25 de out. de 2011

Veja...

Olha-me.
Por favor, olha-me!
Olha-me e veja o que há.
Olha-me com cuidado.
Não, não precisa ter medo.
Nada há que te seja assustador,
Também não se encante.
Olha-me, te peço.
Mas olha desarmada,
Sem pressa,
Nem pena,
(Não se engane, nunca estarei triste, e minhas lágrimas estão sempre sorrindo, pois caem por você).
Olha-me sem mágoa,
Sem análises científicas,
Ou psicológicas.
Olha-me apenas.
Como se olha as estrelas no infinito,
Ou o sol se pondo, no mais belo entardecer.
Olha-me como se olha para vida
(ou como se devia olhar).
Olha-me como quem olha pra si mesmo.
Olha-me como quem procura,
Será fácil encontrar.
Se me olhar, verás beleza.
Pois de tanto te olhar,
Meus olhos, como bom espelho que são,
Refletem você,
Por ser linda,
Por, simplesmente, te amar...

ID

Não que seja dor,
Não é.
E não é saudade, dessas comuns que sentimos sempre.
É outra coisa, mais forte, com sabor, perfume, textura e calor...
E não é que eu queira saber por onde andas.
Só queria entender por quais motivos você insiste em ocupar meu peito.
Não que eu não goste da primavera,
Pois muito a aprecio.
Apenas não entendo essa sua mania de estar presente a cada perfume que sinto,
A cada flor que admiro e a cada pássaro que ouço.
E a lua que cismou em tatuar seu rosto,
Só para mostrar você pra mim.
Até o brilho dos seus olhos me chegam sempre,
A cada manhã, com o Sol tentando imitar você.
Mas não é dor, já disse.
E, apesar de tudo que tenho,
É esse vazio, o que mais me preenche.
Trazendo inclusive, creia, alegria e cor.
Me acostumei à sua companhia constante,
Que já é normal ter você,
Mesmo se com outra faço amor.
E nem quero mais te encontrar.
Pois já acho mesmo
Que já sou tão você
Muito mais que a mim...

23 de out. de 2011

78 anos de história e o futuro nos cobra mais protagonismo

Em mais um aniversário de sua fundação a cidade de Goiânia, enquanto ser impessoal e nada inanimado, se mostra como uma entidade paradoxal. 

Planejada por Atílio Corrêia Lima, para comportar 50.000 moradores, a cidade fundada por Pedro Ludovico, somava mais de 1.300.000 habitantes, quando do fim do arrolamento censitário de 2010 realizado pelo IBGE. E, no início de julho desse ano, setores da administração municipal e, evidentemente, as concessionárias e revendas de veículos, comemoravam a marca de um milhão de veículos licenciados na capital dos goianos (veja, que há cerca de 0,77 veículos por habitante). 

Simpática por natureza, a cidade mantêm suas raízes interioranas, a forte relação com o Cerrado, história breve porem rica, grande efervescência artística e cultural, algumas boas instalações públicas, povo simpático, com esse jeito “bariânico” de ser. Além de possuir muitos parques, lagos e áreas verdes urbanas, e o maior de todos os parques ainda está a caminho (conforme divulgações da prefeitura, as obras de implantação do Parque Macambira-Anicuns devem começar em breve), e nós, que já temos um dos maiores índices de área verde urbana do país, provavelmente chegaremos ao topo, nesse quesito. Todas essas características fazem de Goiânia uma das melhores cidades para se viver do País (para mim, do mundo) 

Por outro lado, ao longo desses 78 anos a cidade cresceu. Tornou-se uma grande metrópole e viu alguns problemas serem gerados sem que soluções efetivas fossem implementadas. Tornou-se pólo industrial, têxtil e universitário. Possui setores com alta densidade populacional e bairros tão distantes do centro quanto da presença do Estado. Estabelecimentos comerciais, educacionais, religiosos e de lazer noturno instalados em bairros eminentemente residenciais, contrariando o bom senso e levando desconforto a quem mora em seus arredores. E, claro, ruas e avenidas superlotadas de veículos (experimente circular pelos arredores do terminal rodoviário sábado à tarde, ou na região dos bares do Marista em qualquer noite, e vai entender). 

Inúmeros exemplos nos mostram que precisamos ter cuidado, para que sejamos capazes de evitar o estrangulamento de Goiânia e sua região metropolitana. 

Obedecendo as orientações do Estatuto das cidades e, espero que, buscando ordenar a confusão presente, e evitar o caos eminente, aprovou-se em 2007 a Plano Diretor. A cidade completa 78 anos. Seu plano diretor tem apenas quatro. Um jovem estatuto, que é um bom documento de orientação, e que, por sua natureza, é bom que seja capaz de evoluir (como partes da cidade não foram). Nesse momento está em discussão, na câmara de vereadores um projeto de lei de grande importância para o bem-estar de todos que vivem em Goiânia. Trata-se do Projeto de Lei Complementar 21 de 14 de setembro de 2010. Na verdade a discussão está acontecendo devido ao fato de o prefeito ter vetado o citado projeto, já aprovado pelos vereadores. Estes agora se organizam para derrubar o veto. 

Este projeto que propõe uma pequena alteração no texto da Lei Complementar 171 de 29 de janeiro de 2007, em sua Sessão III, artigo 94, e as Leis 8645 e 8646 de 23 de julho de 2008. Com a proposta, os empreendimentos residenciais em áreas acima de 5.000m2 passam a fazer parte do conjunto de empreendimentos e atividades dos quais se exigi Estudos de Impacto de Vizinhança e Estudos de Impactos de Trânsito. Pequena alteração no texto, com grandes implicações. 

Mas, o que a população sabe sobre tal projeto, e essa discussão? Não sabe. A grande maioria não ficou sabendo quando o mesmo foi elaborado, e não faz idéia que foi vetado. E, por ter reflexo direto na vida de todos os habitantes do município, acredito que todas as pessoas deveriam participar dos estudos, debates e elaborações. Não trata-se de um direito, é mais uma obrigação. 

Pessoalmente sou favorável ao projeto, na verdade acho que a alteração deveria retirar da lei o § 2º do artigo supramencionado, uma vez que não é difícil encontrar igrejas, de todas as denominações, causando transtornos no trânsito e gerando ruídos acima do aceitável. Mas não vou fazer a defesa do vereador que o propôs, nem do prefeito que o vetou. Quero é defender maior participação popular na elaboração das políticas públicas. E que, leis dessa natureza não sejam apenas pretexto para as medíocres disputas partidárias, mas que sejam elaboradas com responsabilidade, embasamento técnico e profissionalismo. Que sejam incorporadas às políticas de Estado, que sejam implementadas de fato, ou como dizem os gringos e está na moda entre os consultores, que haja o enforcement, e que valha para todos, sem privilégios ou favorecimentos espúrios. Só assim os netos dos nossos netos terão tanto orgulho, e prazer, por viver em Goiânia quanto temos hoje.

13 de out. de 2011

Erros


Era pra ter sido beijo, o silêncio que foi.
Devia ter sido abraço, a frieza sentida.
Era pra ter sido sorriso, não a tristeza explícita.
Era pra ter sido palavras carinhosas,
não a mágoa que tinham no olhar.
As mãos deviam afagar, não acenar o adeus.
Deviam ter sido companhia, não separação.
Era pra ter sido ponte, não encruzilhada.
Agora seria felicidade presente,
não essa lembrança triste.
Mas não souberam se entender
Erraram a dose.
Não souberam se dar,
Ou se deram sem medida.
Interromperam a canção
Mudaram a rota,
foram cada um em uma direção.
Se perderam do riso,
Se afastaram da alegria.
O arrependimento veio tarde.
Nunca mais se encontraram.
Vivem tristes, perdidos em algum lugar.
Só restam lembranças.
Nunca mais foram vistos juntos.
Nem separados...

12 de out. de 2011

Explicando

Nos últimos meses uma coisa deu errado.
É que tentamos, eu e alguns amigos, editar um blog, falando de coisas de homens.
Seria o TPMen,
mas o projeto não engrenou, ao menos não nesse momento. E falhou por vários motivos.
Isso não importa.  O fato que é que, nessa proposta eu assinaria a coluna "Coisa de homem", e em agosto eu postei os três textos abaixo (Vamos dançar, Ereção e Sobre lutas verdadeiras e falsas conquistas). Como a coisa lá não "vingou" resolvi trazer para cá.
Agradeço a compreensão e as críticas.
Abraço

Ereção

Eu aqui falando de coisas de homens e eis que me vem à mente uma das que é a mais tipicamente “coisa de homem”. Estou falando da ereção.
Bom, vou dispensar a frescura e as formalidades, e falar de forma simples e direta.
Ereção é coisa de homem. E, geralmente, é bem vinda e motivo de alegria e prazer. No entanto há momentos em que ela ocorre, que nos causa desconforto e constrangimento. Claro, se não ocorre quando se espera, também causa frustração para o casal, e constrangimento para a maioria de nós, homens.

Algumas coisas nos provocam o erguimento do membro fálico. Quase todas elas estão ligadas à excitação sexual.
Ouvir obscenidades, beijos quentes, carícias ousadas, uma bela mulher empenhada em nos provocar são alguns motivos provocadores de ereção, no caso bastante esperada e desejada.
Uma mulher bonita que passa provocativa; a lembrança de uma boa aventura sexual; recados obscenos; aquela colega de trabalho, gostosa, que inesperadamente nos aborda no meio da tarde, cheia de segundas intenções. Esses são outros motivos que podem levar ao intumescimento. Ler de contos e ver filmes eróticos e/ou pornográficos também pode causar o inchaço da glande. Tem ainda a boa e natural ereção causada para conter a urina, quando a bexiga quer expulsar e não temos como promover a liberação (fato que faz com que acordemos com paudurânça quase todas as manhãs).
Todos esses são motivos ligados diretamente a sexualidade, ou defesa biológica. E é normal que os vasos sanguíneos e corpo cavernoso desse membro masculino sofram alterações em todas essas situações. Mesmo que, por vezes nos coloque em saia justa (Humm, se estou falando de coisa de homem, e não estamos na Escócia, melhor usar outra figura de linguagem. Que seja...), nos deixa de calça curta.
Até aqui nenhuma novidade, certo? E, mesmo nos momentos mais impróprios, quando ocorre pelos motivos supramencionados, é aceita com certa naturalidade.
Há porém uma situação, em se tratando de eventos relacionados à paudurescência, que é incomodo, desconfortável, indesejado, sem propósito, descabido, fora de contexto e idiota. Mas bastante recorrente (estou sendo redundante para tentar aproximar do quão desagradável a situação é).
Estou falando das ereções homéricas que nos acomete quando estamos na platéia de uma aula, palestra, seminário, apresentação e alhures, e que a coisa está insuportavelmente chata, causando aquela sonolência quase incontrolável. Ficamos lá, sentados, não conseguindo ouvir nada que a pessoa está dizendo ou mostrando. Lutando heroicamente para não sermos vencidos pelo sono e, para piorar muito, nós homens temos que conviver com potentes ereções. Daquelas que todos aqueles e-mails chatos, que lotam nossas caixas de entrada, prometem nos vender.
Vocês, mulheres, não tem idéia do que seja isso. Se o evento enfadonho for longo, e a sonolência não for passageira, o pobre cidadão sairá do auditório sem ter captado nada que possa ser útil em sua vida, pois estava praticamente dormindo, e com uma possível dor. Sim, dor mesmo, pois não estou falando de uma ereçãozinha qualquer. Não se trata de ficar meia-boca, como dizem. E sim, doe.
Ah, e não importa quem esteja falando. Se homem, mulher, jovem, velho, hétero, gay, gostosa ou baranga. Tanto faz. Basta não conseguir empolgar a turma, e tornar a apresentação/aula, cansativa.
Tenho certeza que algumas professoras, ao tomar conhecimento desse fato, vão desejar provocar na cama, em seus parceiros, o mesmo efeito que causam em seus alunos, durante suas aulas.
Não sei se todos os homens já se observaram nesses momentos, e se perceberam essa ocorrência enrijecente. Claro, não posso afirmar que acontece com a totalidade absoluta dos homens. Mas, desde que, graças a meu amigo Ednaldo Barros, o Marelo, eu descobri que esse fato acontecia não apenas comigo, venho fazendo uma observação cientificamente descompromissada, mas dedicada. E, com base na declaração de todos os homens a quem me ocorre perguntar, posso dizer que esse mal acomete à grande maioria de nós.
Acho, inclusive, que uma boa forma de aferir a qualidade de aulas, palestras e afins, seria monitorar a quantidade de ereção provocada na platéia.
Portanto, se durante uma apresentação sua, você perceber que alguns homens da platéia estão portando uma espada em riste, não se anime. Apesar de ser por sua causa, pode não ser pelos motivos que você desejaria. Ao invés de interessante, você pode estar sendo muito, mas muito chata mesmo.

Vamos dançar


Tirei a poeira dos meus Capézio nº 37. Sim, meus pés calçam 37 (ou 38, dependendo das medidas de alguns fabricantes). Eles estavam bastante empoeirado, quase abandonado. Quase 4 anos sem ser usados. Teve até quem quisesse jogá-los fora, ou encaminhá-lo para doação. Felizmente não cedi. Hoje não teria os sapatos, nem a pessoa, já que aquele relacionamento acabou. Ainda bem que os mantive.
Ele, pobre par de calçado de couro preto, ficou esquecido no último espaço da sapateira. O último ano, após mais uma mudança de arrumação da casa, ele foi protegido por uma caixa de outro sapato qualquer. Mas permaneceu lá, sem ser utilizado.
Mas, eis que finalmente eu recorro a ele novamente. E ao pegá-lo, sou tomado por essa saudade. Lembrança de como gosto de dançar. Dos tempos em que gastava várias sapatilhas 37, lá em Mineiros, nos velhos Bailes do Pavip, festas na quadra do Colégio José de Assis ou festa Junina do Coronel Carrijo. Quase sempre com a boa companhia da amiga, e parceira de dança, Lorena Oliveira.
Quero dançar novamente, e por isso estou resgatando meu Capézio. E, ao resgatar, recupero essa parte de mim, que foi deixada de lado, por tanto tempo.
Gosto de dançar. Não sei (apesar de que, lá no Pavip, eu tinha certeza que dançava muito). Mas gosto. E há uma semana, depois de tanto protelar, retomei as aulas.
Dança de salão, que fique bem claro.
Não, não serão as boas aulas de tango, que animaram meus últimos meses em Mineiros. Aquelas não farei mais. Tango apenas com querida amiga Cynthia, de quem ganhei o par de sapatos de que vos escrevo. E ela está muito distante agora (que fique registrado, ela prosseguiu dançando, aprimorando a técnica e, principalmente, se divertindo muito ao dançar sempre que pode, o tempo todo...). Por enquanto minhas aulas serão de forró e zouk. E, podendo praticar esses dois ritmos, ou mesmo apenas o bom e velho xote, já serei um homem ainda mais feliz.
Confesso, tenho saudades do tango. Tenho saudades da parceira-amiga. Tenho saudade da alegria por cada nova sequência dominada.
Do Pavip, ginásios, salões comunitários de Mineiros, onde sempre havia festas, e onde eu podia dançar meu forró, claro, também tenho saudades.
Até dos “arrastapés” ao som de sanfona, triangulo e zabumba, que aconteciam lá na “Baixadinha”, ou no Cedro, nos meus tempos de criança, esse par de sapatos me lembrou. E olha que isso faz tempo.
Voltei a fazer aula. Pretendo voltar a sair para dançar com certa frequência. E, pretendo fazer isso porque me faz muito bem. Me traz alegria. Acho que funciona para mim, da mesma forma que pedalar funciona para o Neto, Jogar vídeo game para o PH ou tocar guitarra para o Eduardo.
Dançar me faz bem. Eu realmente gosto.
E não faço isso pensando em “pegar mulher”, como alguns caras (alguns amigos meus, inclusive), dizem. Claro que isso pode acontecer, pode até ser facilitado, se eu souber dançar. Mas será muito mais consequência de minha alegria, do que de planejamento prévio. Não é esse o propósito.
A dança pelo prazer da própria dança. É isso que quero recuperar agora. Porque isso também é coisa de homem, e porque é como recuperar parte de mim.
Esse par de sapatos, presente de uma amiga queridíssima, será meu grande aliado nesse importante resgate. Por isso tirá-lo da caixa, e calçá-lo novamente, foi tão significativo.
Dito isto, e já tendo recuperado o fôlego e tomado uma água, o que me diz, dança comigo?

Sobre lutas verdadeiras e falsas conquistas


Amiga Lidi me envia um texto do Ivan Martins, editor-executivo da revista Época, intitulado “Solidão Contente”.
O texto fala do fato de as mulheres serem felizes sozinhas. Que nem sempre, segundo o autor, a solidão é falta de opção mas, em muitos casos, é a opção da mulher.
Cara Lidi, gostei do que li. O Ivan escrever de uma forma suave, que torna a leitura muito leve e atraente (confesso que nessa linha, ainda prefiro os textos do Fábio Hernandez). Mas, quanto ao conteúdo, concordo apenas em partes com ele.
Sei que as mulheres se bastam muito mais que nós, pobres seres dotados de testículos. Sei que vocês, são muito cheias de coisas, com as quais se envolverem, aí mesmo, dentro de vocês (dentro não necessariamente de seus corpos, mas de seus mundos pessoais). Já nós, fomos esquecendo essas “coisas” pelo caminho, ao longo dos anos, desde que surgimos nesse torrão azul, ou desde que tivemos uma costela extirpada e ganhamos uma companheira.
É verdade que mulheres gostam de passar horas cuidando de si mesmas. Que se divertem com seus cremes, alicates, pinças, esmaltes e blanches. Que podem ficar o dia todo na companhia de um livro, e a noite abrir uma garrafa do seu chileno preferido, e tomar vendo filmes na TV, apenas consigo mesmas.
Quem, em nossos dias, ainda não saiba que isso é verdade? É, eu sei, muita gente. Melhor dizendo, muitos homens (e, também, algumas mulheres). Mas basta observar com atenção que todos podem perceber esses momentos de felicidade solitária, ou de “solidão contente”, como o Ivan chamou.
No entanto, minha amiga, uma observação mais cuidadosa ainda, vai revelar outras características de muitas mulheres dos nossos dias.
O mundo mudou. Nós mudamos com ele. Mas vocês, mulheres, mudaram muito mais que nós. Uma coisa porém não pode ser ignorada. Em nossos dias todos competem com todos.
O mundo moderno, leia-se mercado capitalista, se transformou em um campo de batalha mais cruel e mortal que as antigas arenas romanas. E está nos tornando animais capazes de tudo para sermos os vencedores a cada batalha/dia.
Nem sempre o destino do derrotado é a morte, e nem sempre o prêmio do vencedor é algo que engrandeça (nos contentamos com reconhecimento fugaz e vazio, e com bugigangas caras, e sem nenhum valor). E, às vezes para ser premiado, é necessário perder. Perder a dignidade, o amor próprio, o respeito, o caráter, os valores e princípios e a chance de fazer diferença na construção de um mundo melhor.
E eis que aqui estamos. Cheios de coisas pra fazer. Sem tempo para a família, para os amigos. Sem tempo para almoçar tranquilamente ou para ouvir um amigo. Enfim, não temos tempo para sermos felizes. Temos que correr. “Afinal, tempo é dinheiro”, certo?
Acontece, porém, que o homem sempre foi dado à competição. Afinal vem sendo distorcido e moldado ao longo dos tempos. Já a mulher não. Isso para vocês, é coisa nova. Mas já que lutaram por igualdade, não podem decepcionar, não é mesmo? Precisam dar o melhor de si. Precisam ser competitivas e competentes. Tem que corresponder.
Mas, corresponder a qual expectativa? Não decepcionar a quem? Claro, se eu parar para ouvir as respostas a essas duas questões, vou ouvir variações do mesmo tema. E vou ouvir respostas diferente também, claro. Mas minha observação mostra que a maioria dará respostas que apontem para coisas externas a elas. E, quando é diferente, percebe-se que está caminhando em direção errada. Afinal de contas, como já assinalei, nossos esforços buscam comprar nossa felicidade e realização em coisas que não podem nos fazer felizes de fato.
E toda essa competitividade, e busca por igualdade, tem tornado as mulheres seres muito menos emocionais e afetivos do que já foram um dia.
Sim, toda mulher precisa de um tempo só pra ela. Carece passar um tempo em sua própria companhia. Se curtir. Ouvir seus sentidos falando sobre como estão percebendo o mundo. Auscultar seu corpo e sua alma feminina, conhecer melhor a nova mulher que é a cada dia e, assim, poder analisar os caminhos pelos quais anda caminhando. Acontece que a mulher moderna, essa competitiva, que tanto agrada ao mercado tem optado cada vez mais pela solidão. E essa opção deixou de ser totalmente voluntária. É muito mais uma construção mercadológica. Na mesma proporção, a solidão perdeu assas dimensões lúdicas, terapêutica, saudável. De diálogo introspectivo, autoconhecimento e crescimento interior. Os fones de ouvido e sons estridentes não permitem que se ouça as vozes do seu silêncio, não é? E têm os celulares que não podem ser desligados, os e-mails que não param de chegar, os anúncios lhes dizendo como devem ser e o que precisam comprar. É, cada vez mais se fica sozinha, sem a própria companhia.
Os homens há muito se tornaram máquinas. Meras ferramentas de produção. As mulheres estão se tornando agora. E, por mais que eu procure não ser machista, e defender as lutas por igualdade de direitos, e pela “emancipação” feminina, não consigo fazer de conta que não percebo os efeitos colaterais desse movimento, e todas as consequência danosas para toda sociedade, e para o planeta. Já escrevi algumas vezes, e disse tantas outras, que a parte das grandes mazelas sociais que experimentamos hoje, tem origem exatamente aí, nessa luta. Não nas conquistas, mas em como temos encarado tudo isso. Não vou abordar esse ponto. Esse viés fica para outra divagação.
O foco aqui é a felicidade. Ou melhor, a distorção do que venha a ser felicidade, sua grande ausência e enorme dificuldade em encontrá-la hoje.
Vejo mulheres bem resolvidas, independentes, cultas, cheias de conhecimento e desenvoltura, se firmando como diretoras de empresas, coordenando grandes projetos e se elegendo presidente (de escola de samba, de corporações, de clubes de futebol e do Brasil). Mulheres que estão sempre mostrando firmeza e autoconfiança, se o local é seu trabalho e se o assunto são os negócios. Mas que se mostram meio perdidas, se precisam lidar com a família, com amigos. Conheço também jovens lindas, gostosas, sedutoras, que sabem fazer caras e bocas, dançam nas pistas de toda noite, e “pegam” todos os caras que querem. Mas que é melhor não olhar para seus olhos, pois será fácil perceber a presença constante da tristeza. Tristeza que está presente nos olhos executivos, de grande maioria das grandes profissionais.
Mas, quem sou eu para expressar essas coisas, não é mesmo? Ta certo, não sou sociólogo, historiador, nem sexólogo, psicólogo, olheiro de agência de moda. Também não sou cafetão, diretor de empresa de recolocação profissional, nem jornalista barato, como se intitula Fábio Hernandez (Humm, pensando acho que isso posso dizer que sou, afinal meus escritos não me rendem nenhum dinheiro, e jornalista, bem vocês sabem, STF, tal...). Sou apenas um homem que reconhece a força da mulher, e por isso mesmo se entristece ao ver tristezas em seus olhos.
Mas também sou homem de me emocionar. De chorar de alegria e de tristeza. De sentir saudades e ligar pra ouvir a voz. De querer sexo pela manhã ou apenas companhia tranqüila. E de querer ficar sozinho às vezes. Fazendo nada comigo mesmo. Cuidando de mim. Lendo ou brincando com o Putz e a Capitu. Vendo bobagens na TV e, ouvindo o que eu tenho para me dizer. Sabe por que, amiga Lidi, porque, apesar de termos nos esforçado para nos estragar, nos tornando os seres quase disformes que somos hoje, nós homens ainda mantemos parte da nossa essência. E essas necessidades, e capacidades de ficar sozinho, também existem em nós.
Gostar da própria companhia, querida, também é coisa de homem.
E, independente de ser conosco mesmos, ou com os outros, está mais que na hora de resgatar a qualidade de nossas relações.