25 de nov. de 2018

Permaneço aqui
Não sei bem onde, mas estou.
Dentro de mim,
        apenas.
E não me caibo.
Noutros dias, sobra um universo inteiro.
Seu lugar...
Meu lugar que era onde você estivesse
já não é lugar nenhum.
Você se foi,
mas continua preenchendo cada canto
cada poro
cada copo vazio
        ou cheio.
Cada palavra e pensamento.
Cada ruído e todo silêncio.
E eu permaneço aqui.
Não há espera
Não há, sequer, tristeza.
Há um vazio sufocante
e noutros dias, nem me caibo...
E tem as músicas
que cantávamos
que não cantávamos
que apenas silenciávamos.
ríamos ou dançávamos.
É,
não sei por onde andas
mas, saibas, estais aqui,
        em mim.
Sendo presença densa
noutros dias, assustadora ausência
De toda forma, estás.
E eu, permaneço
não sei bem por onde tenho estado
mas sigo habitando o único lugar que me serve
        (mesmo sem caber, em certos dias).
Permaneço em mim,
pois é aqui,
o único lugar onde sei que estás
o único lugar onde sinto você,
e me sinto viver.

15 de jul. de 2018

Quero brincar de ser eu mesmo
não quero mais essa fantasia
essa máscara
esse disfarce
Quero poder me assumir
Dizer o que sinto
falar o que penso
chorar minha dor
rir minhas alegrias
cantar, quando sentir vontade
e dançar, se assim eu quiser
        e onde quiser...
Chega.
Não vou mais concordar só por conveniência
Nem vou rir pra disfarçar
Não vou comprar pra ser aceito
nem rebolar, pra não ficar “por fora”
Já deu
quero ser autêntico
completo
inteiro
de verdade
enfim,
Deixem apenas que eu seja eu...


Beijo uma lembrança
como quem agarra com força uma ponta de esperança
suspiro lento
soluço profundo
O passado bem aqui, no presente,
querendo determinar a direção futura
O frio do abraço ausente
um perfume na memória
uma estrofe cantarolada
flores de outras primaveras
colorindo esse outono cinza
Sem chuva, pra se misturar
a lágrima caí ruidosa
Faz barulho, o silêncio
me sufoca essa ausência
me aprisiona, tanto espaço.
Beijo uma lembrança
e tento ir à tona
emergir
tomar pé
respirar
enxergar o horizonte
            me encontrar
Lavo os pés com a chuva que não cai
Fito marcas dos passos deixados no caminho
vejo a última curva que escolhi
vejo onde cada um se foi
Onde me perdi da criança
da fantasia
do sonho
do amor
da esperança...
Tantos passos/dias me separando de ser feliz
Por isso beijo uma lembrança
enquanto me banho na chuva que derramo aqui

Caiu novamente a noite
Fria e escura noite
Assim como cai a vida
Lentamente cai
escorre por entre os dedos
escapa de nossas mãos
esvai a cada instante
esvaziando a ampulheta
Contamos como acúmulo
o que já não temos mais.
Em nova segunda-feira
renasce as esperanças
nos lembrando dos meses já passados
dos compromissos assumidos
de projetos não realizados
dos sonhos abandonados.
Do tanto que descartei de mim
Das camadas, artificiais, que vesti
De tudo que não fui
         e finjo não ser.
E novamente a noite cai.
Fria e escura, como devem ser as noites
Cheias de brilho como deveriam ser as noites
         e não deveriam a fantasia que usamos.
Outra noite
mais um dia vivido (acredita-se)
mais uma semana
nova chance
outro recomeço
novas oportunidades...

E amanhã, para a maioria de nós
por falta de coragem
         ou se consciência,
a vida seguirá com a mediocridade de ontem.
E seguiremos somando os dias que já não temos
pois fingir acumular o que não possuímos
é o que fazemos de melhor...

30 de abr. de 2018

Da série "Naza erótico e explícito" - Motivos


Como resposta a uma prece,
Um insight
         Uma epifania
Entendi.
E tudo agora faz sentido.
E reforça,
Abençoa
Ilumina
Diviniza
         Deifica
Sobre nossos encontros
E minhas vontades constantes
E frequentes.
E os motivos de eu sempre querer te devorar
De me dar
De transar
         De entrar em você.
Tem esse lance de carne, sim
Ideia de sacanagens também, claro.
Mas não é só isso.
         Nem é essa a real causa.
É o aconchego
A segurança
O conforto
De poder me aninhar
Me sentir seguro
Recompor as forças
Recobrar o equilíbrio...
Enfim, é por saber de um lugar onde posso entrar
E ficar
E não precisar explicar
Justificar
Insistir
Nem brigar.
É apenas paz
E por isso sempre quero voltar
Por isso quero sempre entrar
Motivo dessa minha vontade
         Não de viver ao seu lado,
Mas de morar em você...

28 de abr. de 2018

Da série "delírios no Varanda" - Solidão ruidosa


Livre,
A garota ri
Gesticula,
Fala alto
Toma um gole
Chama a atenção
         É o centro
Novamente ri
Outro gole
Mexe no cabelo
Pede música,
Olha pro vazio
Disfarça e
Vai ao banheiro
         Sozinha
(pausa pra amenizar a solidão)
Seca o suor,
Lava o rosto,
Se olha e chora
Lembra
Pensa
Sente saudades
         e vontades
chora
lava o rosto
retoca o batom
e, bonita, volta,
sorrindo,
bebendo,
falando alto...

Da série "delírios no Varanda" - Desafinado

Tento cantar,
Não consigo.
Me calo.
Penso versos
Crio rimas, mas
sem ritmo,
me calo.
Tanto faz se pagode,
Sertanejo
Ou samba canção.
Rap, nem imagino ousar.
Se tenor
Ou em dó menor,
Não importa,
                Desafino.
Triste ironia, ser assim.
Logo eu,
que encaro a vida com ritmo
letra
e harmonia...


Da série "delírios no Varanda" - Gritos

Uma cerveja
Música no ar
                (Boa ou ruim, não importa)
Com a vista embaçada,
                - pelo álcool e pela idade
Olho ao redor
Vejo longe,
No tempo e no espaço
Hoje no Varanda
Como no Senzala,
No Bar Rio
ou no Cerrado.
Mesas vazias
Ou multidão.
Não ouço nada mais,
Quando grita meu coração
(...)

26 de abr. de 2018


E, depois desse tempo todo
hoje olhei pra mim.
Ainda enxerguei cicatrizes,
mas as feridas se fecharam.
As marcas na pele nunca sumirão,
E nelas você sempre estará.
Mas as dores não me perturbam mais.
Já respiro sem auxílio
e, se ainda choro, é por sempre tê-lo feito.
Hoje olhei pra mim.
Vi mudanças,
mas ainda me reconheço
As marcas,
         Todas elas,
estão em aqui.
Segue a vida
Segue o tempo
sigo eu
e você.
Não seguimos nós,
         (como um dia acreditamos que faríamos).
Mas seguimos sendo,
         (de alguma forma...).
Olho pra mim e,
         ao não enxergar só você,
me sinto meio cego.
Mas vejo outra realidade.
A que me alcançou aqui
a que, agora, me empresta caminhos,
que me aponta horizontes,
que me cobra velhos erros
e ensina outros acertos.
Hoje olho pra mim novamente,
não no espelho,
mas na alma
com olhos de dentro
E, com essa tranquilidade quase sociopata
vejo que o amor não passa,
         não precisa passar.
E se soma à tantos outros.
E me fortalece não esquecer de nada
         de ninguém.
Amei
Te amei
E continuarei amando,
mas me amo mais.
e, se o que sou hoje, só sou por ter cruzado seu caminho,
vou te amar pra sempre
sem me permitir sofrer,
e sem impedir que meu amor alcance outras flores.
Com novos espinhos a ferir minha pele,
abrindo novas feridas,
criando outras cicatrizes.
E, quando chegar ao final da jornada,
vou olhar meu corpo todo marcado
e sorrirei feliz,
com a certeza de carregar toda leveza de quem amou pela vida.

31 de mar. de 2018


Vai longe o lugar
E o tempo ido.
O sentimento
a meninice.
Inocência?
(nem tanto)
                mas se foi também.
O riso fácil, ainda aqui
                Ilusão
a lágrima fácil,
se escondeu
disfarçou
Mas não secou,
inunda a alma,
                afoga o coração.
Casca de forte
fragilidade maculada
máscara trincada
rabiscos quase ilegíveis
sonata desafinada.
Como dançarino bêbado
Faço da avenida, corda bamba
da calçada, palco aberto
dos sentimentos, fria coxia.
Fora de cena, canto silente.
Grito em cores escuras e cintilantes
danço invisível.
Rio por nada,
choro por tudo.
Olho pra luz
                eu, sombra
Fito a amplidão
                aqui, esse aperto imenso.
O ocaso ri de mim
O relógio, ri
a rua segue
a poeira, suspensa, fica.
Olho e vejo,
Vai longe o lugar
E meu tempo,
perdido, não sei bem onde...

25 de fev. de 2018

Não quero parecer forte,
            nem consigo.
Quero ser verdadeiro,
            eu preciso.
Irei me irritar às vezes.
Me zangarei,
posso ser silêncio ou gritaria
riso discreto, ou gargalhada
Terei certezas e muitas dúvidas
sentirei medo
tesão, por corpos e por ideias,
            muito mais por ideias, é verdade
Em meus olhos, brilho e lágrimas se alternam
Mas vou seguir
Posso me perder no caminho
mas nunca de mim mesmo
A cada dia/passo um novo eu
Sem perder de vista cada um que já fui
E sem me esquecer de onde venho

E, se nem tudo são flores,
espinhos são professores
em cada dor, nova lição.
e na alternância entre alegrias e tristezas,
            e essas são fugazes
Quero mesmo é ser feliz
por escolha e vocação...

17 de jan. de 2018

Projeto Nova Literatura Nacional - Alyne Lima

O projeto Nova Literatura Nacional, idealizado por Tatiane de Freitas e TainaBMcomeça a agitar o cenário literário no Brasil, nesse início de 2018. E surge como uma luz suave no horizonte, para novos e anônimos, escritores. Torçamos para que consiga fazer bastante barulho, tirando a poeira de nossas gavetas, prateleiras e, quem sabe, das gôndolas das grandes livrarias.
Dentro como participante do projeto, tenho agora a agradável tarefa de divulgar/apresentar a amiga blogueira Alyne Lima. E faço com enorme felicidade.


Alyne é Jataiense, leonina, estudante de Letras na UFG, leitora, escritora e feminista. Um bocado de coisa para uma garota de 20 anos.
Ela publica, com uma frequência cada vez maior em seu blog Um Café e Mil Rabiscos e em um ig especialmente criado para esse fim, com o mesmo título @umcafeemilrabiscos.
Conheci os textos da Alyne por indicação de uma amiga em comum, e virei seu leitor com a facilidade de quem encontra algo que realmente faz bem.
Seus textos, maioria crônicas do seu cotidiano, textos de opinião, belas e instigadoras resenhas de livros, filmes e séries, são fáceis de ler, suaves, quase ritmados. Leitura realmente agradável, envolvente, que esclarece, provoca reflexão e emociona. E sempre deixa aquele desejo de saborear novamente, e de encontrar novos textos sem demora.
No entanto tive o enorme prazer de conhecê-la pessoalmente, quando ela se inscreveu no 1º Concurso Literário Deriva, ocasião em que pude conhecer um pouco melhor seu lado poético, vertente menos presente entre suas publicações mas, em minha opinião, onde suas palavras adquirem mais força. A poesia da Alyne é visceral, por vezes muita dura, direta, afiada, poderosa. Alyne ficou em 2º lugar na categoria Poemas, com seu belíssimo “Talvez seja cedo demais para me definir”.
Alyne tem essa coisa de não se esconder. Ao escrever, ela se desnuda. É fácil encontrar, em seus textos, uma declaração, uma confissão, uma crítica dura, convocações para enfrentamentos diários. É feminista e, com toda delicadeza forte que habita todas as mulheres, ela nos lembra disso com frequência, para que não nos esqueçamos da luta constante que precisamos travar, na construção do mundo na qual ela acredita ser melhor viver. E, se ela acredita, pode apostar, eu creio também.
Já que teve coragem, e não virou administradora, como ela nos conta que seu pai pretendia pra ela, espera poder viver da escrita, mas tem consciência das dificuldades que o mercado apresenta aos iniciantes. No entanto, mesmo sabendo das dificuldades, não desiste dos seus sonhos. Sorte a nossa.
Alyne pretende finalizar alguns contos esse ano. Estou aqui torcendo para que eles cheguem o mais rápido. Nós, leitores, merecemos.
Bem, agora você sabe um pouco sobre Alyne Lima, então não perca tempo, pegue uma xícara de café, e vem comigo mergulhar nas emoções, sentimentos e sensações causadas por tão agradáveis rabiscos.

8 de jan. de 2018

??

A segunda-feira me alcançou novamente
E dessa vez trouxe, outra vez, a velha emoção
Doce meninice
Sensibilidade à flor da pele
Lágrima ousada, fácil
Desejos do que passou
Saudade do que virá
Sentimentos em turbilhão
ao mesmo tempo,
                Nesse meu peito
Calmaria e furacão
Medo de estar errado
Certeza da correção.
Orgulho do que vivi
medo do agora
Pra onde vou?
Dúvida,
insegurança
excitação
O que me reserva essa jornada?
Haverá Caís?
Correntezas?
Âncora?
Jangada?
Ou balão?
‘Crescer dói’,
me lembra novamente essa segunda-feira.
Mas, por alento
                como bálsamo
Trouxe de volta o garoto de cara suja e coração florido
não me deixando esquecer que há cores e perfumes
que devemos sorrir
sentir
amar
chorar
experimentar dores e prazeres
E assim a vida segue, e nos amadurece.
Nosso trabalho é não perder a criança
sob pena de morrer
                ou pior
ser infeliz.