3 de mar. de 2024

Urgências

 Me pego tentando me aperceber de mim.

Tarefa difícil.

Quase impossível

Vivo correndo

Sem tempo

Sem espaço

Sem ânimo,

Sem coragem...

 

Temos trabalho demais

Coisas demais

Velocidade demais

Informação demais

Urgência demais

Tudo em demasia

Demasiada superficialidade

Escassa apreciação

Escasso, o prazer

 

Saudade do tempo sem pressa

De quando o mundo era gigante

E o sonho por conhecê-lo nos fazia sonhadores

De pisar descalço o chão

Pés e cara suja

Coração e alma leves

De quando cada ‘agora’ se demora mais

Para ser apreciada

Usufruído

Vivido...

 

Saudade de viver a vida

Ser e ter amigos

Sentir abraços reais, e sem pressa.

Comer fruta em quintais

Poder errar pela cidade

De chegar tarde, às vezes

Poder escolher por mim

Não estar sempre apreensivo,

Prestes a perder um prazo qualquer.

 

Hoje, mundo pequeno

Os ‘agoras’ nem são sentidos

Os dias passam voado

As pessoas passam distantes

O tempo não mais me cabe

O espaço não mais me cabe

O filho, nascido a pouco, se foi

O amigo, sempre distante

Relações fugazes

         Na velocidade de tudo mais

Quando se dá conta, já não é mais

Quando se dá conta, não mais está

Se um dia pudermos nos dar conta, veremos que tudo passou

O tempo

As pessoas

As coisas

A vida

Nós...

 

E, afinal, o que fizemos?

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