6 de fev. de 2011

Sobre números, gráficos, planilhas e a vida real.

Ah as estatísticas.
Gosto dos números, tabelas, percentuais e gráficos.
Fica tudo mais fácil de entender, olhando para uma pizza colorida ou para algumas colunas de tamanhos diferentes emparelhadas, ou ainda para aqueles pontinhos, que mais se parecem insetos distribuídos entre uma linha horizontal e outra vertical. Não acham?
É ótimo. Traduzem as informações para uma forma que fica mais agradável de se ver, e esclarece o que os números querem nos dizer.
São fundamentais como subsídio para a elaboração de políticas públicas, ou na tomada de decisão sobre a abertura (ou fechamento, por que não?) de uma nova unidade de empresa privada.
Gosto muito de estatística.
Na verdade isso não é bem verdade. Gosto de ver os resultados finais, por que acho complicado trabalhar com algumas fórmulas. Sabe, encontrar variâncias, medianas, probabilidades, distribuições, médias, quartis, modas, etc... Tudo isso sempre me causou problema na faculdade.
Mesmo assim acho lindo.
Considero importantíssimos alguns estudos e levantamentos. O senso demográfico por exemplo, é de suma importância para qualquer nação.
No entanto alguns dados me surpreendem.
Não pelos gráficos, planilhas e tabelas apresentados, mas por não conseguir enxergar bem em que “universo” os dados foram coletados.
Recentemente os meios de comunicação do mundo divulgaram uma pesquisa realizada pela empresa fabricante de antivírus AVG.
Todos certamente virão os resultados, e espero que todos tenham pensado sobre os números apresentados. Mas como sempre alguém pode não estar sabendo do que estou falando, vou relembrar.
A pesquisa da AVG mostrou que:
58% das crianças entre dois e cinco anos de idade sabem como se divertir com um jogo básico de computador – em países como Reino Unido e França, esse índice supera os 70%. Em comparação, apenas 43% dos pequenos nessa faixa etária sabem andar de bicicleta.
Outro dado interessante: 19% dessas crianças sabem como usar um smartphone como o iPhone, mas apenas 9% sabem como amarrar os sapatos. E 25% conseguem usar um navegador de internet, mas só 20% nadam sozinhos.”
Viram? Nada demais, certo. Reconheço que amarrar o cadarço é coisa complicada mesmo, que leva tempo para se aprender. Por isso eu uso calçadeira, para evitar ter que ficar fazendo a laçada toda vez que calço algum tênis (agora que comprei um Kichute, depois de quase 30 anos, vou ter que lidar com aqueles cadarços enormes, mas tudo bem, vai valer à pena).
Também digo que nadar, é atividade de risco, que necessita de muita segurança, confiança, e a existência de um ambiente adequado. O que pode explicar o fato de eu até hoje não saber nadar como deveria, e justificar o baixo percentual de crianças que nadam sozinhas.
Não discuto isso. A AVG deve ter razão.
Mas, observem que eles apresentam os valores de forma aberta. Como se o universo da pesquisa tivesse sido todas as crianças de todas as classes sociais de todos os países.
Eles não delimitam um universo reduzido. Não dizem, por exemplo “... entre as crianças de famílias das classes A e B...”. Não. Eles dizem todas as crianças.
E é isso que não consigo entender. Na verdade não estou concordando com a AVG (quem sabe por isso eu use Avast nos computadores que uso...).
Os números da França e do Reino Unido, eu não questiono. Mas e no Brasil, isso é real? Será que 58% das crianças brasileiras sabem usar computador, inda que seja só para jogar? Duvido. A grande maioria das famílias brasileiras não tem computador em casa e, mesmo os que estudam em escolas públicas que possuem laboratórios de informática, a convivência com os equipamentos é tão superficial, que não permite nenhuma intimidade.
Ta bom, eu sei, tem as lanhouses. Mas todo mundo acredita que a maioria das crianças pobres do Brasil, frequenta lanhouse diariamente? Não estou falando das crianças das capitais e grandes cidades. Estou pensando em crianças do Brasil inteiro.
Você acha que sim?
Quanto a smartphone, meu Deus, eles já fazem parte da vida de quase 20% de nossas crianças? Que maravilha, não é mesmo...
E, vamos olhar o mundo fora do Brasil. Será que a pesquisa da AVG representa a realidade das crianças da China? Da Índia? Do Continente Africano? Enfim, do mundo?
Por favor, será que o mundo que vejo é tão diferente assim do mundo onde a AVG vive?
Posso estar tendo uma visão tacanha e limitada demais, afinal não sou estatístico, matemático, pedagogo, sociólogo nem apresentador de reality show. Mas me parece que para chegar à essa realidade, os investimentos para a democratização, de fato, da computação e da informática, precisa crescer muito. E os esforços devem ser dos governantes, empresários e educadores, de cada país e do mundo todo.
Definitivamente não concordo com os números apresentados pela AVG, mas torço para que logo eles representem a realidade.
Também acho, é claro, que nossas crianças precisam aprender a amarrar os próprios sapatos sozinhas e mais cedo. Afinal, precisam estar com pés bem protegidos para a jornada que a vida. Além do que ninguém quer que uma criança pise no cadarço e caia, estragando seu laptop, ou o smartphone que leva nas mãos, não é mesmo?

Um comentário:

  1. Decisões com base na pesquisa AVG tendem pela criação da inclusão ciclística e da inclusão cadarcística.

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