29 de nov. de 2017

Atiçado

Faz festa, minha língua.
Não alimenta,
só me atiça.
O sabor de sua saliva!

28 de nov. de 2017

Atracado

Quieto, miro a outra margem
Eu, parado
ela, a cada instante mais distante.
Não remo
não caminho,
ou nado.
Apenas fico
e observo.
Esse abismo nem sempre existiu
E não havia margens.
Nem distância.
Nem essa tristeza no olhar.
Nem saudade...
Mas a vida é dinâmica.
O espaço-tempo se altera.
Cronos não morreu
        (apenas iludiu Zeus),
e segue nos devorando,
enquanto brinca com suas presas,
e zomba de nós.
E hoje esse abismo.
Intransponível,
crescente,
assustador,
profundo,
vazio...
Não há sons,
nem luz,
nem perfume.
Nada.
E, tentar transpor, torna-o ainda maior.
Por isso eu fico.
Apenas fico.
Quieto.
Ativo nessa passividade.
Lá, ao longe,
na outra margem,
ainda vejo as refrescantes águas,
onde já pude repousar,
após navegar bastante.
Aqui, não sinto a brisa.
Mas a distância anestesia.
E, aquele deus brincalhão e devorador
não apaga cicatrizes,
mas cura as feridas,
        (mais um dos seus caprichos).
Por isso permaneço aqui.
Quieto,
apenas fitando o horizonte acima do abismo.
E, em meu coração,
mantenho água,
e sal,
e brisas,
e areia.
Pra nunca esquecer que já naveguei.
E que podia repousar em paz...

23 de nov. de 2017

Feridas

Quis voar.
Sonhar longe,
pisar alto,
mergulhar livre,
sentir o vento nas palmas,
e o sol secando a saliva.
O sal do mar ardendo nas feridas.
Da pele,
do coração,
da alma.
Feridas entreabertas,
semicuradas.
Doloridas lembranças,
chagas-lições,
cortes-memória.
Lembrando-me de erros,
mostrando caminhos,
marcando escolhas ruins,
sangrando cada opção.
E há lágrima,
dor,
desconforto
e angustia
Mas mantenho aberta cada ferida.
Para não me esquecer de quem fui,
Não me perder na balsâmica ilusão,
manter a lucides,
e o aprendizado de cada lição.
E, não desistir jamais
de querer voar longe,
sonhar profundo,
e mergulhar alto.
Com cicatrizes, sim.
Mas livre
     e feliz!

21 de nov. de 2017

Autoria

Na tela branca da vida
rabisco.
Por vezes frases explícitas,
claras.
Outras vezes, obscuras orações.
Mas sigo minha sina,
traçando minhas horas,
rascunhando meus momentos,
rabiscando meu destino.
Caligrafia ilegível,
arial tamanho 12,
Ou belo manuscrito.
Não importa!
a cada pingo,
cada traço,
cada letra,
cada ponto,
ou travessão,
um novo passo.
Já é outro lugar,
Nova sentença,
outro parágrafo.
Um ponto e virgula;
Virar a página,
arrastar a alavanca de retorno,
Novo “enter”.
Se a escrita segue tranquila
letras suaves,
tipos perfeitos.
Se há lágrimas,
borrão,
manchas,
rasuras.
Mas a escrita segue
Pois é minha tela,
meu bloco,
minha resma.
Ninguém mais pode rabiscar.
Podem até me inspirar,
sugerir,
opinar.
Mas, se é minha essa história,
ninguém escreverá por mim.