Ele a abraçou. Aconchegou a
cabeça dela em seu ombro, e apertando com firmeza, carinho e cuidado, sua
cintura.
Ela ainda estava triste, mas o
medo começou e se dissipar naquele exato
momento. Ela sabia que estava segura.
Algumas lágrimas ainda caíram, mas
em pouco tempo ela já estava bem mais calma.
Aquela serenidade que conhecia
tão bem a envolvia novamente. E nada nesse mundo lhe fazia tão bem. Não havia,
em todo mundo, melhor lugar para se estar, do que aquele abraço. E ela ficou
ali, por algum tempo.
Coisas ruins acontecem o tempo
todo, a todo mundo e em todos os lugares. Com ela não era diferente. Perder a
mãe não estava nos planos. Não ainda. Afinal sua mãe era uma senhora ainda bem
jovem. E sempre foi muito saudável. Mas os infartos não escolhem pela
aparência. E a escolhida da vez foi a bela mulher de 53 anos.
Foi forte o quanto pode. Cuidou
das coisas práticas. Recebeu familiares e amigos. E, apesar da própria dor,
procurou confortar seu pai. Mas após o enterro, ao chegar em casa, sentar-se à
mesa da cozinha, tomando um copo de água, nesse momento ela se deu conta. Foi
só aí que “sua ficha caiu”. E ela chorou desesperadamente.
Ao ouvir seus soluços ele veio.
Chegou em silêncio, pegou sua mão, a abraçou, do jeito que sempre fazia.
Deixando seu corpo inteiro gritar que ele estava ali, com ela para compartilhar
tudo, e para sempre.
Quando se abraçavam assim,
nenhuma palavra precisava ser verbalizada. Ambos sentiam a intensidade do amor
que tinham um pelo outro, e por si mesmos. Graças ao amor que recebiam um do
outro, aprenderam a valorizar o amor que cada um sentia por si mesmo.
Bastava um abraço e, se os
problemas não se resolviam, com certeza eles se alimentavam de força para
enfrentá-los.
Após 11 anos de casamento,
alguns esperariam que isso houvesse mudado. E mudara. Se tornava a cada ano
mais intenso, verdadeiro e presente. Se é que fosse possível aumentar as
demonstrações de carinho entre eles.
E não importava o que os outros
esperavam ou pensavam. Eles sabiam o que sentiam. Dividiam isso de forma tal,
que nem pensavam em viver um sem o outro. Era aquele abraço que lhes davam
força para enfrentarem problemas, para criarem os filhos, para a rotina de
trabalho e, sobretudo, para serem felizes em tempo integral.
Ela, apesar de todo esse tempo,
se surpreendia com a capacidade que o abraço do seu marido tinha em lhe dar paz
e segurança. E, mesmo nesse momento de dor tão forte, não foi diferente.
Sabia que sentiria a falta
da mãe por muito tempo, ou para sempre. Mas, já respirando profundamente, e
secando as últimas lágrimas, sabia que sempre teria aquele abraço onde se
refugiar toda vez que a dor fosse mais forte.
Ficaram ali, de pé, na cozinha
por mais um tempo. Eles nunca sabiam definir se era uma eternidade ou uma
fração de segundos, pois passava tão rápido, mas era sempre o suficiente para o
efeito terapêutico de que necessitavam.
Ela deu-lhe um beijo no rosto,
tomou mais um gole de água e saiu.
Ele sentou-se, olhou para o
infinito e chorou em silêncio, não de tristeza. Apesar de sentir a perda da
mulher que lhe era como uma segunda mãe. Mas chorou de felicidade e
agradecimento.
Ele estava exatamente onde
planejou estar desde que era um garotinho desajeitado, com grandes óculos e sem
muita coordenação.
Tinha 8 anos, quando, voltando
da escola alguns garotos derrubaram suas coisas e ficaram rindo dele. Quando se
abaixou para recolher seus livros, percebeu a presença de alguém. Ela não
estava zombando dele, como os outros. Colocaram tudo na mochila novamente, e
ela deu-lhe a mão para ajudá-lo a levantar-se.
Foi apenas um toque naquela
mãozinha tão delicada e macia. Mas foi o suficiente para ele sentir que todo
força do mundo estava nela. Nunca mais se afastou.
Não sabia ele, quando criança,
que a força que sentiu não estava nela, nem nele. E não existiria hoje, se não estivessem juntos.
Pois toda a força do mundo, aquela capaz de resolver todos os problemas, só
existia por que eles se completavam.