14 de jul. de 2010

Sobre alguns possíveis diamantes

Antes de entrar, de fato no assunto que me traz aqui hoje, quero compartilhar com vocês que sou fã de Gonzaguinha. Ta, confesso que o descobri muito tarde. Na verdade eu já tinha passado de 25 anos, e ele já havia morrido. Mas a música dele está viva, e eu me tornei grande fã.
Outra coisa que gosto muito também, é de alguns comerciais veiculados na tv. Gosto tanto que às vezes fico mudando de canal, não procurando programas, mas procurando intervalos. Alguns comerciais, eu acho simplesmente geniais.
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Achei um dente de leite, que guardava desde a infância. Uma lembrança do tempo que fiquei com “porteirinha”. Faz tempo. Esse dente eu não deixei pra ser levado por nenhum ser elemental. Nem deixei minha mãe dar nenhuma outra destinação para ele. Guardei. E agora que encontrei estou querendo juntar com cabelos e unhas cortadas e, sei lá, outras partes do meu corpo que precisam, ou podem ser cortados, (talvez tire o apêndice). Queimar tudo e fazer um diamante. Vi o Pelé fazendo isso e achei ótimo.
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Estou com um problema. Fui passar uns dias na fazenda de uma tia, lá na “Macaúba”, e voltei com um berne (por certo é uma larva de uma mosca). Minha panturrilha está vermelha e com aquela coceirinha chata e boa. Só não sei se devo tirá-lo. Afinal se ela está em mim, é parte do meu corpo, não é?
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Ah, não contei né! Tenho uma amiga que está grávida. Já está de 8 meses e resolveu que não vai querer cesariana. Quer uma amputação natural. Inclusive já até marcou a data. Amputará o bebê no dia 14 do próximo mês.
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Por falar em comercial de tv, ontem vi um muito bonito, da campanha pela aprovação do projeto de lei que legaliza o aborto no Brasil. Nele uma mulher, bonita, fala de algumas conquistas resultantes da luta feminina/feminista. O comercial termina com ela afirmando que o corpo é da mulher, por isso é ela que deve decidir o que fazer com ele.
Achei muito bonito. Mas não entendi bem.
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Já que estou aqui falando de trivialidades, vou aproveitar pra registrar minha opinião sobre a possível legalização do aborto: Sou contrário. E eu não poderia concordar. E isso se deve à soma dos princípios culturais adquiridos em minha formação mais os valores religiosos, da crença que escolhi professar.
Mas não quero aqui ampliar a discussão sobre o aborto e todas as questões morais, legais, éticas, biológicas e teológicas que o envolvem. Quero focar apenas em uma das principais argumentações das mulheres, na defesa dessa idéia. A de que “O corpo é delas, então elas é que devem decidir sobre o que fazer com ele”. Não que eu discorde dessa afirmação. Pelo contrário, concordo plenamente. Tanto que se uma mulher, aliás, se qualquer pessoa, quiser cortar seus cabelos como achar melhor, mutilar partes do seu corpo, ou mesmo amputar algum membro, eu posso até achar estranho. Mas não vou me opor (desde que a decisão seja livre e espontânea), afinal o corpo é da pessoa. Minha dificuldade é por ainda não ter entendido o que as defensoras do aborto querem dizer ao usarem esse argumento. É que vejo duas possibilidades: Primeira, elas entendem que o feto é parte do corpo delas, e por isso podem decidir o que fazer com ele, inclusive podendo optar por extraí-lo. Se for esse o entendimento, então seria o mesmo que afirmar que o berne que está em minha perna é parte do meu corpo, e não um corpo estranho ao meu organismo, certo? Então acho que posso concordar com elas. Afinal posso mutilar meu próprio corpo a qualquer momento, conforme a minha vontade, não é mesmo? Ou seja, assim como posso tirar meu berne, tirar um bicho-de-pé ou cortar as unhas dos pés (coisa que quase nunca faço), uma mulher poderia amputar o feto a qualquer momento. Seja na primeira semana ou no nono mês de gestação, correto? Afinal minha unha continua sendo parte do meu corpo mesmo estando enorme (a ponto de furar minhas meias). Ou será que o fato de ter crescido, ou ter ficado mais tempo comigo, ela deixa de ser parte da mim?
A lembrança de que preciso cortar as unhas dos pés me remete a outra dúvida: Depois que corto meu cabelo, ele deixa de ser meu? Acredito que não. Não nos importamos muito com o que acontece com o cabelo no chão do salão, ou com as unhas no cesto do lixo. Mas podemos guardá-lo, como fiz com meu dente de leite, ou podemos também, vendê-lo, como algumas pessoas fazem com longos cabelos. Mas ele continuará sendo parte do seu corpo. Então, se eu deixar essa larva atingir idade adulta, aqui em minha perna, a mosca ainda continuará sendo parte do meu corpo? E, sendo assim, e como eu devo ter poderes para decidir sobre o que fazer com meu próprio corpo, então a qualquer momento eu poderei decidir por exterminar, ou fazer qualquer outra coisa, com essa mosca (poderia dar um bom diamante), que será um direito meu. É isso? (Fico arrepiado só em pensar...) (Isso me parece contraditório à proposta de alteração do ECA, que quer criminalizar a uso das palmadas disciplinadoras pelos pais. Mas isso é tema para outra conversa).
Mas ainda tem a segunda possibilidade que vejo. As mulheres que defendem esse argumento não entendem que o feto seja parte do corpo delas, mas sim, um corpo estranho. E, sendo elas quem sabe o que fazer com seus corpos, elas querem decidir se permitem, ou não, que esse corpo estranho continue crescendo dentro delas. Isso muda um pouco meu entendimento, e minha opinião. Mas, se for essa a defesa, novamente elas poderão decidir pela expulsão do invasor a qualquer momento da gestação (um invasor é sempre um invasor). Mas surge, ao menos em minhas divagações, um outro problema. Em se tratando de um outro corpo, é um corpo (mesmo em formação) humano, não é? E os seres humanos são protegidos por lei. Ou não? Muitos dirão que um feto ainda não é coberto pelas leis humanas, afinal ainda não é um indivíduo dotado de consciência, personalidade, e outras características de uma pessoa na vida pós-ventre. Mas, quando mesmo, uma pessoa passa a ser “pessoa”? Ao nascer? Ao ser registrado em cartório? Na primeira comunhão? Depois da primeira transa? Resposta difícil de ser encontrada, não é? Sobretudo uma que seja aceita por todos. E esse não é o objetivo agora.
Particularmente não concordo que o feto seja parte do corpo da mulher. Em minha opinião trata-se de outro corpo, que já traz a herança genética não só da mãe, mas do pai também. Então, ao amputar o feto, está se desprezando material genético de terceiros, e isso é honesto e justo com o “doador”?
De qualquer forma, sendo a mulher a única que deve decidir sobre o que fazer com seu corpo, acho que devemos, então, avançar um pouco mais na legislação e legalizar, por exemplo, a prostituição, pois uma vez que, em sendo feito sem exploração por outra pessoa, seria uma atitude de pura autonomia. Ou estou enganado?
Algumas mulheres dirão: “Quem esse Naza acha que é, pra dizer essas coisas? Ele só diz isso por que nunca ficou nem ficará grávido”. Pode ser. Mas saibam que, assim como Gonzaguinha, eu gostaria muito, de verdade, poder engravidar. Ter o poder de ser o acolhedor de uma nova vida que se faz. Sentir as dores da gravidez e a indescritível felicidade de saber que “aquela pessoa” (que tem meus genes, mas que não é só uma parte do meu corpo) cresceu em mim. Pena que não posso.
Concordo sim, que a mulher é dona do próprio corpo, e ela pode fazer um monte de coisas com ele. Para ficar mais bonita, para ficar mais magra e, inclusive, para evitar gravidez. Mas assim como é elas podem decidir tudo o que fazer com o próprio corpo, elas devem concordar que essa noção se estenda a todos os seres humanos. Ou seja, pelo meu corpo decido eu e pelo corpo do feto, decide ele (Nem adianta querer se adiantar com esse argumento aí, pois, se agora ele não pode decidir, em algum tempo ele será capaz. Sejamos pacientes).
Só pra registrar uma outra questão sobre assassinatos, que me ocupa nesse momento. Se alguém me matar hoje a noite, amanhã eu não poderei mais ir ao trabalho. Nunca mais aquela cerveja com os amigos, nem dançar com aquela linda garota que tem habitado meus pensamentos (uns inocentes e alguns impublicáveis). Isso seria assassinato, não seria? E se a dona Felisbina tivesse me expulsado do corpo dela, eu também não poderia. Na verdade não teria experimentado o sabor da boca boa, o cheiro do pequi, a textura da pele arrepiada daquela moça, nem teria descoberto o mundo da leitura e da escrita. Qual a diferença desse caso para a primeira hipótese?
Que Deus nos ilumine.

7 comentários:

  1. Sou Contrária a legalização do Aborto, não acredito que se deva tratar uma vida de forma tão banal, como vc cita o comercial, " se o corpo é da mulher ela deve decidir antes se quer correr o risco de ter uma gravidez ou não".
    Seu artigo leva a refletir não só a legalização do aborto como vários outros valores que estão por trás deste assunto.

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  2. É, bem verdade o que você disse. De modo leve, provocativo, você levantou questões interessantes sobre essa grande polêmica.

    Ainda que mãe e pai queiram interromper a vida do feto, o feto tem direitos (a lei da vida está acima de todas as outras).

    O argumento do "fazer o que quiser com o próprio corpo" é fraco, mesquinho e infundado.

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  3. Naza.

    Parece que a ACROPOLE já lhe promove resultados.

    Tambem estou do lado daqueles que sao contra o aborto.

    E por isso

    CARPIE DIEM FOREVERRRRRRRRRRRRRRR

    Nilton Cesar

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  4. evair da costa nunes16 de julho de 2010 às 18:46

    descriminalizado, ou não, milhões de mulheres continuarão a fazê-lo, em condições extremamente precárias, sujeitas à infecções perda dos órgãos reprodutivos e à morte, descriminalizar, não significa fazê-lo mas dar às jovens pobres as mesmas condições das jovens de classe média e até daquelas que se endividam e seus namorados idem, para pagar as clínicas caras, que atendem à classe média, tornar o aborto não crime, não significa fazê-lo, é como descriminalizar as drogas nem por isso todos se tornarão drogaditos, assim como nem todos se tornam alcooólatras ou fumantes, além disso se trata de fetos até a 12ª semana, três meses, e não no 8º mês, como na sua comparação absurda

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  6. Está certo Evair, descriminalizar não significa incentivar, mas apenas criar condições "mais humanas", certo? Nesse caso sugiro descriminalizar o roubo, bem como o assalto, pois vários "infelizes" ladrões se ferem, e até perdem a vida ao desempenharem seu papel. Assim poderiamos criar condições mais dignas para esses nossos nobres colegas. E, onde mesmo situa a diferença entre uma criança que esteja com 12 semanas de gestação e uma com 9 meses? Seria a presença dos alguns órgãos a mais? então poderíamos definir que, quem perdeu as pernas e os braços, podem ser assassinados sem nenhum problema?
    Desculpa, so não entendi onde reside meu "absurdo"

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  7. Como sempre, seus pensamentos nos instigam a pensar..
    Não digo que sou contra, nem a favor.. Nesse caso, sem nenhuma vergonha, fico em cima do muro meeesmo.. Totalmente..
    Até pq, tem a questão da minha crença em Deus tbm.. E neste caso, eu prefiro não opinar..
    Só digo que é muuito fácil pra qualquer pessoa hoje se prevenir.. Pílula, Diu, e etc.. hehehe.. Se a mulher não usa nada disso, camisinha..
    Furou? Estorou? Pílula de dia seguinte, que pode ser tomada até 72 horas depois do coito..
    Vamos falar sério, agora.. Nos dias de hoje, com toda essa informação, só engravida quem quer..
    Melhor pensar antes, neh?

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