28 de nov. de 2017

Atracado

Quieto, miro a outra margem
Eu, parado
ela, a cada instante mais distante.
Não remo
não caminho,
ou nado.
Apenas fico
e observo.
Esse abismo nem sempre existiu
E não havia margens.
Nem distância.
Nem essa tristeza no olhar.
Nem saudade...
Mas a vida é dinâmica.
O espaço-tempo se altera.
Cronos não morreu
        (apenas iludiu Zeus),
e segue nos devorando,
enquanto brinca com suas presas,
e zomba de nós.
E hoje esse abismo.
Intransponível,
crescente,
assustador,
profundo,
vazio...
Não há sons,
nem luz,
nem perfume.
Nada.
E, tentar transpor, torna-o ainda maior.
Por isso eu fico.
Apenas fico.
Quieto.
Ativo nessa passividade.
Lá, ao longe,
na outra margem,
ainda vejo as refrescantes águas,
onde já pude repousar,
após navegar bastante.
Aqui, não sinto a brisa.
Mas a distância anestesia.
E, aquele deus brincalhão e devorador
não apaga cicatrizes,
mas cura as feridas,
        (mais um dos seus caprichos).
Por isso permaneço aqui.
Quieto,
apenas fitando o horizonte acima do abismo.
E, em meu coração,
mantenho água,
e sal,
e brisas,
e areia.
Pra nunca esquecer que já naveguei.
E que podia repousar em paz...

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