18 de ago. de 2010

Protagonismo ou figuração? A escolha é nossa

Conversa preguiçosa, aquela logo após o almoço, quando o corpo quer mais é se deitar para um cochilo. Em determinado momento meu amigo comenta “é assim mesmo, a coisa chegou nessa situação e hoje em dia não se pode mais mudar”.
Ele falava sobre uma matéria de jornal que abordou o crescimento “absurdo” no número de veículos nas cidades brasileiras, e todos os transtornos que isso tem causado e todas as conseqüências que isso ainda irá nos trazer.
Na hora eu concordei com ele. Concordei mais pela preguiça do momento e a vontade apenas me esparramar ainda mais no sofá e aproveitar minha curta sesta. Mas isso ficou martelando em minha cachola.
Olha que coisa mais sem noção, essa que fazemos. Admitimos que a situação “está assim e não se pode mudar”, como se nossos hábitos e costumes coletivos nos fossem enviados por alguma entidade de outra dimensão, que só nos cabe aceitar, e pronto.
Nos esquecemos que somos nós, seres humanos habitantes desse lindo geóide azul, que criamos cada novo costume, todo movimento cultural, mania, modismo e movimentos sociais. tudo isso é obra da vontade humana. Então não podemos ficar nessa de nos colocar de vítimas passivas. Tudo que acontece é culpa nossa. Precisamos assumir isso, e as consequências, é claro.
Mas o ponto da minha divagação não foi sobre a culpa. Afinal ela não está em discussão, já é pauta vencida. O que me tirou o sossego foi o fato de meu amigo e eu (e acho que grande parte da população) acharmos que não se pode mudar um hábito ou um costume, qualquer que seja.
Ora, se “o que somos é a conseqüência do que pensamos” (como nos ensinou Buda) e de como agimos e, se todo padrão de comportamento é definido pelas pessoas, então é claro, que nós sempre devemos ser capazes de altera-lo, quando eles se tornarem inadequados ou prejudiciais.
O pensamento de que “não podemos fazer nada” nos diz que devemos agir sem pensar, “ir na onda”, nos tornar mais um na massa, sem nos preocupar se o que estamos fazendo é certo ou errado, ou se trará conseqüências, boas ou ruins, para quem quer que seja. Mas não precisa ser assim. Somos dotados de uma grande capacidade de raciocínio e temos, ou deveríamos ter alguns princípios que devem ser considerados, em todos os nossos atos. Ou será que, por que alguns xingam, gritam e agridem o próximo, no trânsito, eu tenho que agir da mesma forma? E ‘na política’ só tem corrupto, por isso tanto faz eleger o fulano ou o beltrano, todos são iguais e não podemos fazer nada. Afinal, “é assim mesmo”. É nisso que eu acredito? Isso me trará algum benefício ou contribuirá para construir um mundo melhor? Ou para reduzir os engarrafamentos? Se pensarmos um pouco antes de agir, certamente muitas ações serão evitadas, e várias mudanças poderiam acontecer.
E nossas preferências. Será que eu tenho alguma? Ou devo apenas agir sempre seguindo a moda ditada por uma pessoa ou pequeno grupo, que vive em lugar distante do meu, tem história totalmente diferente da minha e com condições social e financeira distintas da que temos aqui? E serei obrigado a “adorar” um determinado estilo musical, apenas por que uma gravadora decidiu que é isso que eles querem vender agora? Acho que não, para isso e para isto. Devemos ser capazes de decidir por nós mesmos. Ter nossos próprios gostos e preferências. E, sobretudo, agir conforme nossos princípios (e devemos tê-los) escolhendo o comportamento que seja o melhor não apenas para mim, mas para o grupo social onde estou inserido e, de certa forma, para toda população.
O papel de definir os hábitos, costumes sociais e padrões de comportamento, é nosso. Mas há tempos entregamos essa função às pessoas portadoras de CNPJ. E, desde que as corporações (sobretudo as empresas ligadas à comunicação e produção pseudo-cultural) passaram a decidir quem devemos ser, como devemos agir e qual aparência devemos ter, nós passamos a pensar, agir, nos vestir, pintar os cabelos, fazer regimes e repetir canções e jargões sem sentido e que ajudam a fortalecer o controle que tem sobre nós e nos manter como meros repetidores que somos hoje.
Mas, eu quero ser autor e protagonista da minha história, não mero figurante. E você?

Um comentário:

  1. Temos total controle sobre nossas decisões pessoais (ou nem tanto, afinal as influências ocorrem, inclusive, no plano subconsciente), mas mudar o comportamento do grupo é para uma entidade com poder de decisão maior. Infelizmente os responsáveis por essas decisões (entidades poderosas), na maioria das vezes, não pensam no grupo, e sim neles mesmos. Dessa forma as decisões não são as mais inteligentes. Para ser protagonista é necessário ser uma entidade ou entrar para uma.

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