31 de dez. de 2012

Em 2013...


Novamente precisamos trocar nossos calendários anuais. Pode não ser nenhuma "contagem longa" dos Maias, mesmo assim pode ser o início de uma nova época, trazendo novas possibilidades, ou apenas as velhas rotinas, outra vez. Cada um escolhe o que será.
E nesse novo ano eu prometo...
Não, melhor não fazer promessas de ano novo. Sei que promessas às vezes nos aprisionam, não permitindo que vivamos plenamente. E quase nunca as cumprimos mesmo. Então não farei nenhuma.
Sei que vou meter o pé na jaca de vez em quando, mesmo que agora esteja decidido não mais fazê-lo. Vou me enganar novamente, várias vezes, e de novo.
Mesmo querendo me tornar um adulto equilibrado, sei que vou continuar priorizando os momentos de alegria compartilhados com amigos (não que seja irresponsável, apenas acredito, como as crianças, que a vida pode ser bem mais leve).
Sei que vou me apaixonar, ou direcionar a paixão que existe em mim, por quem não irá corresponder, que não espera ou não deseja. Mas não serei infeliz por isso, e toda pessoa que despertar tais sentimentos em mim, será sempre a pessoa certa.
Apesar dos riscos, dos novos hábitos e da frieza que cresce em algumas relações, minha casa continuará aberta aos que forem do bem. E os amigos continuarão sendo muito mais que bem vindos.
Espero que o ano novo traga prosperidade, e vou continuar trabalhando pra isso, mas sei que poderei experimentar, novamente, dias de provação, e privação, tal como Jesus no deserto.
Excessos sempre poderão ocorrer, afinal sou humano, imperfeito.
Espero ser mais justo, mas posso cometer erros e até ofender alguns, assim como sei que farão comigo. Espero que entendam e desculpem, mas se for difícil, ao menos releve. Do meu lado, continuarei me esforçando para não acumular mágoas nem rancor.
Não prometo pontualidade sempre. Sei que posso me atrasar. Mas continuarei sendo intenso, e verdadeiro, quando estiver.
Espero enxergar todo ensinamento que passar por mim. Mas, claro, sendo aprendiz das primeiras lições, certamente deixarei passar muitas oportunidades de crescimento. Por isso espero contar com quem estiver perto, certo de que serão caridosos e me abrirão os olhos. Também assim espero agir.
Enfim, em 2013 haverá alegrias e algumas tristezas, mas não devemos deixar nada abalar nossa felicidade. Já que ser feliz é nossa principal missão nesse mundo, e nós até prometemos que seríamos.
Que saibamos aproveitar cada dia do novo ano. E que 2014 nos encontre bem melhores que 2013.
Que cada um encontre seu caminho, não por ser um novo janeiro, mas por ser necessário. E que consiga segui-lo a cada novo dia.

22 de dez. de 2012

Sobre como vivo, e o fim do mundo


O mundo não acabou, e não irá acabar agora.
Ao menos não o meu.
Tenho tanta certeza disso, quanto tenho sobre a força da minha oscilante fé, quanto tenho do fato de ser apaixonado, quanto tenho certeza do amor que sinto por minha filha (que diferença faz não serem meus genes que a definem? Por certo os carbonos que a compõe, são exatamente iguais aos que me formam).
Tenho tanta certeza de que meu mundo não vai acabar, ao menos não agora, nessas próximas décadas, por não ter ainda feito todas as declarações que preciso. Por não ter ainda lido todos os livros que merecem, nem ouvido todas as canções que realmente valem à pena. Tampouco dancei todas xotes, salsas, tangos, frevos, reggae e boleros que pretendo (faltam até mesmo alguns “arrocha”). Ainda não consegui escrever meu melhor poema, nem o romance a tempo planejado (que deve ser escrito a quatro mãos, “pelos melhores do universo”).
Se ainda não consegui entrar no mundo, no corpo, na vida, na alma da mulher que agora me encanta, como poderia permitir que meu mundo se acabasse agora?
E, se já passa mais de uma década desde meu último vôo, como pode meu mundo se acabar? Não deixo esse mundo sem sentir o vento no rosto, suspenso no ar, levado pelo vento, preso a um parapente.
Claro, antes de novos vôos devem acontecer vários rapéis, noites dormidas sob as estrelas, ouvindo o som da noite no cerrado e o murmúrio de algumas cachoeiras.
É, definitivamente, meu mundo não acaba hoje. Nem nos próximos anos ou décadas. Pode ser que acabe um dia, em um futuro muito distante, quando tudo que eu disse e fiz deixar de ser lembrado, quando meus poemas repousarem eterna e serenamente no céu dos textos esquecidos, quando as histórias que conto não mais tocar a ninguém e, quando os filhos dos filhos de meus tataranetos desistirem de terem filhos. E agora falo dos meus próprios genes, o que dá uma sobrevida para minha história, já que minha única filha, até o momento, é a já citada acima. Os demais ainda estão por nascer.
E ainda tem Bonito, Fernando de Noronha e vários outros lugares a visitar. A planejada noite nos Lençóis Maranhenses, com alguns poucos amigos, ao redor de uma fogueira e ao som, e na companhia, do Baleiro?
Quem sabe ainda comprar um lotezinho em Alcinópolis, ou em Alter do Chão, construir uma casa simples, e envelhecer tranquilo.
É, ainda tenho muito o que fazer, antes que meu mundo acabe. É bem verdade que protelo alguns sonhos e planos, alguns por impossibilidade de realizá-los por ora, mas tem outros que protelo deliberadamente, e também estou sempre plantando novos, para não ter motivos de me sentir entediado com a vida. Contudo não tenho uma lista de coisas que faria caso soubesse que o mundo fosse acabar amanhã. Não que eu não fosse fazer nada. Apenas não creio ser necessário mudar minha rotina. Tenho bons amigos por perto, minha família tem a união que acho na medida certa para as famílias, sempre digo quando gosto de alguém, não fico deixando pra me declarar depois. Também procuro me desculpar sempre que sinto ter agido de forma indevida com quem quer que seja. Não sou perfeito, mas minha gentileza me agrada, e a forma com que me relaciono com todos me parece correta.
Cometo erros, acertos, tenho alegrias e tristezas, surpreendo pessoas, positivamente ou não, proporciono e sinto prazer, durmo sozinho ou acordo com belas mulheres. Mas, o importante é que faço tudo enquanto estou vivendo hoje.
Tenho certeza que meu mundo não se acabará. Mas deixo o amanhã pra depois. Vivo exatamente o momento que realmente tenho, e assim tenho poucos motivos para me arrepender, ou me entristecer, caso meu mundo resolva me surpreender, e acabar à minha revelia. Seja como for, prefiro estar preparado, com o coração em paz, a alma leve e o espírito em Paz.

5 de dez. de 2012

Sobre marcas eternas e referências perdidas


Me mudei pra Mineiros quando tinha cerca de cinco anos.
Moramos, eu e meus pais, com minha avó materna por alguns meses. Poucos meses. Depois em alguns barracos na cidade, até chegarmos onde passei a maior parte da minha infância e toda adolescência. Na verdade só saí da "baixadinha" depois de adulto.
Quando chegamos não existia casa. Era só um terreno pequeno, em um loteamento que ainda estava sendo vendido. Minha mãe se esforçou muito pra conseguir garantir o nosso. O loteamento era dos padres beneditinos, e eu acompanhei minha em sua "via crucis", indo diariamente à casa paroquial da cidade, enfrentando uma fila enorme, de outras mães e pais de família, igualmente sem casa própria. Como era longe, e a igreja dizia que o loteamento era para ajudar famílias sem condições de comprar suas casas, o processo de análise foi rigoroso, demorado e chato. Mas enfim, minha mãe conseguiu.
Não tardamos a tomar posse, efetivamente, do nosso quinhão.
Meu pai ergueu, em um dia, um barraco constituído de três grossas toras de madeira, duas servindo de colunas centrais e uma fazendo a vez de viga, na cumeeira. Daí foi só espalhar algumas tabuas fixadas com pregos, desenhar uma porta e uma pequena janela, cobrir com telhas francesas, em duas águas, e estava pronto o que seria nosso lar por alguns anos. Vários anos. Era um único cômodo, não ocupava mais que 12 metros quadrados, mas foi mais que suficiente para suprir a falta de segurança que meus pais tinham, durante o tempo que os barracos eram alugados. Eu não entendia nada disso, lá por volta dos meus seis anos, mas esse fato deve ter trazido um bom aporte de dignidade e autoestima para minha família.
O loteamento foi, aos poucos sendo ocupados por outras famílias, em outras casas. Maioria, maiores e mais "bonitas" que a nossa. Mas e daí? Pra mim eram apenas casas. Todas eram. Mais tarde, na adolescência, fase em que, ao sairmos do mundo mágico das fantasias reais de criança, isso me incomodou um pouco, mesmo já não existindo mais o velho barraco de madeira, e sim uma grande casa de alvenaria, simples e inacabada. Por sorte a adolescência é só uma fase, e a minha passou rápido.
A "baixadinha" não tinha asfalto. As ruas eram de terra batida, como o chão do nosso barraco. Nelas nós, as crianças que aos poucos iam se mudando pra bairro, podíamos passar o dia inteiro brincando de qualquer coisa. De futebol, com golzinhos marcados com pedras e tijolos, a guerra-bandeira, passando por polícia e ladrão, caça ao tesouro, competições de saltos, e outras brincadeiras que nos fizesse a correr sob o sol o dia todo. Também tinham as pipas, digo, papagaios, feitos com qualquer papel que se conseguisse, varetas feitas por nós mesmos, de bambu e coladas com piche que buscávamos no centro da cidade. Nós não comprávamos. Bastávamos esperar um dia de sol bem forte, e com uma lata usada de qualquer coisa, ou mesmo uma colher, conseguíamos arrancar porções generosas de um trecho do asfalto.
Outro passatempo muito apreciado era as aventuras no mato. Com uma caminhada de dez minutos, já teríamos deixado a cidade cerca de dez minutos distante. Poucos quilômetros e tínhamos vários córregos e riachos, com cachoeiras, onde gostávamos de ir.
No limite da "baixadinha", logo da própria cidade, tinha o maravilhoso "esbarrancado". Era uma grande erosão que cortava quase toda extensão do bairro. Indo do ponto mais alto até chegar no córrego "da bosta". Cerca de seis quadras. O esbarrancado não era muito fundo, mas era comprido e, como éramos crianças, ele tinha o tamanho exato para um sem fim de infinitas aventuras.
A família Carrijo morava na última rua da "baixadinha", ao lado do esbarrancado. Eles já moravam lá quando nos mudamos. Eles já moravam lá antes do loteamento dos padres. Acho que eles sempre moraram lá. Em pouco tempo fiquei amigo dos mais novos da família. O "Nenêgo" já era adolescente quando eu ainda era criança. Mas ele, e toda família eram muito gente boa. Ainda são, apesar de eu não os ver, nem falar com eles há anos.
Abaixo da casa da família Carrijo tinha os Fialho, que eu adotei como uma segunda família por muito tempo. Eles também moravam no limite do bairro. Era só atravessar uma estreita rua de cascalho, pra chegar ao esbarrancado.
Entre a casa do "Nenêgo" e a casa dos Fialho tinha uma estrada que ia para as chácaras e fazendas vizinhas. Só mais tarde, quando já estava grande, lá pelos nove ou dez anos, é que eu me aventurei um pouco mais por essa estrada. Antes disso o limite era mesmo o esbarrancado.
No início dessa estrada, bem no iniciozinho mesmo, tinha uma árvore seca. Ela já estava seca na primeira que eu a vi. Ao menos é assim que eu me lembro. Ela ficou lá, seca, por alguns anos, o que para uma criança equivale a quase décadas. Era uma referência de localização: "Onde nós vamos nos reunir na volta pra casa?", "uai, lá na árvore seca".
Aquela árvore estava morta, eu tinha certeza.
Anos mais tarde, continuávamos brincando no esbarrancado, e eu já andava por quase toda extensão da estrada do seu Sete. Só não ia, ainda, até a pedreira que ficava no final dela. Lá era um tipo de local proibido. Um belo dia, lá pelo mês de novembro, quando voltava lá das bandas da chácara da dona Dórva, eis que eu me deparo com uma coisa totalmente inusitada. A árvore seca estava completamente coberta de folhas verdes. Com novos galhos. Plenamente saudável. Me assustei. Parei admirado, e sem entender.
Me disseram que era uma aroeira. Eu não tenho certeza. Era apenas uma criança, e não era engenheiro florestal, nem mateiro. A bem da verdade, hoje eu também não sou nem um, nem outro. O mais próximo de mateiro que cheguei foi quando pensei em ser botânico, ou quando era criança mesmo. O Fato é que a velha árvore nunca mais secou. Não se tratava de uma espécie caducifólia. Ela não perdia as folhas no outono, ou no inverno, pra recuperá-las na primavera. Ela simplesmente ficou seca por anos e, um belo dia me apareceu refeita.
Durante muito tempo aquela árvore continuou sendo referência para mim, mas não mais apenas como referência de localização, mas de força e poder de regeneração.
Eu Já era jovem quando o asfalto chegou na "baixadinha", e quase adulto quando o esbarrancado deu lugar à uma avenida de duas pistas, e foi batizada de avenida contorno. Eu não usava mais piche para fazer meus papagaios. Na verdade, nunca mais empinei uma pipa, depois que passei pela adolescência (é, talvez ela não tenha passado, assim tão rápido, por mim). Mas continuava frequentando a casa dos Carrijo (os Fialho se mudaram depois de alguns anos, pro outro extremo), e a velha árvore continuou lá, verde, forte e viva por todo tempo que eu continuei frequentando aquela parte da "baixadinha".
No dia três de novembro de 2012 meu amigo Demerval, um paranaense que viveu em Alto Araguaia e Alto Taquari, no Mato Grosso, que eu conheci em Mineiros, e que hoje vive em Cachoeira Paulista, não por razões de fé, mas pelos mistérios da ciência, se casou (espero que pelas razões misteriosas do amor). O Enlace foi em Mineiros. Eu fui padrinho. Então estive lá, depois de vários meses. Acho que uns 18 ou 20.
Me hospedei na casa da irmã que ainda vive lá. Não mais na "baixadinha". Ela nunca gostou, e eu entendo.
Visitei alguns amigos, outros não encontrei.
Como não podia deixar de ser, passei um tempo com dona Pequena, sempre o melhor momento dos esporádicos retornos àquela cidade, que ainda gosto muito. Mas que já gostei bem mais.
Antes do casamento do Demervas, resolvi fazer um passeio pelo meu antigo reduto. Quis saber como está a boa e velha "baixadinha".
Qual não foi minha surpresa ao ver que os loteamentos já chegaram à velha pedreira, e que a estrada do seu Sete agora é uma avenida asfaltada. Tem asfalto até quase a "chácara velha", local onde, no tempo certo, íamos buscar manga comum, pra comer, fazer doce ou deixar perder em nossos quintais.
Agora tudo é asfalto, casas, comércio...
Ao menos parte da família Carrijo continua lá. O Nenêgo, não sei por onde anda. Mas está vivo, disso eu sei.
Uma coisa, porém, novamente me abalou, ao entrar na estrada que começa logo abaixo da casa dos Carrijo, antes da casa onde moraram os Fialho. A velha árvore não está mais lá. Ela que era pra mim sinônimo de força e sobrevivência, não resistiu à força do progresso. Sucumbiu na luta do homem por avanço e modernidade.
O casamento do meu amigo foi divertido, desconsiderando minha dificuldade de entendimento com a moça escolhida pra me acompanhar no apadrinhamento. Me diverti bastante. Encontrei bons amigos. Dancei, cantei, comi, bebi, trabalhei e cortei o colete. Mas a sensação de ter perdido mais uma referência esteve comigo o tempo todo. Está aqui ainda, e agora mesmo.
Dona Romana já não está entre nós. O Povoado do Cedro está sendo alcançado pelos loteamentos e condomínios. Logo perderá o pouco de suas características originais, que ainda possui. E, ali, espremida entre as mansões do Bairro Martins, outra referência minha vai perdendo forças. Seu pequeno quintal ainda é um tipo de oásis de simplicidade, simpatia, a conchego e biodiversidade vegetal. Ela não tem lá uma aroeira, ou seja lá que árvore era aquela. Mas, como ela, vem resistindo às pressões do progresso, sobretudo do mercado imobiliário. Mas, até quando?
Em breve ela não estará mais entre nós. Afinal as pessoas vivem menos que as árvores, se essas não forem derrubadas prematuramente.
Da velha árvore da "baixadinha" não restou nada. Da dona Pequena pode restar a coleção de plantas, o conhecimento, as histórias e os causos. Só precisa que a cidade reconheça a importância do seu legado. Ainda há tempo para catalogar conselhos, receitas e ensinamentos. Gravar prosas e boas estórias. E, o auge da minha vontade, e dessa campanha, tombar a pequena casa da esquina das Avenidas sete com Segunda Avenida, e transformá-la em um museu, dedicado à memória de dona Pequena.
Em alguma parte de mim, junto com algum torrão de piche, grudado para sempre, está a lembrança da boa surpresa que uma velha árvore, que eu sabia morta, pode causar a uma criança, pelo simples fato de manifestar, tão explicitamente a vida. Aquele é um dos momentos que nunca sairão de mim. Ela não está mais lá na "baixadinha", mas ainda é uma referência.

4 de dez. de 2012

Tempo bom


Agora faz sol,
Depois da chuva.
Em minha pele, tantos secaram.
Se a velha música ainda me traz velhas lembranças,
Há novas canções...
O frio na pele não é o mesmo do estômago,
E o brilho que me encanta,
Já não me cega.
Se não tenho som de riachos,
Nem suave gorjear,
É o burburinho da cidade que hoje me desperta...
É, choveu na cidade quente,
Mas veio o sol, pra nos evaporar.
Na língua novos sabores,
Enriquecendo o paladar.
No peito, cheio de novas ausências,
Bate o mesmo coração,
Que, por ser congênito, não tem remédio.
Condenado a não se apaixonar,
Pois já nasceu apaixonado.
No rosto, 
As novas/velhas marcas tentam me convencer de tanta coisa que já sei.
Se sei, não estou tão certo.
Mas é certo que vivi.
E nem importa se não ficaram pegadas nos caminhos que passei.
Importa ver as marcas de todos bem aqui,
Tatuadas,
Gravadas,
Escritas em mim.
Com rastros, 
Poeira,
Ensinamentos,
Experiências
E gratidão.
O estranho já quase não o é.
No espelho, me reconheço hoje muito mais que antes.
Já quase sei quem sou.
Boa parte já foi.
Quem sabe a metade.
Mas, se metade não é o todo,
E se sempre haverá outras chuvas,
Depois de grande seca.
Sigamos.
Pois agora faz tempo bom.
Com chuva lá fora,
Seguida de sol
Pra garantir que teremos fotossíntese,
                                  Alimentando sonhos, esperanças e amores (... )
Sempre, depois de cada osmose!

3 de dez. de 2012

Linda


E, de forma inesperada, a beleza se mostra.
Suavemente passa,
Vai e volta.
E fica ali, sem esforço.
Talvez até sem intenção
                (não sem vontade)
E fica.
Quieta.
Apenas sendo ela mesma.
Apenas sendo bela...

19 de out. de 2012

Com todos os sentidos


Ao encontrar você
meus sentidos se alegram.
Meu corpo sorri, ao sentir você chegando,
com seu perfume, que chega colorindo todo ar.
Minha alma se cala, pra ouvir seu olhar,
minha pele faz festa, com o seu paladar,
meus olhos felizes, ao te acariciar,
me alimento com gosto,
do sabor tão gostoso, que é te ouvir falar.
Vem, fica perto.
Quieta ou dançante,
de qualquer forma és musa.
De ti, quero tudo,
mas o simples por hora me basta.
Então vem.
Dê um sorriso, um olá
E, suavemente me abraça...

18 de out. de 2012

Confidências...


Tantos bons momentos em mesa de bar,
prazeres em diferentes madrugadas,
preguiças em tardes de domingos,
giros em diversos salões.
Estrelas contadas, e escolhidas, em noites livres,
abraços aconchegantes, em momentos difíceis,
beijos inesperados, em plena tarde de segunda.
Flores,
bombons,
cervejas,
poemas em guardanapos,
sussurros eróticos ao pé de ouvido.
Tantas confidências compartilhadas,
segredos confiados,
uns inocentes, outros nem tanto.
E assim foi nosso tempo.
Nos mostramos um ao outro,
como quem se descobre a cada dia.
Foi quase sua, minha biografia.
E te conhecendo me conheci.
Sabes tanto sobre mim,
e eu sei tudo de você.
Não publicarei seus segredos,
sei que não contarás os meus.
Quanto a isso, sou tranquilo.
Temo é que o tempo apague tudo,
e me faça te esquecer...

17 de out. de 2012

Meras sombras dos heróis

Passado o tempo da magia,
não havendo mais castelos,
nem amigos imaginários,
sem dragões para enfrentar,
fica a capa pequenina,
no fundo de qualquer gaveta.
Ficam poucos sonhos,
antes quase realizados,
hoje impossíveis,
ou “ridículos”.
Se não há mais fantasia,
nem brincadeira em plena rua,
ou riso fácil,
de alegria compartilhada.
Fica a certeza que envelhecemos,
a frágil força dos adultos,
necessidades tão supérfluas,
limitações falsas, impostas
(essas besteiras sociais).
E fica, sobretudo, o medo
d nunca mais poder brincar.
De ser ridículo, pra ser feliz.
De não aproveitar o que nos resta.
E o pior dos medos,
não o da morte, pois essa é certa,
e nos redime,
Mas da amargura,
Da solidão...

15 de out. de 2012

Por que somos todos aprendizes


É isso meus amigos. Vamos tentando nos ensinar a aprender...
Tentando promover algumas pequenas mudanças positivas, no mundo.
Dando nossa contribuição para tornar o mundo um lugar um pouco melhor a cada dia.
Seguindo os passos dos verdadeiros mestres que já passaram, e dos que estão agora mesmo, em nossas vidas.
Uma nova lição a todo instante. Algumas das quais sabemos, somente serão compreendidas no futuro.
E vamos nos alimentando de fé (na vida, nas pessoas, na possibilidade de mudança, na força das novas descobertas, na beleza do saber, em Deus, se Ele existe pra você, enfim, fé em tudo que possui energia para mover o universo), posto que ela é fonte de energia que ajuda a nos manter firmes.
Pode ser que não haja recompensa material, e isso não é bom e deve ser mudado. Mas há prazer em ser parte do leme guia a humanidade.
Nem sempre haverá reconhecimento, mas sempre haverá consequência. Não podemos nos esquecer disso.
E, mesmo que não seja tão imediato quanto o circular as informações em nossos dias, as lições serão aprendidas, inclusive por quem ensina e, o mundo nos qual acreditamos, e do qual somos construtores, se tornará real.
Parabéns e obrigado a todos os professores...
15/10/2012

29 de set. de 2012

Refúgio...


Ele a abraçou. Aconchegou a cabeça dela em seu ombro, e apertando com firmeza, carinho e cuidado, sua cintura.
Ela ainda estava triste, mas o medo começou e se dissipar  naquele exato momento. Ela sabia que estava segura.
Algumas lágrimas ainda caíram, mas em pouco tempo ela já estava bem mais calma.
Aquela serenidade que conhecia tão bem a envolvia novamente. E nada nesse mundo lhe fazia tão bem. Não havia, em todo mundo, melhor lugar para se estar, do que aquele abraço. E ela ficou ali, por algum tempo.
Coisas ruins acontecem o tempo todo, a todo mundo e em todos os lugares. Com ela não era diferente. Perder a mãe não estava nos planos. Não ainda. Afinal sua mãe era uma senhora ainda bem jovem. E sempre foi muito saudável. Mas os infartos não escolhem pela aparência. E a escolhida da vez foi a bela mulher de 53 anos.
Foi forte o quanto pode. Cuidou das coisas práticas. Recebeu familiares e amigos. E, apesar da própria dor, procurou confortar seu pai. Mas após o enterro, ao chegar em casa, sentar-se à mesa da cozinha, tomando um copo de água, nesse momento ela se deu conta. Foi só aí que “sua ficha caiu”. E ela chorou desesperadamente.
Ao ouvir seus soluços ele veio. Chegou em silêncio, pegou sua mão, a abraçou, do jeito que sempre fazia. Deixando seu corpo inteiro gritar que ele estava ali, com ela para compartilhar tudo, e para sempre.
Quando se abraçavam assim, nenhuma palavra precisava ser verbalizada. Ambos sentiam a intensidade do amor que tinham um pelo outro, e por si mesmos. Graças ao amor que recebiam um do outro, aprenderam a valorizar o amor que cada um sentia por si mesmo.
Bastava um abraço e, se os problemas não se resolviam, com certeza eles se alimentavam de força para enfrentá-los.
Após 11 anos de casamento, alguns esperariam que isso houvesse mudado. E mudara. Se tornava a cada ano mais intenso, verdadeiro e presente. Se é que fosse possível aumentar as demonstrações de carinho entre eles.
E não importava o que os outros esperavam ou pensavam. Eles sabiam o que sentiam. Dividiam isso de forma tal, que nem pensavam em viver um sem o outro. Era aquele abraço que lhes davam força para enfrentarem problemas, para criarem os filhos, para a rotina de trabalho e, sobretudo, para serem felizes em tempo integral.
Ela, apesar de todo esse tempo, se surpreendia com a capacidade que o abraço do seu marido tinha em lhe dar paz e segurança. E, mesmo nesse momento de dor tão forte, não foi diferente.
Sabia que sentiria a falta da mãe por muito tempo, ou para sempre. Mas, já respirando profundamente, e secando as últimas lágrimas, sabia que sempre teria aquele abraço onde se refugiar toda vez que a dor fosse mais forte.
Ficaram ali, de pé, na cozinha por mais um tempo. Eles nunca sabiam definir se era uma eternidade ou uma fração de segundos, pois passava tão rápido, mas era sempre o suficiente para o efeito terapêutico de que necessitavam.
Ela deu-lhe um beijo no rosto, tomou mais um gole de água e saiu.
Ele sentou-se, olhou para o infinito e chorou em silêncio, não de tristeza. Apesar de sentir a perda da mulher que lhe era como uma segunda mãe. Mas chorou de felicidade e agradecimento.
Ele estava exatamente onde planejou estar desde que era um garotinho desajeitado, com grandes óculos e sem muita coordenação.
Tinha 8 anos, quando, voltando da escola alguns garotos derrubaram suas coisas e ficaram rindo dele. Quando se abaixou para recolher seus livros, percebeu a presença de alguém. Ela não estava zombando dele, como os outros. Colocaram tudo na mochila novamente, e ela deu-lhe a mão para ajudá-lo a levantar-se.
Foi apenas um toque naquela mãozinha tão delicada e macia. Mas foi o suficiente para ele sentir que todo força do mundo estava nela. Nunca mais se afastou.
Não sabia ele, quando criança, que a força que sentiu não estava nela, nem nele. E não existiria hoje, se não estivessem juntos. Pois toda a força do mundo, aquela capaz de resolver todos os problemas, só existia por que eles se completavam.

27 de set. de 2012

N'algum lugar...


Parecia ser verdade
Ninguém diria o contrário
Tinha sons,
Volume,
Odores,
Bons abraços e aconchego.
Parece ainda ser verdade,
Ninguém diz o contrário
Mesmo que tudo esteja, somente,
No universo da saudade...

24 de set. de 2012

Desordem


Vejo coisas fora do lugar
Sentimentos destoando
Um canto vazio em meu coração
Olhares desencontrados
Um verso solto, sem rima
Um acorde sem melodia
Minha cabeça nas nuvens
Olhos nas estrelas
E, sem você aqui,
Meus pés sem chão...

palavras e silêncio


Palavras não ditas criam enormes vazios
Palavras certas ligam pessoas,
Alimentam sentimentos
Constroem solidez...
Se palavras são elos
Então façamos ponte
Pois, mais que criar vazios,
Ao deixamos muitas palavras não ditas
Os olhares ficam sem se cruzar
Os abraços tornam-se não dados
Os beijos se perdem na secura dos lábios
E, por fim, o brilho dos olhos termina por se apagar...

11 de set. de 2012

Partido-alto



Não houve silêncio.
As pessoas continuaram suas conversas normalmente, provocando ruidoso burburinho. A banda não cessou seu show. Continuou entoando seu partido-alto, meio desafinado, e um pouco atravessado.
A pequena multidão envolvida no clima que lembrava os momentos que antecediam o inicio das orgias romanas. Imersos na contagiante música, e inebriados pelo alto teor de álcool que regava a todos os presentes.
Cervejas e caipirinhas eram trazidas o tempo todo, pelos garçons.
Entre as mesas de latão, que não raro fazia as vezes de tambores e tamborins, homens e mulheres se espremiam, se roçavam e se seduziam, em uma dança altamente sensual para quem estava dentro mas, certamente, estranha para quem observasse de fora.
O álcool, o pouco espaço para tantas pessoas, as roupas provocantes, em alguns casos a quase total ausência delas, o suor, a música, a pouca luz. Enfim, tudo favorecia a pegação geral que estava instalada. Vez ou outra, algum valentão não gostava da forma como o cara ao lado olhava pra sua companheira, ou a forma como se esfregava nela, e ensaiava uma briga, que era facilmente contida pelos mesmos motivos.  
Em um canto, uma das poucas mesas onde se podia ver alguém sentado, duas pessoas pareciam não estar ali. Com pele bronzeada, cabelos artificialmente loiros, na altura do meio das costas, mini-blusa preta, que realçava seus belos seios, e shorts jeans, curtíssimos, que deixava à mostra suas coxas deliciosamente torneadas e delineava, escondendo muito pouco, de o pouco que cobria. Parcialmente coberta, uma tatuagem pouco acima da virilha, mostrava uma bela borboleta azul sobre duas rosas brancas. Nos pés sapatos de salto alto e fino, couro marrom, com tiras enlaçadas nas panturrilhas, até quase os joelhos. Verdadeiramente linda, e altamente desejável.
Ela tentava sorrir e, nesse esforço, exibia seus dentes brancos, com o metálico de um aparelho ortodôntico. Tentava, mas claramente não conseguia.
Ele, negro forte, olhos expressivos, cabelos raspados, conforme exige a moda dos pagodeiros e jogadores de futebol. Pele bem cuidada, corpo malhado, sorriso igualmente belo. Ela falava com ele com carinho e paciência. Ele quase se exaltava, mas apenas a olhava com mais devoção, quase pedinte. Pela expressão o volume de suas vozes era baixo demais para ser ouvido pelo próprio emissor, devido ao volume da música e ao alarido da multidão. Mas eles pareciam estar se entendendo perfeitamente. Na verdade não se pode afirmar que eles estavam ali, naquele local. Se seus corpos não fossem vistos, e se sua mesa não fosse empurrada por quem tentava rebolar ao lado, ninguém os notariam, nem eles seriam trazidos de volta para lá, às vezes.
A sensação era de que se um aquele pequeno espaço composto pelos dois, uma mesa onde havia uma garrafa de cerveja, dois copos, um saleiro e alguns guardanapos, estivesse envolto em algum tipo de isolamento. Que nada externo pudesse chegar até eles. Que não ouviam, nem percebiam sons, toques, aromas nem a temperatura. O clima de sensualidade, então, era totalmente ignorado por eles.
Em algum momento uma lágrima.
Ele chorou, não entendia. Queria dizer que não aceitava, mas não era assim. Sabia que não tinha como forçar. Mas se permitia não entender. Afinal, se ele fez tudo que podia para fazê-la feliz...
Ela decidida, repetiu algumas vezes, de forma firme, enfática e definitiva.
Era o fim do namoro que durara apenas um ano e quatro meses.
Ele esperava que durasse para sempre.
Ela decidiu que já era tempo demais.
Não que estivesse infeliz. Não era isso. Apenas não estava feliz. Gostava dele, mas não o suficiente para prosseguir. Depois de breve análise decidiu que era melhor parar antes que a dor se tornasse maior. E não queria demorar muito mais para experimentar outros abraços, outros beijos, sabores de outras salivas, gametas, suores...
Ele se levantou, atravessou todo o ambiente, sem ouvir a música, sem ver a morena seminua que quase se jogou encima dele. E foi embora, sem sair da cápsula que não mais o protegia, apenas o sufocava.
Ela levantou-se, ajeitou o short, mexeu nos cabelos, tomou um gole de cerveja, e foi sambar atenta, sabendo que iria escolher alguém para ser seu, ao menos por aquela noite...

7 de set. de 2012

...


Tanto feito
Feito o fato
Afeta a vida
E o feto não reluta
Finge nada ser
Fica pelo caminho
Faz-se em pedaços
E foi-se o sonho
Fica a ferida
Falha a vida...

E feito o fato
Fica o vazio
De quem não pode se mostrar
E uma dúvida:
- Até onde vai liberdade de cada um?
- Ah é, quase me esqueço, ele não era um ser...

Usucapião


Nunca deixarei que perca seu chão
Pois você vive bem aqui,
Em meu coração...

3 de set. de 2012

Da série "mulher" - Solventes... -



Existem dois grandes solventes universais. A água e o tempo. Ouvi alguém dizer isso quando ainda era uma menina, e sempre acreditei. Com o passar dos anos, tive oportunidades de verificar, em minha própria vida, ou em vidas próximas à mim, a ação eficiente, e definitiva, desses dois elementos.
Concordo que nem sempre suas ações são tão benéficas assim. Como quando assisti meu pai se tornando cada vez mais isolado e frio, depois de ser abandonado por minha mãe. Aliás, não foi apenas ele que sofreu com esse abandono. Eu também estava lá...
A última vez que vi meu pai com uma companheira eu tinha apenas nove anos. Já faziam então, quatro anos que minha mãe saíra de casa. Ele me pareceu feliz por alguns minutos. Era uma mulher bonita, gentil e me tratou muito bem. Ficou uma noite em nossa casa. No dia seguinte, quando acordei, ela já tinha ido. Meu pai lia jornal, calado. Me sentei próximo, sem dizer nada. Conhecia aquele silêncio. Não demorou muito para ele fechar o jornal, olhar fixo para o horizonte à sua frente, por certo tentando enxergar algum lugar feliz em seu passado, ou descobrir por onde andaria sua amada, e chorar incontidamente.
Foi a última vez que eu o vi com uma mulher. E uma das últimas vezes que o vi chorando. Aos poucos o tempo, esse solvente universal, foi limpando os sentimentos que haviam grudados naquele homem.
Vi outras ações do tempo, e da água, limpando superfícies e manchas profundas. E, não existe nada que seja inalcançável por esses dois solventes. Seja o que for a mancha, basta deixar imerso em água, ou na correnteza do tempo, que fatalmente será removida. Às vezes a limpeza acontece de forma rápida, outras vezes leva-se uma quantidade maior de tempo. Pode até resistir a um igarapé de dias ou um rio de meses. Mas nada resiste aos oceanos de décadas.
Você pode usar alvejante, se tem urgência. Você pode rasgar cartas, queimar fotos, tentar apagar da memória. Mas se a ação é muito rápida, não oferecerá resultado de forma definitiva. Apenas a água e o tempo podem limpar, de fato, todas as sujeiras que existe em nós. Por vezes cria limo, ou lodo, em nós, como forma de nos proteger, o que pode nos impedir de ser tocados novamente, pelo que nos prejudicava, e também, por coisas que nos fazem bem.
Assim como acontece com o tecido, esquecido por muito tempo em alvejantes como o cloro, também a vida poderá ser fragilizada e, mesmo, corroída pela ação da água e do tempo. Há que se tomar cuidado ao se deixar quarar. Não podemos ficar inertes nem na água, nem no tempo.
Sei disso. Aprendi coisas sobre solventes, tempo e chuva. Entendi que mais eficiente que um solvente universal, é a ação dos dois juntos.
Tive alguns amores. Alguns amantes. Alguns namorados. Algumas dores, várias decepções. Mas nenhum sofrimento durou muito. Sempre me lavava pelo tempo necessário, em água corrente.
Mas eis que, assim como meu pai, me apaixonei, verdadeira e profundamente por alguém. Eis que, como ele, me entreguei a esse homem que me apresentava possibilidades infinitas de felicidades. Eis que, um belo dia ele simplesmente não apareceu.
Achei que meu mundo se acabaria. Por um tempo senti meu chão se abrindo. Mas não sou como meu pai. Aprendi com sua dor. Não vou me isolar. Não trancarei meu coração. Não me tornarei frio e infeliz como ele. Conheço os solventes universais.
Vou limpar a dor que agora sinto, e encontrar outras pessoas. Tenho experimentado vários outros homens. Algumas mulheres e outras possibilidades. Alegro-me às vezes. Outras noites, nem tanto. Mas não estou sozinha.
Nas manhãs seguintes, não vou chorar sobre um jornal. Acho mais eficiente ficar aqui, mergulhada nessa banheira, me lavando nessa água morna, por todo tempo que puder. A ação da água e do tempo, misturados às minhas lágrimas, água que faço sair de mim, limpa um pouco meu corpo e minha alma. E me dão forças para acreditar que não acabarei como meu pai, no fundo de um lago, para sempre...

Segunda-feira



É, essa segunda-feira teve mesmo cara de segunda-feira.
Às vezes acontece isso, não é?
Mas não tem muito a ver com o fato de ser segunda-feira. Eu acho. Sem muita certeza, é verdade, mas acho.
Uma ressaca leve, lembranças da alegria barata compartilhada com amigos caros. A sensação de que devia ter dançado mais uma música com aquela moça bonita. Quem sabe ter dito mais uma ou duas coisas interessantes. A bronca pelos strikes não conseguidos. Alguns pinos insistem em não cair nunca.
E tem o sabor não sentido do beijo não dado. Também o gosto agridoce do que foi roubado pela mulher que não devia.
Certas segundas-feiras são assim, cheias de lembranças do que fizemos no final de semana que o precedeu. Outras são repletas de nada, quando o final de semana é pleno de ócio, como gostam de ser as tardes de domingo.
Um tango a mais, um forró a menos. O rebolado provocante das garotas de rostos angelicais e jeito safado, perigosamente lindas, seduzindo a todos, ao som “funk proibidão”.
A liberdade etílica pode até não ser a mais saudável, mas é tão verdadeira e intensa que merece ser vivida. Ressaca, se cura depois. Assim como se cura ferida na perna, e mais fácil do que se cura as dores por não ter dito o que precisava, e ter deixado que ela se fosse, sem ter feito nada para impedir.
Dores sempre existirão. Ninguém está livre delas. Mas é melhor os calos e desconforto da caminhada, do que a atrofia da inércia.
Nem toda segunda-feira se apresenta como novo horizonte a ser desbravado, como novas possibilidades a serem experimentadas. Às vezes é apenas a continuidade do que já era. E isso não é ruim. Apenas a realidade da rotina que governa tudo que vemos. Mas, mesmo na mais sólida rotina, ainda podemos fazer pequenas escolhas, e com isso alterar grandemente a rotina atual. Criando assim, novas rotinas, que poderão ser rompidas a cada novo instantes. Seja no meio da velha surpresa ou no fim de uma nova mesmice.
O antigo rosto ao seu lado, na manhã de segunda-feira, sempre será novo. Mesmo sendo velho conhecido. Mas, não se assuste, você também não será mais o mesmo de antes.
Se não se lembra, não se torture. Pode ser melhor assim. De qualquer forma, alguém vai contar, para você e para os demais. Sempre do ponto de vista que não é o seu. O que não significa que não seja verdade. Apenas pode não ser a sua.
É, adoro segundas-feiras. Seja ela como está sendo hoje, cheia de flashes de nítidas lembranças, ou como as outras, que são diferentemente iguais. Sempre são...
Em algum ponto parte de mim viaja nos lábios, seios, coxas e pensamentos de algumas adoráveis pessoas. Voltaremos a nos ver? Quem sabe. Não se pode afirmar nada, até que as incertezas se confirmem.
Se vai haver novos tangos, outros boleros, balançar de cabeça, embalados por acordes estridentes de alguns roqueiros cabeludos, um blues falsamente tranquilo, ou novos funks e qualquer coisa “universitária”, não faço idéia. Mas sei que novamente será segunda-feira outra vez, em alguns dias. E terei vivido tudo novamente. Mesmo que tudo seja o angustiante marasmo das tardes de domingo.
Não espero não errar, claro. Nem ficar livre de dores. Mas espero que as cicatrizes futuras venham acompanhadas de boas lembranças e ensinamentos. E que não cometa mais os velhos erros. Afinal, ainda temos tanto, tanto jeito novo pra errar...
Boa semana

31 de ago. de 2012

Novas lições


Pensando em conhecer, parti
Pretendendo ser feliz, acumulei
Querendo me adaptar, me deformei
Por respeito, forcei
Para me afirmar, causei
Para sempre ganhar, trapaceei
Buscando preencher, transei
Para sempre ser livre, não me entreguei
Pensando ser forte, me fechei
Por não merecer, só tive quando comprei
Por me achar melhor, fiquei sozinho
Por ter tanta pressa, nem vi por onde passei
Querendo me encontrar, quase me perdi
Briguei
Atropelei
Tanto corri, que me cansei
E, só agora eu percebo que errei
Que só aprendi ao observar
Só fui feliz nas vezes em que compartilhei
Senti aconchego, ao ser verdadeiro
Quando fui útil, me admiraram
Só me engrandeci, quando fui honesto
Só fui pleno e livre nos breves momentos em que amei
Quando dividi, me aproximei
Me sabendo igual, abracei
Alegria plena
Verdadeira paz
Tarde, mas aprendi que mundo sem preço, é que tem valor
Sem impor minha voz, ouço as canções do mundo
Por me saber adulto, brinco com crianças
Se o riso é verdadeiro
A alegria não é fugaz
Pois para ser feliz, o verbo é o ser, não o estar
E o amanhã só será bom, se souber viver o agora
E, agora, sendo de fato forte
Da mesma forma que riu fácil
Se preciso, sem nenhum problema, e sem vergonha, choro...

30 de ago. de 2012

Quando mais é menos...


Um dia a mais
Sol da tarde
Tempo seco
Voz calada
Na garganta, outro nó
No olhar, você ausente
Nos lábios, o último beijo
Tanto tempo
Tão distante
Em toda parte, tanto de ti
A cada dia, menos de mim...

Da série pequenos prazeres, mas não haikai...


Em plena tarde, um paradoxo:
Dia quente. Em mim, há frio
Você ausente