Minha amiga Lidiane Vilela me brinda no meio da tarde de quinta-feira com um belo texto do cronista José Antônio Oliveira de Resende, que escreve no periódico Folha das Vertentes, la de São João del-Rei, nas Minas Gerais. O texto muito envolvente, lembrando das visitas que o cronista fazia, com sua família à casa de amigos, quando era criança. Não pude passar ileso ao texto envolvente do “Zé Antônio”. Não tive saída a não ser agradecer à querida amiga e discorrer um pouco sobre as minhas próprias visitas.
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Querida Amigalidi,
Outro dia me peguei mais uma vez brigando comigo mesmo, ao ser repreendido por um amigo. É que eu, de repente, chamei umas pessoas para irmos visitar um outro amigo. Seria uma visita assim "de supetão". Como as que fazíamos lá no interior, quando ainda tomávamos leite trazido por um simpático senhor, que logo pela manhã tocava uma buzina engraçada em nossa porta, e alguém ia até a carroça parada na rua.
Estou aqui, Lidi. Goiânia não é a maior cidade do mundo, mas ja é uma metrópole. Vivo aqui a quase meia década. Posso dizer que ja me ambientei bem a essa vida. Mas continuo interiorano.
Continuo querendo pedir uma xícara de açúcar ao vizinho. Continuo querendo andar quinze minutos e ja está fora da cidade, no mato, em alguma cachoeira ou algum campo onde encontrar gabirobas ou apenas passar o tempo no constante clima de aventura. Continuo querendo comer araçá todos os anos. E ainda tenho saudade de ter os dentes grudados pela massa do jatobá.
Sair pela manhã e ficar na rua o dia todo, chegar em casa no final da tarde, imundo da cabeça aos pés, com o cabelo vermelho e a pele quase negra, de tanto sol (a preocupação que a Dona Felisbina tinha comigo era com possível afogamento, ou eu ser ofendido por algum bicho peçonhento (pra evitar isso ela sempre me mandava comer um dente de alho antes de sair de casa)).
Agora querem que eu fale antes com todo mundo que pretendo visitar. "É pra não perder a viagem", dizem alguns. Perder a viagem? como alguém pode perder a viagem ao ir visitar uma pessoa amiga? pode até ser que a pessoa não esteja em casa. Isso é normal, afinal as pessoas saem (ainda bem que ainda saem de vez em quando). Mas isso não significa perder a viagem. O fato de ir até a casa de quem se gosta ja promove um envolvimento com a pessoa. Enquanto me preparo, e me desloco até a casa de alguém, eu me ocupo dela. E isso ja é agradável. Se ela não estiver em casa, você deixa um sinal de que esteve lá, e volta, feliz por ter ido visitar um amigo.
Me lembro que minha mãe tinha o hábito de colocar um ramo no portão (cancela ou porta), sempre que chegava pra visitar alguém e não tinha ninguém em casa. Isso além de deixar um pouco da energia dela, ainda criava certo mistério. Pois ao chegar o morador saberia que alguém estivera alí, mas teria que descobrir quem fora (tera sido a comadre Zéfa? ou a Maria do Mundico? Ou o compadre Severino? Ou será que foi "as menina" da Tiana? (...)).
É estranho pra mim, Lidi. Se uma conversa por telefone resolve, eu ja resolvo com uma conversa por telefone, não vamos conversar tudo antes, e esvaziar a visita. Não concorda?
Hoje não se vai até pra ver se se pode ir. Antes, eu me lembro, a gente ía até pra avisar que não poderíamos mais ir.
Eu gosto mais assim.
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