4 de mar. de 2012

Boa viagem

O que muda nossas vidas?
Uma decisão,
Escolher entre um caminho ou outro,
Aceitar ou não um trabalho,
Pedir ou não sua namorada em casamento.
Várias coisas que fazemos, ou não fazemos, muda nossas vidas.
No entanto, não são apenas as coisas que depende de nós, que podem mudar nossas vidas.

Era tarde.
Uma tarde de sábado como todas as outras.
Eu, na casa da amiga Lorena, passar horas agradáveis com ela.
Uma amiga, dessas pra quem se liga quando se está chorando, à milhares de quilômetros, por ter levado um fora de alguém. E que se vai visitar no meio do experiente, só pra contar uma piada que você acabou de lembrar. Uma amiga dessas que te faz viajar cerca de 6 horas só pra no casamento dela, afinal foi na sua casa que ela conheceu o cara com quem está se casando.
Ou apenas uma amiga com quem você as vezes você deita junto, pode estar ou não nus, riem, falar de tudo, choram as vezes, e dormem, sem nem ao menos pensar em sexo. Enfim, era uma tarde de sábado boa pra mim, como boas são as horas passadas com os amigos.
Falamos de educação, filosofia, de Lewis Carroll e sua Alice.
Uma ligação, no entanto mudou tudo.
Mudou minha tarde de sábado. Mudou meu dia. Mudou minha vida.
Nem todo mundo entende isso, eu sei.
Exagero, podem dizer.
Mas eu tinha um amigo. Desses que, como a Lorena, faziam boas minhas horas. Com quem eu compartilhava segredos de garoto, sonhos e medos.
Jovem, ele era. Como eu. Mas não resistiu à falência dos rins.
A ligação me avisava. Meu amigo havia morrido.
Era sábado à tarde. E sábados eram os dias que mais ficávamos juntos. E ele escolheu morrer nesse dia. Me deixando meio órfão.
Desliguei, não falei com a Lorena. Apenas chorei.
Perdia um grande amigo. E, naquela tarde de sábado eu não estava com ele. Ele estava longe. Fora se tratar na capital. Mas não importa, eu não estava com ela.
Ele morreu. E isso mudou minha vida.

Hoje outro amigo ajeitou algumas coisas no porta-malas do carro. Fez isso em silêncio. Não queria falar, ou respeitava o meu silêncio. Ele por certo sabia o que eu sentia.
Terminou de ajeitar. Se despediu, com poucas palavras. Disse que voltaria. E partiu.
Não foi como das outras vezes. Você sabe quando está indo. Não se sabe nunca até quando. Mas que se está indo, a gente sabe. E ele estava indo.
Ele deu a partida, em silêncio, e foi.
Eu fiquei.
E aqui estou, escrevendo esse texto e ouvindo Leoni.
Triste, não é por ter perdido um amigo. Esse eu não perdi.
É que eu sei que algumas partidas mudam nossas vidas.
As nossas fazem isso.
As dos amigos também.
Dos familiares, às vezes, quando o laço de sangue se fortaleceu por opção, e o parente virou amigo.
A forma como escolhemos a família na qual nascemos é diferente da forma que escolhemos os amigos, que são um tipo de irmão, só que por opção.
A cada dia estamos mais velhos.
E pode ser que eu já esteja muito velho para algumas coisas.
Não pra um rock 'n' roll, nem pra uma nova lição de geometria.
Eu posso encontrar algumas amantes, e pode acontecer de uma delas me fazer querer ser seu namorado, e marido. Posso ter filhos, e me divertir com eles.
Mas não sei se tenho tempo para construir novas amizades como a que tinha com aquele cara que morreu em plena tarde de sábado, ou como a que tenho com esse que acaba de partir.
Isso muda nossa vida.
Tenho, felizmente, outros bons amigos.
Dá pra contar com os dedos das mãos. Mas as mãos já são suficientes para um bom abraço. Não é mesmo?
Que minha casa também é dele ele sabe. Meus amigos sabem.
Mas uma partida sempre muda nossas vidas.
Agora é esperar pra ver como essa partida me afetará.
Seja como for, SEJA FELIZ MEU AMIGO.
Esteja em Paz.

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