Estava
aqui me lembrando (não sem me emocionar, é claro) do belo personagem central do
filme “A espera de um milagre”. Acho que todos se lembram desse filme, baseado
no livro de Stephen
King. So pra refrescar a memória de alguns,
trate-se da história de um condenado à morte, em uma cidade ao sul dos Estados
Unidos. Brilhantemente interpretado por Michael C. Duncan, o prisioneiro John Coffey é uma dessas figuras
controversas. Negro enorme, corpo sofrido pelo trabalho pesado que sempre teve
que fazer. Analfabeto, sem nenhuma cultura e vivendo em 1935 em um país
altamente intolerante com os negros (sobretudo naquela época). O arquétipo
perfeito do homem rude, violento e truculento, certo? Mas o pobre John Coffey,
ao contrario, era doce, ingênuo, encantador, totalmente pacífico e muito
infeliz. Ah! Claro, inocente. Mas esse fato não importava muito. Ele tinha o
perfil do culpado modelo. Foi executado, para seu próprio alívio.
Outro filme de que gosto muito, nos
mostra outra figura excêntrica, e por isso mesmo, merecedor de nossa repulsa,
reprovação e, quando conveniente pra nós, exploração. Em “Edward Mãos de
tesouras”, Johnny Depp, no papel título
da um show de interpretação. Mas a história mostra nossa intolerância com os
diferentes. A mesma intolerância que levavam os leprosos a se exilarem em
cavernas, nos tempos evangélicos, e ainda hoje nos torna menos evoluídos.
Outra história que me vem à mente é a
condenação de Manoel da Motta Coqueiro. Fazendeiro que em 6 de março de 1855
foi condenado a morte, acusado de mandar matar uma família inteira de colonos.
Ele também tinha o arquétipo do culpado. Sempre carrancudo, poderoso, com
vários inimigos e acusado de ter engravidado uma jovem, que foi inclusive a
única sobrevivente da família morta a golpes de facão. A justiça da época não teve muito trabalho. Nem precisou aprofundar nas
investigações. Todos tinham certeza que Motta Coqueiro era o mandante. Ele foi
enforcado em praça pública, e momentos antes de morrer se declarou, outra vez,
inocente, e perdoou a todos que o condenavam (também lançou uma maldição na
cidade). Tempos depois, provas de sua inocência foram encontradas. O que levou
o imperador a banir a pena de morte do Brasil. Mas e daí, ele já havia morrido.
E sua esposa, também. Pois essa enlouqueceu com a morte do marido, e meses
depois se matou.
Outras tantas histórias podem ser
citadas, para nos lembrar de como temos facilidade em condenar a todos que nos
parecem culpados e o quanto somos intolerantes com os que não se enquadram no
perfil comum. Mesmo que a diferença seja causa e conseqüência de sofrimento.
Como no caso do belo Edward Mãos de Tesouras.
Assim como Edward e John Coffey,
Michael Jackson era publicamente infeliz com sua condição. Não com sua condição
financeira, é claro. Mas com o que era, ou com o que foi levado a acreditar que
fosse. Não se achava feio, se achava desprezado (e foi mesmo, pelo pai). E não queria
deixar de ser criança. Mas o que há de tão ruim em não se aceitar fisicamente?
Quantas pessoas se reprovam? E fazem cirurgias, e muda o cabelo, e mudam a os
lábios, e mudam a bunda e os seios. E colocam tatuagens e tiram imperfeições,
que para alguns era o que de melhor havia em seus corpos. Michael fez o que
pôde. Claro que ele podia muito, afinal tinha muito mais dinheiro que a maioria
de nós.
Michael, assim como Motta Coqueiro
foi condenado, por toda imprensa e por alguns idiotas aproveitadores. Não foi
condenado à cadeira elétrica, como Coffey, mas não tenho dúvidas que as
acusações reforçaram muito sua dor. E que provocou, em grande parte, sua
clausura dos últimos anos, e acelerou sua morte.
Tenho lido várias análises da
personalidade de Michael Jackson, e sempre ressaltam sua infantilidade
irresponsável. Sua tendência à pedofilia. Alguns dizem que ele vivia em um
mundo distante do mundo real.
Ora, fico pensando, sobre que prisma
esses “analistas” olham para saberem em que mundo aquele garoto viveu? É muito
mais fácil demonizar alguém do que ressaltar suas qualidades. Ainda mais alguém
tão “excêntrico”. Mas, mesmo depois de Jordan Chandler, o garoto que supostamente teria sido abusado por
Michael, ter confessado que “tudo não passou de uma mentira elaborada por seu
pai”, a imprensa, e alguns psicólogos e psiquiatras continuam achando
motivações para o fato de Michael ter se tornado pedófilo. Não quero aqui ficar
defendendo de forma chata. Mas eu deixaria, tranquilamente, minhas crianças
conviverem com Michael, pois a melhor companhia para crianças, são as próprias
crianças. E, o fato de gostar da companhia não significa gostar de fazer sexo
com alguém. Meus melhores momentos foram (e são) passados na companhia de
alguns bons amigos, e nem por isso eu faço sexo com eles. Pensamento muito
pequeno esse.
Quanto à viver em um mundo infantil,
sem assumir as responsabilidades com tudo ao seu redor, outra avaliação errada.
De quem não procurou saber nada da vida desse garoto.
Para os que pensam assim faço dois
convites. Primeiro, ouçam as suas músicas. Mas ouça de verdade. Vejam o que ele
diz na grande maioria delas. Quem se dedica a isso, percebe que um tema muito
presente, é a gratidão a quem tenha sido bom com ele. O que já mostra certa
grandeza de espírito, pois muitos que hoje tem fama e fortuna, se esquecem (ou
fazem questão de não lembrar) dos que contribuíram para isso. Mas o estudioso
iniciante pode se surpreender com a forte presença do tema “amizade” em suas músicas.
Ocorre com muita frequência. Quer seja falando do apreço por algum amigo, da
importância da própria amizade ou cantando a falta de um amigo que não está
mais próximo. E quem gosta de “Imagine” de Lennon, se for desarmado
à analise, vai perceber que “Heal the world” tem uma mensagem tão forte e
direta quanto aquela. So que mais completa, e cantada com muito mais suavidade
e emoção. E “They don't care about us”, um grito forte (tão forte quanto
“Haiti” do Caetano) denunciando a
segregação que ainda impera nas relações humanas. Essas duas so pra citar, mas
o convite se estende a toda discografia. Ninguém que se dedique a ouvir Michael
Jackson vai se arrepender. Mesmo que não se toque pelas belíssimas letras, vai
oferecer um alívio aos seus ouvidos, nesse mundo cheio de lixo musical. Veja
que não incluí aí o hino (à paz e à igualdade e a fraternidade entre os povos )
“We Are The World”.
Aqui entra o segundo convite que faço
aos analistas da personalidade de Michael de plantão. Procurem conhecer um
pouco do muito que aquele garoto despreocupado
e sem responsabilidades fez pela humanidade. E agora não
estou falando de sua bela música nem do seu magnífico “flutuar”. Estou falando
de toda ação humanitária que ele desenvolveu. De tantas pessoas que ele ajudou,
e ainda ajuda, em todo planeta. Querem ouvir uma opinião verdadeira sobre
Michael Jackson, perguntem a Nelson Mandela. So para orientar os iniciantes,
vou deixar uma pequena relação dessas ações da pessoa Michael Jackson.
Pra
começar, como já citei “We are the world”, lembro da campanha USA for Africa
que arrecadou cerca de US$ 200 milhões. Mas não para por aí. Os analistas que
se esforçam para consolidar a imagem distorcida de Michael Jackson, criada pela
imprensa e por alguns poucos aproveitadores, sabiam que ele doou todo
faturamento da turnê mundial "Dangerous World Tour" para caridade?
Isso mesmo, eu disse TODO FATURAMENTO. Mas
não é so isso. Em novembro de 1992 a “Heal The World Foundation”, fundação
criada e mantida por Michael, enviou 42 toneladas de suprimentos para as
crianças de vítimas da guerra em Sarajevo. Os suprimentos Incluíam
medicamentos, cobertores, roupas de inverno e sapatos. Em dezembro do mesmo ano
suprimentos de ajuda foram levados às crianças da Bósnia, também vítima da
guerra (coisa de adultos responsáveis). Em agosto de 1993 US$40.000 foram
doados pela Fundação “Heal the World” para apoiar programas de merenda escolar
em vilas rurais da Tailândia. Em dezembro de 1993 a Republica da Geórgia
recebeu 60.000 doses de vacinas urgentes, doadas por Michael Jackson. Em 1999 ele doou a Nelson Mandela 1
milhão de dólares para um fundo de ajuda a crianças.
Essas poucas citações são apenas para
instigar os “Freud” que não se cansam de dizerem que Michael era um garoto
alienado do seu mundo e da sua realidade. Se isso não for se comprometer,
sinceramente não sei o que é. E ainda tem toda ajuda enviada para Moscou,
Buenos Aires, Budapeste, e tantos outros lugares. A é grande a relação de
organizações que recebiam, e recebem importantes contribuição de Michael, além
de sua própria fundação.
E fico aqui me perguntando se esses
que pintam um Michael esquisito, quase monstruoso, já contribuíram com alguém
que estivesse precisando de ajuda, nos últimos dias. Será? Quantas moedinhas
vocês depositaram nos porquinhos da ACCG esse mês? Quantas creches vocês
visitaram no último semestre? Quantos famintos, que bateram em suas portas,
saíram saciados? E quantos nem foram recebidos?
É, pessoalmente acho Michael Jackson
o maior. Sua música é eterna, como sua dança. Mas suas ações fora dos palcos
foram maiores. E ele não fazia questão de divulgar isso, talvez demonstrando
ter aprendido o ensinamento do Mestre, de que “...não deve saber sua mão
esquerda o que dá sua mão direita...”. Fama e fortuna ele conseguiu com seu
trabalho. Não precisava mostrar sua caridade pra isso.
Era uma pessoa infeliz, e não
escondeu de ninguém. Não foi completo, também não escondeu de ninguém. Mas
desafio a me mostrarem uma confusão real na qual ele estivesse envolvido. Um
caso de envolvimento com drogas ilícitas, e consequentemente com o fortalecimento
do crime. Um momento de demonstração de prepotência, onde tenha humilhado
alguém. Um episódio sequer onde ele tenha feito mal ou que tenha sido mau com
quem quer que seja (E todo mal que ele fez foi a ele mesmo). Não há registros
(ao contrário da grande maioria das grandes estrelas), e sabem por quê? Porque
crianças não são assim. Elas são belas e acreditam nas pessoas, em um mundo
melhor. Acreditam na fé, enfim.