Querida
amiga, pensei em escrever uma carta, daquelas com caneta, papel e que usa selo
impresso colado no envelope para chegar ao destinatário, pelas mãos de um
carteiro. Mas a urgência por me expressar foi maior. Não consegui me conter.
Então,
seguindo com a conversa iniciada a muito (provavelmente bem antes de termos nos
conhecido), e não concluída (pois algumas jornadas são eternas, e algumas
lições nunca devem ser esquecidas, sob pena de não serem aprendidas, ou
rapidamente esquecidas). Sabe, querida, minhas certezas são apenas minhas, e
são fruto de observações atentas do mundo à minha volta e, por consequência,
das pessoas que me cercam. Mas sei que por vezes essas minhas verdades vestem
muito bem outras pessoas. Por isso gosto de compartilhar meu modo de encarar o
mundo.
Então,
veja, quanto podemos aprender observando a vida do Oswaldo Montenegro, esse
cara que admiramos. Acho até que ele não se dá conta. Mas isso só aumenta a
beleza da coisa.
Como
já disse antes, em textos e em conversas rápidas, vejo que temos grande
dificuldade em entender esse sentimento maravilhoso, rico enriquecedor e
edificante que é o amor. Fomos moldados de forma distorcida. Ao longo da
história, sobretudo aqui no ocidente, fomos levados a confundir não só nossos
sentimentos, mas também nossa percepção a cerca de tudo que nos cerca.
E
o amor foi um dos sentimentos que mais sofreu distorções, nesse percurso.
Obrigamos-nos
a ligar, sempre, amor com sexo, e/ou laço como namoro, casamento e alhures.
Sim,
é bom ser querido. É ótimo saber que alguém nos ama. E é maravilhoso estar em
um relacionamento onde somos correspondidos em nossos sentimentos. Mas o amor,
assim como todo sentimento que temos, é sentido de forma um tanto solitária. E
é muito injusto, com nós mesmo, e com a pessoa que está comigo, exigir que o
sentimento seja partilhado na mesma intensidade e profundidade.
Também
é injusto com todos, sobretudo com nós mesmos, negligenciar, negar, ou pior
ainda, sufocar intencionalmente o amor que sinto por alguém, só pelo fato de
não conseguir construir uma relação com essa pessoa.
E
é exatamente isso que a maioria de nós faz. Boa parte das pessoas vive, e
morre, infelizes, devido essa cobrança injusta.
Deixamos
de acreditar no amor, porque a pessoa que amo não quer me namorar. Matamos-nos,
e matamos a outra pessoa (sobretudo se sou homem e a outra pessoa for mulher),
por achar que somos donos, ou propriedades de quem nos desperta esse
sentimento. E alguns se obrigam uma vida inteira de infelicidade, ao lado de
alguém, por quem temos amor, mas que é incompatível para se construir uma vida
a dois.
Tudo
pode parecer confuso, e maluco demais. Mas não é. E o Oswaldo e a Madalena
estão aí para nos mostrar isso na prática.
Não
sei em que ponto eles entenderam isso. Mas entenderam. E ainda bem.
Veja,
minha amiga, existem pessoas que acendem em nós uma chama que as outras pessoas
não podem acender. Um sentimento com força para nos influenciar como nenhuma
outra. E que, quando compreendido, nos eleva como seres humanos. Nos faz melhores.
Nos leva querer sermos melhores. Nos aponta o caminho não apenas da felicidade,
mas da iluminação, nos fortalecendo e nos encorajando à cumprir nossos talentos
e nossas missões nessa existência.
E
tudo isso é muito forte, é muito intenso. É muito bom. Pode ser muito bom.
O
problema é que nos contaram uma história equivocada, de que é com essa pessoa
que eu devo me casar, ter filhos, construir uma família, e Tal. Ou é isso, ou
devo me afastar dessa pessoa, apagá-la de minha vida, eliminar toda marca dela
que possa existir em mim. E, em alguns casos, assumimos que, se ela não ficar
comigo, então não ficará com mais ninguém. E nos tornamos assassinos. Ou
suicidas.
Mas
o fato, minha querida, é que não precisa ser necessariamente assim.
Sim,
eu quero ter por perto a pessoa que me desperta o amor. Mas não devo me sentir
proprietário, nem propriedade, dela. Pode mesmo acontecer de não rolar um
romance. Pode mesmo não haver reciprocidade do sentimento. Mas, se o amor que
eu sinto é meu, o importante é que eu o sinta, e tente materializar as reações
que ele provoca em mim. Daí, querida, é necessário reconhecer todo bem que esse
sentimento me faz. Assim, devo reconhecer, também, todo bem que a pessoa que o
desperta me proporciona.
Mas
preciso compreender, e aceitar que nem sempre será com essa pessoa que eu irei
pra cama. Pode ser que aconteça. Mas pode ser que não. E, os motivos de não
rolar, podem ser os mais diversos. E isso não deve me tornar infeliz.
Da
mesma forma não deve ser motivo de tristeza e infelicidade, o fato da pessoa
que eu amo se enamorar por outra pessoa. Eu também irei me enlaçar com outra.
Faz parte da construção da vida.
E
não estou dizendo que devo aceitar passivamente uma situação, de forma
acomodada, e sofrendo com ela. Não é isso. Também não significa construir uma
relação embasada em mentiras ou coisa assim.
Se
por um lado existem poucas pessoas que nos despertam o amor. Por outro, é um
pouco maior, sorte nossa, o número que pessoas que nos despertam desejo, que
nos é boa companhia, que nos dá a segurança que precisamos para constituir uma
família. Se essa pessoa também nos despertar o amor, tanto melhor. Mas se não
for. Então que eu me case com ela, e tenha por perto aquela que me torna
melhor. O mundo todo agradecerá, inclusive a pessoa que me for escolhida como
cônjuge.
E
sim, acho que tudo fica muito mais rico e pleno, se o sentimento for declarado,
como no caso de Oswaldo e Madá.
“Não
tenha ciúmes, querida. Eu amo essa mulher, mas é com você que quero envelhecer
e criar netos”
Também
podemos ter esse grande sentimento despertado por alguém incompatível para
relação, como nos ensinaram. E por vezes a confusão que nos causa é muito
maior, e com conseqüências muito desastrosas. Por exemplo, sendo eu hétero, fui
ensinado que não posso amar alguém do mesmo gênero. Que isso me fará homo,
diferente, errado. Mas, veja que eu disse AMAR, e não transar. Só que, como
fomos condicionados a não enxergar as coisas de forma correta, sempre que eu
amar alguém, vou achar que devo ter desejo sexual por essa pessoa. E se ela for
um amigo querido, não aceito, por não entender. E matamos o que de melhor pode
haver em nós, por pura incapacidade de amar verdadeiramente.
Sim. Esse é o mais puro e verdadeiro amor. O amor de Deus que foi a nós compartilhado. Ame o amigo, ame o irmão. Mas os preconceitos e as convenções tem distanciado cada dia mais as pessoas. Ao contrário do que se apregoa, as pessoas estão mais preconceituosas do que nunca. Antes, só poderia ter amizade com pessoa do mesmo sexo, uma amizade com o sexo oposto ou era romance ou era adultério, se essa pessoa tivesse um outro "relacionamento amoroso". Hoje está ainda mais complicado, pois não se pode ter muita aproximação com pessoa nem do mesmo sexo, pois já será julgado como relacionamento homossexual. Essa sexualização das relações é que tem levado as pessoas se fecharem com relação aos seus sentimentos verdadeiros, puros. Não demontrarem mais afetividade e que culmina na solidão. Tema do seu texto postado hoje.
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