Não me cabe mais, a roupa que agora visto.
Completamente roto,
O reflexo no espelho.
Esse cabelo, não era meu até a pouco.
Uma barba me cobre a face que sempre carreguei.
Meus olhos, já não me servem, como antes.
Mesmo assim,
Com cuidado,
Me reconheço nesse estranho ser.
Deve, mesmo, ser eu, pois me sinto nele.
Os caminhos que o trouxeram de mim.
Caminhei com outros pés,
Antes vívidos, rápidos, confiantes e seguros.
Hoje, trôpegos, lentos, incertos e inseguros.
Na testa, o pó de tantas estradas.
No bolso, lembranças, saudades.
Memórias de uma vida.
De várias vidas,
Já vividas, registradas em cada marca no rosto.
Em cada sinal do tempo.
No cansaço visível,
Nas lágrimas felizes pelo amor da infância e pela última
grande paixão.
E por todos os amores vividos
entre esses.
E em toda resignação de quem já não briga com a vida.
Nem se assusta com a proximidade da morte.
Resultado das duras jornadas.
Roto,
Cansado,
Empoeirado.
Cabelos albinos e olhos embotados.
Assim o vejo.
Quase não reconheço
Mas aqui estou eu,
seguindo,
cada vez mais lento,
para o próximo que ainda serei.
23/05/2021
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