-se em saber que lugares como esse ainda existia. Orgulhava-se também por se sentir, de certa forma, colaborador para que aquela natureza fosse mantida. Sabia que seu trabalho não havia sido o mais importante, mas reconhecia que contribuiu um pouco, de forma significativa.
Mas agora o que importava era respirar aquele ar puro, e sentir tudo que ele trazia.
Uma balsa passou descendo o rio, levada apenas pela correnteza, ele observou tudo que podia ver. Homens pescando, algumas crianças se movimentando e, até uma garota de biquíni azul, estavam a bordo. Não reconhecia nenhum daqueles rostos. Nem poderia, não conhecia muita gente ali e fazia vários anos que não passava por aquelas bandas.
Agora vivia em outro estado, na capital. Fazia outros trabalhos, se relacionava com outras pessoas. Só não nadava em outros rios. Na verdade não molhava os pés em nenhum rio fazia tanto tempo. Sentia falta disso, e das botas sujas, do antes inseparável boné, do Sol queimando o rosto, de caminhar longos trechos se arranhando no mato, das estradas esburacadas, das cidadezinhas com menos de dez mil habitantes. Tinha saudades de falar com grupos de pessoas dessas cidades, até da falta de comprometimento da maioria, ele tinha saudades. Das broncas que por vezes era obrigado a dar em alguns dos colegas. Mesmo com seu jeito divertido e descontraído às vezes conseguia ser mais firme. Chegava a ser engraçado quando isso acontecia. Com Tânia então, era mais engraçado ainda. Ele percebia o jeito embaraçado que ela ficava, mas também percebia como ela gostava da situação. De vê-lo tendo que ser duro. Ela sabia que ele precisava se esforçar, por isso gostava.
Foi uma época muito boa aquela. Fizera muitas coisas boas. Mas, o que mais o acompanhava nas lembranças era o tempo que passaram juntos.
Pedro gostava de lembrar do sentimento que tinha. Sabia que houve reciprocidade. Apesar de rápido, e de aparentemente superficial, foi muito intenso e verdadeiro. E, ele conseguia sentir o quanto Tânia o amava. E aquele amor, apesar de proibido, era tão gostoso e lhe fazia muito bem.
Com aquele jeito meigo e suave ela tinha uma força incrível. Diversas vezes foi seu porto mais seguro. A cada vez que ia encontrá-la se alegrava mesmo antes de chegar. E quando estava longe, contava os dias para retornar.
Mesmo não a tendo tão plenamente como desejava, ainda naquele momento, caminhando às margens daquele rio largo e manso, ele sabia que a tinha de uma forma tão completa quanto jamais tivera alguém. E, de alguma forma, sabia que ela também havia se entregado tão plenamente como nunca se entregou antes.
E foi tão doloroso ter que se mudar. Quando percebeu que começara a se afastar definitivamente dela, sofreu toda dor que se pode sofrer nas despedidas. Por isso também o medo que ele tinha de retornar ali. Temia não conseguir controlar o fluxo de sentimentos, lembranças e desejos que, sabia, o preencheria. Estava certo, agora se encontrava completamente tomado por ela. As lembranças, cada detalhe do corpo, seu sorriso, seu perfume, o gosto doce da saliva. Tudo, tudo estava em sua mente, como se estivesse com ela agora mesmo.
Por fim, desistiu de se controlar. Sentou na areia, à sombra de um grande ingazeiro, baixou a cabeça e chorou.
Tudo que queria era saber como ela estava. Por onde andava. Como estava vivendo depois de tanto tempo.
Pouco depois que ele se mudou, Tânia também se foi. Acompanhando seu marido que fora transferido. Por muito tempo perderam contato. Ficaram sem se falar por mais de três anos. Mas mesmo a distancia e sem ter notícias, não passou um dia sequer sem pensar nela.
Recentemente ele conseguiu alguma notícia e buscou se reaproximar um pouco. Gostava de saber dela.
Com esforço conseguiu seus contatos. Com internet o mundo ficou muito menor. Voltaram a se falar. E, para sua alegria, soube que ela sentia tanto sua falta quanto ele a dela. Confirmando que aquele amor não se mantivera so nele.
Mas, agora era outro tempo. E aquele pequeno ângulo marcado a vários anos provocara um enorme distanciamento. Haviam seguido caminhos diferentes. Estavam envolvidos em histórias complexas e distantes. Seria mais difícil agora.
Já não era só ela, mas também ele tinha outros laços. Enquanto ficou sem notícias, mesmo com ela em seu coração procurou se entregar a outras pessoas. E havia encontrado alguém com quem se sentia próximo o suficiente. E estava casado.
Apesar de se falarem de vez em quando, procuravam manter a distancia física, por saber que, assim como aquelas lágrimas fortes que caiam agora, também o desejo poderia ser incontrolável, caso se encontrassem.
Ele se arrastou até o carro, abriu a porta, sentou-se, ligou o som e colocou uma canção que eles gostavam de ouvir juntos. Do banco ao lado pegou uma garrafa de café, que comprara a menos de duas horas em um posto onde parou para abastecer e se refrescar. A moça da lanchonete estranhou quando ele pediu a ela para encher aquela garrafa, ainda com etiqueta de preço, com um café fresquinho. Ele queria e, fez questão que a atendente passasse um café do jeito tradicional, “como os feito em nossas casas”. Pagou um pouco mais caro por isso. Pegou a garrafa cheia, comprou duas canecas de louça branca, com figuras pantaneiras, e foi embora. Não andou muito até encontrar aquela margem tranquila onde estava parado agora.
Serviu café nas duas canecas. Colocou uma no capô do carro e, como eles sempre faziam quando estavam juntos, tomou aquele café como se fosse o melhor do planeta. O cheiro marcante do café, misturado ao perfume suave que ela usava, tinha perfumado todos os momentos dos dois. Era o que bebiam juntos, e bebiam sempre.
Para ele, tomar aquele café era como fazer uma reverencia à seus próprios sentimentos, ao que ela representa e a tudo que eles viveram.
Saboreou lentamente as duas canecas, não sem antes pedir permissão para beber a dela também. Fechou a garrafa, guardou cuidadosamente as canecas (iria eternizá-las), e seguiu viagem.
Ao sair sentiu novamente, aquela sensação da despedida. Aumentou o volume do som do carro, para não ter que ouvir sua própria voz, pois, queria cantar à plenos pulmões, acompanhando cada música daquele cd que o acompanhara desde os tempos que ela, às vezes andava ao seu lado.
Ao sair, sabia da possibilidade de não voltar mais ali. Sentiu que aquela poderia ter sido a última vez que seus pés tocaram as águas dos rios que cortam o cerrado rumo ao Pantanal.
No banco do carona uma semente de ingá. Ele plantaria aquela semente e cuidaria dessa árvore com carinho. Faria dela um símbolo do amor que sentia, e que era proibido. Quem sabe um dia Pedro conseguisse fazer uma poesia, ou mesmo uma canção, que fizesse todos saberem sobre a existência de certo ingazeiro, e de tudo que ele representava agora. Assim como fez um poeta sertanejo, que cantou o amor por um “Pé de Cedro” plantado ali mesmo, naquela pequena cidade pantaneira.


Da série "Pequenos prazeres ... Mas não haikais"

Falta

Jeito ruim de acordar

Perdi a hora.

O sabiá não veio.

Da série "Lições (quase) aprendidas"

Outro Mestre

Ali mesmo,

Na calçada,

Ele muito me falou.

Ensinou-me sobre o tempo,

Sobre Deus,

E, outro tanto,

Sobre o amor.


Falava com segurança,

Meiguice,

E atenção,

E uma paz tão grande,

Que cada palavra sua

Tocou meu coração.


E, dali mesmo partiu,

_“Não há tempo pra demora”.

Não disse-me onde ia,

Ou se um dia voltaria.

Seguiu sua jornada

Claramente definida.

Foi na direção do vento,

Sem destino,

Mundo afora.


Entristece-me não saber o nome

Daquele sábio,

Meu amigo.

Creio, apenas,

Que era um rei,

Com aparência de mendigo.

21 de jan. de 2009

Sobre o amor que acabou e a dor do rompimento – esclarecimento

Car@s,
Antes de qualquer coisa, agradeço a solidariedade e preocupação manifestada por vários de vocês.
Obrigado! Não se trata de nenhum problema com meu casamento. Eu e Alê estamos bem. Tão bem como se pode estar nesses tempos.
Também não pretendi falar sobre a situação de nenhuma amiga, por mais semelhança que o “desabafo” do primeiro texto dessa “série” possa ter com suas situações reais. Se eu tiver provocado alguma dor, peço desculpas. Se tiver sido útil, fico feliz e agradecido.
O desabafo feminino pode ter a pretensão de servir como incentivo a nós, homens. Para que possamos refletir sobre a forma como estamos tratando “nossas” fêmeas companheiras.
No entanto o enredo imaginado (os objetivos e contextos, consequentemente) foi outro. Abaixo a conclusão.

“Há muito tempo atrás (entre 3 e 4 milhões de anos) aparecemos por aqui. Ficamos conhecidos nessa época de “Australopithecus”.
Fomos bem recebidos, fomos respeitados e a Terra, a companheira que nos acolheu de forma carinhosa, também confiou plenamente em nós. Confiou tanto que nos permitiu usar todas as suas riquezas. Não so usar, como gerir como nos parecesse melhor.
Essa amorosa companheira também se esforçou em auxiliar para que evoluíssemos. E aconteceu. Desde então mudamos muito.
Fomos “Homo habilis”, “erectus”, “sapiens”, “sapiens neanderthalensis” e por fim nos tornamos “sapiens-sapiens”. Mas olhando agora, não tenho tanta certeza de poder afirmar que todas essas mudanças representaram, exatamente, evolução.

Experimentamos avanços. Não questiono isso. Avanços científicos, tecnológico, lingüísticos, estruturais e infra-estruturais. Também passamos por mudanças sociais, políticas e religiosas. Mas teremos mesmo evoluído? A evolução moral e espiritual de que as religiões falam?
Não estou certo. Na verdade tenho motivos para acreditar que essa não tem sido nossa prioridade.
É por isso, e por observar a forma desrespeitosa, cruel e ingrata que temos tratado a Terra (essa companheira amorosa, protetora e benevolente) que ouso imaginar que, se a Terra pudesse falar as limitadas línguas humanas, em nossos dias ela estaria nos dizendo àquelas palavras (parte 01 do referido texto) como forma de desabafo e, também, como ultimato.
E se nós, tivéssemos a capacidade de nos despir um pouco de nossa demasiada ganância, de nossa prepotência e desse orgulho idiota que nos impede de reconhecer nossas falhas, nosso real poder e nossa dependência. Possivelmente teríamos pensamentos, como os que teve o personagem masculino da narrativa.
Mas não aprendemos, ainda, a perceber que somos dependentes dessa que tanto maltratamos. Achamos-nos donos de tudo que conhecemos e, por isso, não percebemos que da permissão que temos para usar os recursos que são dela, sempre dependeu, e depende, não só nossos avanços e confortos, mas nossa própria vida.
Nossa amada não suporta mais ser tratada como está sendo. E está gritando isso. Precisamos aprender ouvi-la. Ou será o nosso fim. Não o dela.
Desde que chegamos, ao contrario do que se esperava, temos sido para a Terra o mesmo que o câncer é para nós. E, o que fazemos com os tumores quando estão em nosso corpo? É o que ela pode fazer conosco, se não mudarmos nossa forma de agir.
Precisamos voltar a nos relacionar com a terra. Não estou falando de uma relação onde ela não passe de fonte de recursos ou matéria-prima. Falo de uma relação de amor. De cumplicidade e cooperação.
Você pode dizer que é um grande erro supor que a Terra seja nossa (minha) esposa/amante. Você prefere achar que ela se parece mais com mãe? Com criadora? Tudo bem. Que seja. Mas se relacione com ela. Fale com ela de suas angustias e alegrias. E, sobretudo aprenda a ouvi-la. A respeitá-la.
É isso ou vamos precisar sair daqui. E alguém aí conhece um outro lugar pra onde poderemos ir? Alguém consegue viver longe da Terra, e de tudo que ela nos oferece?
....
Foi o que pensei.
Ou mudamos agora, enquanto ainda temos chance. Porque depois não vai adiantar “chorar a água desperdiçada”
Nos resta pouco tempo, mas ainda temos algum...”


19 de jan. de 2009

Sobre o amor que acabou e a dor do rompimento – Parte 02

É amig@s,
Eu ouvi tudo que ela disse, sem consegui nenhum reação.
Confesso que fiquei surpreso. Nunca, desde que estamos juntos, ela agiu assim. Dizendo coisas tão duras.
Enquanto ela falava outra coisa nova aconteceu comigo. Eu comecei a analisar tudo que ela dizia. E fui percebendo que ela está coberta de razão.
Deus! Como pude ser tão cego assim. Aliás, tão cego, surdo e insensível assim. Agora me lembro de todas as tentativas dela em se comunicar, em mostrar sua insatisfação. Sua dor. E que eu simplesmente não consegui (ou terá sido, preferi não (?)) reconhecer.
Aqui estou eu, disfarçando tudo que sinto. Exatamente como sempre fiz, para não deixar que percebam minhas fraquezas.
Meu coração está em pedaços. Nunca pensei que respirar pudesse ser tão difícil e dolorido. As lágrimas eu perdi em algum lugar desse meu passado que, so agora percebo, vergonhosamente monstruoso.
E o medo que estou sentindo agora. Tenho a sensação que posso explodir a qualquer momento, para que esse medo possa ocupar um espaço mais adequado ao seu tamanho real.
Ela disse que eu preciso me mudar...
Ela está me expulsando daqui.
Mas pra onde eu posso ir? Como posso viver longe dela? É impossível pra mim. Não consigo sequer imaginar isso.
E eu que sempre me achei muito poderoso, agora estou feito uma criança assustada. E, só agora eu vejo quem realmente tem o poder.
Ela sim, é forte.
Ela disse que se envergonha por ter deixado as coisas chegarem ao ponto que chegou. Nesse momento eu não entendo como ela conseguiu permitir. Como ela pode sofrer tanto por minha causa, sem necessidade? Por que motivo ela se deixou ser ferida, agredida, mutilada, violentada, e ainda me tratar com todo aquele carinho e compaixão? Carinho aquele totalmente puro e verdadeiro, o que me doe ainda mais.
Definitivamente ela me ama muito. Do contrário certamente ela já teria me expulsado daqui a muito tempo. Em seu lugar eu teria acabado comigo.
E ela ainda me dá outra chance, depois de tudo que eu fiz. Depois de todos os avisos que ignorei e dos gritos de dor que fiz questão de não escutar.
E, vejam vocês. Tudo aqui é dela. Tudo.
Eu usei como quis. Gastei, esnobei, destruí, desperdicei. Me senti o dono. E achava que estava fazendo a coisa certa. Ledo engano. Nada é meu, e eu acabei jogando fora o que realmente tinha valor. Estou jogando.
Nesse momento reconheço o quanto sou pequeno (em todos os aspectos). E percebo o quanto ela é grande e poderosa, apesar de preferir não usar suas forças.
Eu vou, meus amigos, recolher toda humildade que ainda houver em meu ser, e tentar reconquistá-la nesses dias que ela me deu.
Preciso trazer de volta a vida que perdi, já que o tempo desperdiçado, esse não tenho mais como recuperar.
Mas se por acaso perceber que minhas fraquezas forem mais fortes que as qualidades, que preciso recuperar em mim, então não me restará alternativa. Eu terei que morrer, e quero fazer isso aqui mesmo. Já que longe dela, até morrer é impossível pra mim.
Que Deus tenha piedade de mim, e me permita me tornar um ser melhor, para que minha amada volte a confiar em mim e, quem sabe um dia, possa até mesmo, se orgulhar.
              Que eu reencontre a Paz

Sobre o amor que acabou e a dor do rompimento... - 18/01/2009 -

Ah meus amigos,
Vocês não podem imaginar a dor que vai em meu coração (e o medo que assola minha alma) agora.
Vejam o que acabo de ouvir, sem ter forças para contestar ou, ao menos me defender. Posto que reconheço que ela está coberta de razão...

“Meu querido,
É muito difícil para mim, mas preciso dizer e, mais do que falar, dessa vez preciso ser forte para fazer o que precisa ser feito.
Não da mais pra nós, meu amor. Não dá mais pra mim. Nosso relacionamento precisa acabar (na verdade acho que já acabou). E o culpado foi você.
Sabe, eu reconheço que foi ótimo quando você chegou em minha história. Você me trouxe muita coisa boa. Durante um tempo fomos sim, muito felizes juntos.
Mas isso foi so no início. Depois de um tempo você mudou muito seu jeito de ser. Transformou-se totalmente. Ficou agressivo, egoísta e, principalmente, ganancioso demais.
Meu querido, não sabe como tenho sofrido todo esse tempo. Você não me ama mais (eu acredito que tenha me amado). Não me trata mais de forma carinhosa. Não me da mais nenhum prazer (me procura apenas quando precisa satisfazer alguma necessidade sua). Nem falar comigo você tem falado. E eu que gosto tanto de ouvir você, e de ser ouvida por você. Mas o que é pior é que nem respeito por mim você tem mais.
Como você pode ter coragem de querer que eu me submeta a ter o corpo tão intensamente, e tão inescrupulosamente explorado assim? E tudo para que você acumule mais dinheiro. Eu que sou sua companheira. Não dá mais. Eu não agüento mais. Tenho vergonha de ter permitido que as coisas tenham chegado a esse ponto.
E não venha me dizer que não sabia que eu estava sofrendo. Você sabia sim.
Não meu amor. Também não é verdade que eu nunca tenha falado o que achava da nossa relação, e que por isso você achava que eu estava feliz. Eu disse sim. Não foram poucas as vezes que eu demonstrei minha insatisfação com as coisas que você está fazendo comigo. Conosco.
Desde quando eu percebi sua mudança que eu tenho tentado fazer você perceber seus erros. No início eu fui sim mais discreta. Sussurrei, falei baixo. Mantive o tom carinhoso. Com o tempo eu fui sendo mais objetiva. Nos últimos dias eu tenho gritado a plenos pulmões. E tenho gritado quase o tempo todo. Mas você se tornou tão egocêntrico que não consegue ouvir nada que não seja sua própria voz. E isso quando lhe é muito conveniente ouvir. Senão nem isso.
Por muito tempo eu acreditei que um dia você voltaria a ser aquele ser doce e adorável que um dia foi. Que recuperaríamos a harmonia e voltaríamos a viver bem. Mas a ganância fez de você todo mal que ela pode fazer. Até violente você se tornou.
Como pode achar que eu esteja feliz sendo agredida diariamente? Tendo meu corpo dilacerado como você está fazendo? Não dá! É impossível ser feliz assim. E chega uma hora que toda criatura se cansa de ser maltratada e reage. Eu já não agüento mais. Por isso comecei a reagir. Estou me descobrindo violenta. E não quero isso pra mim.
E é dolorosamente engraçado perceber que você não entende a fúria com a qual tenho agido às vezes, como reação à suas agressões. Mas como caprichos. Não esperava tanta insensibilidade sua. Não depois de tudo que já vivemos juntos. E tudo isso por dinheiro.
Essa é outra coisa que não consigo entender. Por mais que eu me esforce (e olha que em nome de nossa história eu tenho tentado), não consigo entender por que querer acumular tanto.
Será que não percebe que essa sua riqueza não vai te fazer feliz. Não vê que, não so essa riqueza, mas também a forma que você age para consegui-la me faz tão mal? Não percebe ou não se importa mesmo comigo?
E piora mais quando lembro que eu te ofereço tudo riqueza que você realmente precisa. Quando você chegou, eu fiquei tão feliz que achei uma boa idéia colocar tudo que eu possuía em suas mãos. Confiei em você. Seria mais que suficiente para que os netos dos netos de nossos netos vivessem bem. Más você já acabou com quase tudo. E acredita que está construindo riqueza. Me dói tanto perceber meu grande erro, e sua grande tolice.
E olhe para mim. De tanto ser maltratada perdi quase toda beleza que eu possuía. Meu corpo não é mais o mesmo. Não tenho mais a vitalidade de antes. Não tenho mais as curvas que já tive, nem o perfume que tinha, eu tenho mais.
Eu não deixei de te amar. E por isso estou sofrendo muito. E vou sofrer muito mais ainda. Por muito tempo vou lembrar de como fomos felizes no início. E de como poderíamos ter sido felizes. Mas ao agüento mais. Chega.
Se continuarmos juntos minhas reações serão cada vez mais violentas. Pois não suporto mais tanta dor, e vou revidar cada vez mais (é minha defesa, já que avisos você não escuta). E pelo que vejo, você não está disposto a mudar. Por isso precisamos nos separar. Antes que nos matemos. Pra ser sincera eu acho que tenho mais forças para matar você, que você a mim. Mas não vou quero isso. Não vou ser como você.
Por isso quero que você vá embora. Que se mude o quanto antes.
Não vou ser tão cruel como você tem sido. Vou te dar mais alguns dias, para que encontre um novo lar. Mas, mesmo nesse período, se voltar a me agredir, eu vou revidar. E serei cada vez mais dura.
E, se por acaso me provar que mudou verdadeiramente, posso pensar em reconsiderar, pois te amo tanto, que você nem de longe imagina o quanto. Mas não tente me enganar. Por favor.
Sinto muito meu amor, mas foi você que provocou tudo isso. Foi você que destruiu o que havíamos pensado em construir juntos. Foi você que destruiu o nós, que você e eu um dia fomos. E se não mudar, vai acabar destruindo a você mesmo, também”.

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