28 de dez. de 2014

Para 2015

Ao escolhermos um voo, ou um ônibus, no qual embarcar, sabemos previamente de todo itinerário. Conhecemos o roteiro, sabemos quantas escalas faremos, e quanto tempo levará até a chegada ao destino. Tudo é preciso, planejado e conhecido. Cabe a cada um aproveitar, à sua maneira, a viagem.
Quando embarcamos na vida, no entanto, não temos nenhum roteiro prévio. Não conhecemos o roteiro, nem sabemos se haverão escalas, ou quantas serão. Quanto tempo em cada estação? Só saberemos quando de lá estivermos partindo. E, quais serão os nossos companheiros de viagem, também não sabemos. Vamos conhecendo pelo caminho.
Mas, também nesse caso, cabe a cada um aproveitar, também à sua maneira, sua viagem.
Por vezes nossa estrada cruzará a de outros viajantes. Às vezes mais de uma vez. Em certas ocasiões permaneceremos na mesma estação por algum tempo. Para, depois nos separarmos (às vezes com certo pesar, ou mesmo com muita dor).
E, como o roteiro não está previamente definido (ao menos não o conhecemos), podemos ir decidindo qual será o próximo destino a cada nova estação. E aqui se encontra a nossa única possibilidade de decisão nessa jornada. Escolhemos qual a próxima direção a ser tomada. Mas não temos nenhuma ideia de onde ela nos levará. Muito menos como será essa viagem (pois o trajeto é sempre mais importante que o porto onde aportaremos).
Para facilitar um pouco nossa vida tomamos o tempo que esse frágil planetinha azul leva para dar uma volta em torno da estrela que o aquece, como delimitador do tempo, após o qual convencionamos que devemos avaliar tudo que já percorremos até aqui, e para planejar os próximos passos. Mas, como assim, planejar? Se não podemos definir os detalhes dessa viagem.
A cada novo ano, esperamos que tenhamos, cada um de nós, aprendido coisas novas. Coisas que, mesmo que não nos torne mais "maduros", ao menos tenham agregado em nós conhecimento suficiente para não cometermos os mesmo erros, e para aceitar que cometeremos vários outros, e será exatamente isso que nos proporcionará mais crescimento.
Hoje, ao analisar meus próprios "balanços" anteriores (e também de quase todos que me chegam), percebo quanto egoístas eles costumam ser. Ao avaliar um ano que acaba, pouco importa se foi bom para a coletividade. Se para mim não foi assim tão bom, então avalio negativamente. Um bom ano, no ponto de vista de cada um, se refere apenas sobre como o ano foi para essa pessoa. E não para ela inserida em um grupo maior, que convencionamos a chamar de sociedade. Por outro lado, se minha fortuna é maior ao fim de dezembro, do que era em janeiro, então digo que o ano foi bom. Mesmo que todos em minha volta tenham perdido tudo que possuíam (às vezes para que minha riqueza aumentasse).
Os anos, e todas as estações percorridas por todas nós em cada um deles, eu espero que nos tornem pessoas, que consigam identificar cada vez mais o grande  laço que nos une ao planeta. É necessário que a cada novo dia percebamos, e aceitemos, que não somos, nem vivemos em ilhas.
E é com esse sentimento que procuro externar o sentimento que tenho, ao findar de mais uma volta de nossa humilde casa em torno de seu orgulhoso par, nessa dança vital.
2014 não foi um ano fácil. Nem para nós. Nem para os deuses. Eles tiveram que reforçar o time, e levaram daqui alguns dos nossos melhores craques, como nosso primeiro, e maior funkeiro Jair Rodrigues; O poeta menino João Ubaldo, Gabriel Garcial, esse colombiano universal; O humilde Canarinho; Suassuna, esse criador de ilusões; O heroico Rafa Soares; Joe Cocker; O último dos Ramones; Até Roberto Bolanõs cismou de, "sem querer querendo", partir daqui.
Mas o ano também reforçou a presença de alguns seres quase iluminados entre nós, o que, ao menos em mim, ajuda a reacender a esperança na raça. Existem mais de uma dúzia desses, mas como alguns são completamente desconhecidos (como de fato eles preferem ficar), vou citar apenas os dois que mais fortemente aparecem no horizonte. (Antes um parente para dizer que me alegro muito pelo fato de os dois maiores exemplos vivos, ao menos pra mim, serem sul-americanos). Trata-se do Uruguaio Pepe Mujica e do Argentino Jorge Bergoglio. Líderes que dão o melhor exemplo que se pode esperar.
E, se para mim o ano não foi exatamente o que esperava, afinal o velho Capézio, coitado, nem saiu da caixa, e nenhuma cachoeira me banhou, também não foi motivo para que eu o maldigue. Foi um ano cheio. Cheio de gols indesejados, de manifestações preocupantes e de beijos incompreendidos.
Aprendi com, e gostei do, balanço geral.
Falta muito pra todos nós. E não podemos nos permitir certos retrocessos. Mas no geral foi bom.
E, sem querer me comprometer além das próprias possibilidades, para 2015 não faço promessas, pois aprendi que elas podem nos aprisionar. Mas tenho desejos e alguns sonhos.
Em primeiro, gostaria que ao final de 2015 cada pessoa, ao analisar seu ano, o faça com foco nos benefícios, e perdas coletivas, e não apenas no individual;
Que algumas noites animadas nos tragam ressacas físicas, e que os motivos tenham sido compartilhados com o máximo de pessoas possível;
Que algumas noites animadas nos tragam, também, alguma ressaca moral, mas nesse caso, que os motivos sejam apenas meus (depois de tanto tempo aceitei que não tenho vocação para santo, nem para falso moralista. E pagar algum mico faz sim, parte dessa viagem);
Que todos aprendamos a enxergar a diferença entre necessidade real e as criadas pelo mercado;
Por fim, que façamos boas escolhas, e que tenhamos muitos bons motivos (para nos alegrar, para nos orgulhar, para crescer, para nos divertir, para sermos livres, para ficar em casa e para sairmos, para baladas, para nos arriscar mais, para nos preocupar com o mundo, para desejar, para nos aquietarmos e para nos agitar. Enfim que tenhamos motivos para seguirmos vivendo plenamente, já que essa é nossa jornada, e ninguém pode percorrê-la por nós).
Fechando, me permito compartilhar artigo publicado pelo Diário da Manhã nesse dia 30/12/2014: Leia aqui.

4 de dez. de 2014

Equilíbrio

Tênue ponto em que nos equilibramos.
Existe por um instante tão fugaz
que nem se pode mensurar.

É o que escapa da eterna disputa que regula o tempo
e define nossa existência.

Desprezado pelo futuro
            (como velhos "bois de piranha")
para aplacar, um pouco, a fome do devorador em seu encalço.

Devorado em um instante
sem sequer poder lutar.
Mesmo assim é o que permite nossa história.
Tudo que foi.
Tudo que será.

E, equilibrando nesse ponto.
Saltando para o próximo,
sem descanso
            (ou somos devorados juntos)
É que existimos.

E não temos nada mais,
além do agora
            que passa
            que passou
            que passou (...)
Que passa cada vez mais rápido
e mais próximo o devorador está.
E, a cada instante devorado,
mais breve é cada agora.

Nesse ponto em que habitamos
            no ínfimo ponto onde quase se intersectam, futuro e passado,
não existe o que farei
tampouco o que eu fiz.
Apenas o que faço

Insaciável, o passado tem mais fome ao devorar.
Nesse paradoxo maldito
            que não inclui o perseguido
Em breve tempo, o alforje do futuro
não terá novo agora pra retirar.
            E não haverá mais o ponto, onde nos equilibrar.

Se tão breve é o presente
basta de perder tempo.
Cante, abrace, cante, ame.
Seja livre e verdadeiro.
declare, grite, sorria, chore.
Viva mesmo, intensamente.
            (pois a cada novo agora),
o que importa é ser feliz!