Uma Lição Vinda da África
A Copa do Mundo da África do Sul está em sua segunda rodada.
Tenho escutado reclamações de torcedores quanto à qualidade do futebol apresentado pelas seleções participantes no certame. Que as partidas nada tem de espetáculo. Que a média de gols está muito baixa. E outras reclamações.
Eu concordo com algumas delas, sobretudo com as escolhas do técnico Dunga. Mas não me sinto prejudicado pela baixa qualidade apresentada.
Mas preciso confessar, sou brasileiro e homem. Cresci em alguma periferia e joguei muita pelada na infância. Mas não sou fanático por futebol. Na minha adolescência acompanhava o fantástico time do Flamengo, com Zico, Leandro, Adílio, Junior e companhia dar verdadeiros espetáculos. Por isso costumo dizer que sou flamenguista. E como cresci em Mineiros (aquele bom município localizado lá no extremo Sudoeste de Goiás, onde nascem os rios Araguaia, Correntes e Taquari, e onde está o Parque Nacional das Emas), gosto de ver o Mineiros Esporte Clube, a “Águia do Vale” disputando o goianão. Mas não acompanho campeonatos, nem me envolvo muito com os resultados.
Gosto sim, de ver um bom jogo, seja de quem for. E fico feliz quando o resultado me parece justo, independente se o vencedor for o Flamengo, Vasco, Corinthians, Goiás, Vila Nova ou meu “MECão”.
Em tempos de Copa isso não muda muito. Continuo gostando de ver bons jogos e torcendo para que o resultado seja favorável ao time que melhor jogar (e para mim, jogar bem, é sim, dar espetáculo, jogar bonito, fazer a platéia sentir prazer em ver o jogo, durante o jogo. E não fazer um jogo burocrático e feio, pensando apenas no resultado).
Mas a Copa, além das emoções trazidas pelo futebol em si, também sempre nos apresenta importantes aprendizagens, quase sempre de forma bonita e emocionante.
A Copa da África já me trouxe a primeira.
O título posto acima, apesar de bastante claro, pode não sê-lo completamente. Pois o objetivo não é apenas dizer que me refiro a uma lição que veio da África, enquanto sede do mundial. Mas que veio, de fato da África. Mais precisamente de um cidadão nigeriano.
O fato em questão aconteceu logo após o termino do jogo entre Argentina e Nigéria. No estádio estava presente o reporte do CQC, Felipe Andreoli. Quem, como eu, é espectador assíduo do CQC (confesso que sempre que posso escolho ver esse programa, e tenho considerado um dos melhores da TV aberta hoje em dia), sabe o teor das reportagens feitas por eles. São divertidas, apesar da seriedade inerente em alguns temas, como as matérias feitas em Brasília, o quadro “Proteste já”. No referido jogo o reporte brincou com ambas as torcidas (sempre sacaneando mais com os argentinos, é claro). E no final, com a derrota da seleção Nigeriana, Felipe entrevistando, em tom de brincadeira, um nigeriano que estava na arquibancada do estádio, disse:
“Não fica triste não”.
A primeira lição que essa Copa me trouxe veio em forma de resposta. Da resposta desse nigeriano, desconhecido para mim e, certamente para a maioria das pessoas. Ele disse ao Felipe Andreoli
“Eu não estou triste. É só um jogo. É assim mesmo...”.
Ele disse isso sorrindo aquele sorriso verdadeiro e lindo, presente nas pessoas que estão felizes.
Ele certamente torceu para que o time de seu país ganhasse aquela partida, assim como torcerá em todos os jogos futuros. Mas ele, ao menos aquele cidadão, sabe exatamente qual função deve ter os grandes espetáculos (os eventos esportivos devem ser encarados assim). Devem servir para nos divertir. Para nos dar alguns momentos de lazer em meio a nossa vida tão corrida.
Não conheço aquele homem. Não sei como ele encara os demais aspectos da vida. E sei que o continente africano já sofreu, e ainda sofre, com uma pobreza explícita, guerra civil e conflitos étnicos.
Mas aquele homem certamente não será visto entre “pseudotorcedores”, envolvidos em violência nos estádios. Como fazem os holigans e alguns membros de torcidas organizadas brasileiras, e goianas. Que são, na verdade, organizações de marginais que se esforçam para criar mais problemas, em uma sociedade já tão castigada por tantas doenças sociais.
Felipe Andreoli nem se tocou com a resposta do nigeriano. Ninguém do CQC citou a grandeza daquela colocação. É possível que quase ninguém tenha ouvido aquela resposta com o mesmo ouvido que eu. Por isso acho preciso chamar a atenção de todos, para os esse exemplo de espírito desportivo.
É bom curtir com os argentinos, mas só é bom se for divertido para os dois, e se soubermos aceitar, com o mesmo humor, quando forem eles, tirando sarro com nossas caras. Caso contrário é puro preconceito, ou bulling. E isso, não devemos mais aceitar entre nós.
Quem não quer perder, que vá jogar “paciência” ou “campo minado” no computador, ou futebol no videogame. Ou que simplesmente evite o convívio social.
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