Acontecimentos
recentes, nos quais estou envolvido, em alguns direta, em outros indiretamente,
me deixam sentindo vontade (na verdade considero necessidade) de retornar à esse
tema, do qual já falei em outras ocasiões. Acho que sempre de forma um tanto
sutil, e pouco direta. Então hoje quero ser direto, explícito e objetivo, o
máximo que conseguir, e tão elegante quanto meu espírito rude permitir.
O
tema da vez não são as contradições dos discursos dos defensores das diversas
vertentes políticas ou econômicas, mas mexe tanto com as pessoas como esses
temas. Pra ser bem franco, o que vou abordar aqui interfere muito mais nas
vidas de quase todos nós.
Estou
falando, e vou falar, de amor.
Sendo
mais preciso vou falar do amor. Digo, de um tipo específico de amor. Do que
mais interfere em nossas vidas. Daquele que tem o poder de nos fazer percorrer
todos os ambientes descritos por Dante, em sua Divina Comédia. Estou falando
desse sentimento que, em minha opinião, a maioria das pessoas o percebem como
um misto de Phillio, Eros e Mania.
Não
vou aqui falar sobre as outras definições. E esse não é um estudo ciêntífico. É
apenas um manifesto pessoal. Estou expressando minha forma de perceber e me
relacionar com o amor. Que fique bem claro.
Mas,
mesmo sendo nada científicas, minhas observações são atentas e, de certa forma,
segue sim, um método. Seja como for, vamos ao ponto.
Bem,
por mais que alguns queiram nos convencer do contrário, a grande maioria das
pessoas que vivem nesse planetinha errante, ainda necessita, ou acredita
necessitar de alguém ao lado, para se realizar e ser feliz. E boa parte dos
esforços despendidos pelas pessoas, ainda tem como principal motivador, a
vontade de aumentar suas chances de encontrar, e conquistar a pessoa amada.
Comportamento muito mais perceptível nos homens, mas que também está presente
nas mulheres.
Em
certa medida, preciso concordar, ao menos em parte com essa tese. Somos seres
sociáveis, e companhias são sim, em certa conta, necessárias. Mas não posso dizer
que “não nascemos pra vivermos sozinhos”, no sentido que a frase normalmente é
usada. Mais correto seria dizer que “não somos preparados, desde o nascimento,
para viver bem conosco mesmo”. Na verdade somos meio que programados para não
nos considerarmos boas companhias para nós mesmos.
Mesmo
assim, acho válido eterna busca pela outra metade, pela alma gêmea, pelo amor
verdadeiro. Afinal é bom, é muito bom, amar alguém, não é?
O
grande problema, e aqui é que começa ficar complicado toda e qualquer relação,
é que ao longo da história nos contaram muitas mentiras sobre o amor. Veja que
não estou falando de Agape, Ludus, Hesed, Pragma, Karuna, nada disso.
Estou falando especificamente desse amor que alimentamos, direcionamos e
esperamos ser correspondidos, por alguém com quem queremos construir uma
família, e viver, preferencialmente, sendo feliz para sempre.
Em
toda a história sempre nos encheu de falsas verdades, nos convenceram de
possibilidades inexistentes, e nos fizeram acreditar em lendas que sempre, ou
quase sempre se transformam em contos de terror, por não serem verdadeiras, e
por nós estarmos aqui, na vida real.
Culpa
de antigos místicos, cientistas modernos, necessários poetas e romancistas
maravilhosos, e claro, da igreja (no plural).
Acontece
que nem tudo cabe em uma fórmula mágica ou em tubos de ensaio. A vida não é
ficção. E, definitivamente, apesar de ser cristão, é necessário reconhecer que
em algumas áreas, a manipulação dos ensinamentos do Cristo, por seus
“representantes” causou mais estragos que em outras.
Sempre
nos disseram que quando encontrarmos a pessoa certa, ambos vamos perceber, e
nosso amor irá despertar. Nos dizem também que, o amor deve ser correspondido.
Que um sente quando e amado pelo outro. E, se uma relação acaba, devemos procurar
esquecer a pessoa, sufocando o amor que sentíamos por ela. Nos ensinam ainda,
alguns, que o amor só acontece uma vez. Ou que ninguém poderá ser feliz sem a
pessoa amada. Em alguns casos, ninguém é feliz tendo amado uma vez.
O
que nunca nos disseram, de verdade, é a quem pertence esse sentimento. A quem
ele realmente pode impactar? Quem, de fato, se transformará pelo amor? Quem
pode, de fato, senti-lo?
E
é exatamente na direção dessas questões que minhas observações, ao longo dessa
minha pacata vida, estão me levando. E, mesmo não sendo escritor inglês, bispo
filósofo, cantor sertanejo, psicanalista alemão, jornalista barato, tampouco
sou um tipo de Don Juan do Cerrado (bem, do Cerrado até que
sou, mas sou incompleto de fábrica), me permito ter uma opinião em processo de
formação. E sim, me atrevo a compartilhar com quem se arriscar a ler meus
devaneios. E o que tenho observado pode ser exposto da seguinte forma:
Primeiro,
sim, o amor existe. Nós o sentimos e ele pode sim interferir em nosso
comportamento;
Segundo,
sim, o amor pode ser lindo. E pode nos fazer muito bem. Mas, caso não o
entendamos, os efeitos podem ser contrários, e desastrosos;
Terceiro,
não, o amor não será nunca correspondido. Não espere isso, ou será para sempre
infeliz;
Quarto,
não, a pessoa amada não sabe o quanto você a ama. Nunca saberá, e não poderá reagir
ao seu amor.
Juntando
todas essas informações, pode ser que minha tese fique um pouco mais clara.
Então vou dizer de outra forma.
Caro
leitor, o grande amor que cada pessoa sente, reside apenas ao ser dessa pessoa.
É exclusivamente dela. E somente ela, a pessoa que ama, é que pode senti-lo.
Todo amor que você pode sentir por sua namorada, ou por seu marido, é só seu. E
a única pessoa que pode senti-lo é você mesmo. Ninguém mais pode. Por mais que
você se esforce, a pessoa amada jamais sentirá o amor que você sente por ela.
E,
pode parecer cruel no início, mas de fato não é. Quando entendemos a dinâmica
desse sentimento tão necessário, vemos o quanto essa sua forma de agir nos é benéfica.
Então
prossigamos. Como já disse, por mais que meu amor por minha namorada seja o
maior que já existiu. Maior que o próprio universo. Esse sentimento gigante não
sairá de mim. Eu posso tentar traduzi-lo em ações de carinho, de cuidado, de
gentileza. E esses gestos são percebidos. E deles a pessoa amada se beneficia.
Mesmo assim ela nunca saberá o tamanho do amor que sinto. Da mesma forma eu
nunca saberei como é o amor que ela sente por mim.
Isso
nos leva a entender que o comportamento da pessoa amada não está relacionado
com a forma, ou com quanto eu a ame. Quem estiver comigo irá me tratar não
conforme meu amor por ela, mas conforme o amor dela por mim. Apenas essa
compreensão já poderia minimizar grande parte do sofrimento de alguns.
Mas
ainda tem mais. Na mesma linha, ao aceitarmos que meu amor é só meu, seremos
levados a entender que meu amor não poderá transformar ninguém, além de mim
mesmo. Então aceite, o fato de você amar seu namorado não o transformará no
homem que você deseja que ele seja. E isso vale para todas as pessoas.
Por
outro lado, o amor que eu sinto é capaz de promover enormes transformações na
única pessoa que pode senti-lo. Ou seja, eu mim mesmo. Então, o seu amor pode
te transformar. Você, e somente você será transformado pelo amor que sente. Ao
compreender essa verdade, nos livramos de muitas amarras, e aí nos tornamos
aptos a sofrer todas as transformações que esse sentimento pode nos
proporcionar. E, geralmente, nos tornamos pessoas melhores, mais felizes, mais
“amáveis”. E isso não depende de ser correspondido, ou não. Depende apenas de
saber se relacionar com um sentimento que é seu. Que libera um monte de
enzimas, energias, toxinas boas em nosso corpo, e ainda nos possibilita
expandir nossa visão e fortalecer nosso espírito.
E,
quando meu amor não é correspondido? Ora, como quero receber em troca uma coisa
que não estou oferecendo? Afinal o meu amor não alcança a pessoa amada. E eu
posso não ser pra ela o catalisador certo, que irá potencializar o amor que ela
mesma carrega, e que também é só dela.
Afinal
é exatamente assim que, na prática, funciona. Quando sentimos que amamos
alguém, na verdade essa pessoa apenas nos estimula a potencializar esse calor
que jamais poderá aquecê-la, e que ela pode nem ter pretendido, ou imaginado. E
nós sentiremos falta dessa pessoa, caso se afaste. Mas esse estímulo deixa de
ser necessário à medida que reconhecemos a fonte em nós mesmos. E isso nada tem
a ver com a vontade de encontrar um companheiro para a vida. Por favor, não
confunda as coisas.
Também
é válido ressaltar que minhas observações me mostram que uma pessoa que,
aparentemente, não alimenta seu amor é, geralmente, mais triste, mais amarga.
Mais infeliz. O que me leva ao ponto seguinte. Mesmo que você não foi
“correspondido”, ou se suas relações nunca foram, assim, to felizes, não cometa
o erro de tentar matar o amor que você sente. Ao contrário, alimente-o. Com
você mesmo, para você mesmo. Por você mesmo. Mesmo que não tenha nenhum “alvo”
para seu amor, ame. Incondicionalmente, ame. Em qualquer tempo, ame. Assim você
se tornará uma pessoa mais atraente, mais apaixonante. Mais amável.
Afinal
é a você que seu amor transformará.
Quando
encontrar alguém, ame sabendo que é em você que seu amor está agindo. Será você
o único impactado. E, para demonstrar que você ama, diga, seja carinhoso, seja
gentil, tenha cuidados. E diga. Todo gesto não substitui demonstrações verbais.
Diga que ama, só assim a pessoa amada terá uma vaga ideia do que você sente por
ela.
E,
se eu reconheço meu amor como meu. Então tratarei cada pessoa que estiver
comigo, com o mesmo afeto. Seja a pessoa que vai viver comigo por toda vida, ou
alguém com quem eu esteja por alguns instantes.
Aqui
uma citação que acho perfeita. Retirada da canção “Como vai você?” de Antônio
Marcos e Mario Marcos, Roberto
Carlos brilhantemente cantou: “Vem,
que a sede de te amar me faz melhor”. Veja que ele não está pretendendo que
sua sede de amar transforme a pessoa em uma pessoa melhor. Mas reconhece que a
vontade de amar a pessoa, o torna uma pessoa melhor. E, acredito, é exatamente
essa a principal função desse amor do qual estou falando aqui. Nos transformar
em pessoas melhores, contribuindo de forma decisiva para nossa evolução.
Claro
que existem as distorções, como os “amores doentios”, os crimes motivados por
supostos amores. Mas tudo isso, eu creio, se deve exatamente à nossa incompreensão
dessa força tão fortemente transformadora.
Por
ora é isso. A todos, muito amor.
Meu querido, meu querido Naza...
ResponderExcluirObrigado por me fazer perceber que a fonte que tanto procurava nas pessoas, estava o tempo todo em mim.
Beijos.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue palavras encantadoras! Gosto de te ler, sabia?! ;) hehe... Compartilho o mesmo pensamento (e sentimento, rs) que vc, Naza!! Essa força fortemente transformadora é o que movimenta o meu viver. Sejamos sempre um instrumento capaz de espalhar amor pelo mundo. É disso que precisamos... Pessoas recheadas de amor. Beijo com admiração pra vc!
ResponderExcluirAhhh o amor!!! Esse sentimento oceânico... Esse foi um dos únicos textos sobre o amor que li ultimamente e que não esbanja clicheria.. Concordo em gênero, numero e grau com teus pensamentos.. E acho que somente o amor é capaz de nos salvar da vida (como já dizia meu amigo Pablo Neruda). O amor é algo só nosso.. E essa verdade fundamental pode nos transformar realmente, em seres melhores e mais evoluídos. Belas e sábias palavras Naza.. Beijo
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