31 de dez. de 2021

Um ano que encerra meia década

 Para acompanhar essa leitura, recomendo colocar essa trilha de fundo. Nem todos entenderão, mas faz muito sentido... 😔


A vida, meus amigos, é feita de escolhas. Disso, todos já sabemos.

À nós cabe escolher e, em seguida conviver com as consequências de cada escolha. Escolhendo, novamente, no novo cenário e sob as novas circunstâncias, motivadas pelas escolhas anteriores.

Como lidaremos como futuro que cada escolha nos trará, é também uma escolha... Repetição quase enfadonha, mas necessária, para reforçar a ideia.

Escolhas infelizes nos levam a situações, lugares e pessoas danosos, prejudiciais e, igualmente, infelizes.

No entanto, nem sempre podemos ver com clareza, antes da escolha ser feita. E, por vezes, somos levados onde jamais gostaríamos de ir, caso tivéssemos clareza prévia.

2021 chega ao fim. Estamos vivendo suas últimas horas. E aqui estou, nesse exercício habitual de fazer, e compartilhar, meu balanço do ciclo que se encerra.

Exatamente um ano atrás, poucos amigos (ou pessoas que eu julgava amigas) receberam um texto onde eu contava como 2020 havia me deixado doente. Eu estava muito mal. E, naquele momento, eu julgava ter sido aquele, o pior ano que poderia existir.

Mas 2021 chegou, e tudo foi superado e preciso redefinir a régua que mede anos ruins, para tentar encaixar esse que agora finda.

No entanto, para mim, o que fecha agora não é apenas o ciclo de um ano. Encerro hoje um período que se iniciou com uma escolha infeliz. Provavelmente a mais infeliz que fiz em toda minha vida, até aqui. E que foi tomada em 2016. Hoje eu encerro, então, um ciclo de 5 anos. Isso mesmo, meia década em que as consequências de uma escolha infeliz foram se acumulando, e gerando novas escolhas infelizes com mais consequências desastrosas.

A exatos 5 anos eu ia embora de Goiânia. Fui acreditando numa possibilidade que se apresentava como interessante e bastante favorável. Escolha infeliz, mas feita conscientemente.

Tudo deu errado, na nova cidade. As possibilidades não se concretizaram, a família que existia, se desfez. Os amigos mais próximos, também se foram logo (na consequência de uma escolha infeliz, corrigiram o curso, e optaram por escolhas mais felizes, diferente de mim, que insisti em permanecer). Os prejuízos se acumularam. Prejuízos financeiros também, mas, especialmente emocionais, sociais e espirituais.

Absolutamente tudo que podia dar errado, de fato deu. Mesmo assim, ao longo de cerca de 4 anos, eu procurava me apoiar em suportes ilusórios, refúgios traiçoeiros e falsos oásis. Até me permiti sonhar. Mas, quando não há verdades, mesmo o mais bonito dos sonhos ruirá tragicamente.

2020, tragicamente coroado, apenas começou trazer à tona a doença que já me acometia. Trouxe à tona, também, incompatibilidades geradas pelo desrespeito e pela ausência da verdade. Era doente, o ambiente onde eu buscava cura. Nunca foi refúgio, onde eu tentava repousar.

Nem tudo, ao longo desses 5 anos foram desgraças. Em meio a tudo, alguns encontros e reencontros foram realmente favoráveis e benéficos. E, algumas amizades valeram, realmente a pena, serem feitas. Poucas, que provavelmente caibam em minhas mãos, mas que espero levar comigo pelo máximo de tempo possível.

Mas, se nem toda estrada é caminho, também nem todo encontro, por mais que pareça salutar e feliz, realmente o é.

Escolhas infelizes nos levam a situações, lugares e pessoas danosos, prejudiciais e, igualmente, infelizes. E, por vezes, nos cegam e comprometem nossa capacidade de análise e julgamento. O que nos leva a mais escolhas infelizes. E, assim, o que eu julguei ter sido a melhor coisa que me aconteceu nesse período ruim, ao se desnudar e se mostrar completamente, se apresentou como a pior coisa que me aconteceu, não nesses 5 anos, mas em toda minha vida. E as feridas abertas sangram e doem muito mais ao fazer constatação tão dura.

“Ainda vai levar um tempo, pra fechar o que feriu pro dentro”, Lulu Santos.

“É natural que seja assim”. Sei que as feridas ainda irão sangrar por um tempo. E algumas cicatrizes nunca sumirão completamente. Mas o pior ano do pior ciclo da minha vida está acabando e eu estou aqui, escrevendo esse balanço/desabafo, o que significa que sobrevivi. E, teve momentos em que eu pensei que não sobreviveria. Em alguns, cheguei mesmo a desejar a morte, por estar tão perdido e não enxergar horizonte possível. Mas estou vivo. E já escalo as paredes desse poço, cujo fundo eu andei cavando um pouco mais.

Ao escolher, optei pela vida. E algumas mãos se estenderam para me resgatar. À todas elas, sou muito grato, e nomearei até o final desse texto.

Foram 5 anos de espero superar logo. Desses, 2021 se esforçou para ser o pior, e conseguiu. Mas, se a pandemia ainda não passou, posso garantir que estou bem melhor que estava no réveillon passado. E, aos amigos e a todos que gostam de mim, tranquilizo afirmando que minha opção é pela vida e por continuar sendo o mais honesto e verdadeiro em tudo que faço, tentando seguir o exemplo dO outro Nazareno.

A escolha de 2016 foi infeliz por vários motivos, que escaparam de nosso controle. Não estávamos preparados para a empreitada proposta. Os demais envolvidos também não estavam. Nem estavam verdadeiramente intencionados. Mas reforço, eu escolhi ir. Decisão compartilhada no pequeno núcleo familiar que havia. Então toda colheita é de minha responsabilidade. Fui eu quem continuei escolhendo permanecer onde não me fazia bem. Eu que escolhi fechar os olhos para verdades que se mostrava facilmente. Eu plantei. E a colheita quase me matou, mas a culpa foi toda minha. Ninguém, além de mim, deve se sentir responsável. Nem espero que alguém deixem de ser quem são, apenas por eu querer acreditar que vão superar deficiências construídas ao longo de toda uma vida. Princípios e caráter não se formam por decreto.

Também não vou carregar o peso de tirar lições de cada acontecimento. Decidi que, certas dores são só isso mesmo, dores. E nem toda cicatriz trará ensinamento. Onde houver, vou me esforçar para aprender. Mas sem pressão. Pra mim, não é mais verdade definitiva as máximas de que: “O que não te mata, te fortalece” nem “em cada ferida uma lição”. A maioria do que encontramos pela vida não nos mata, nem nos fortalece. Apenas não nos mata mesmo. E, ficar tentando aprender com as feridas pode ser mais dolorido que a própria ferida. A vida apenas segue e vamos aprendendo onde as lições verdadeiramente existem.

Aos amigos que ficaram, espero tê-los por perto, e encontra-los em muitos momentos. E, a Casa do Naza (em reconstrução), estará sempre aberta para cada um de vocês. Às crianças, não se esqueçam nunca que eu, verdadeiramente amo vocês e seguirei, mesmo que apenas de longe, observando e cuidando de vocês. Aos parceiros de criação poética e musical, que sejamos terrenos férteis e colhamos bons frutos de nossas parcerias. Aos escritores goianos, tenham um pouco mais de paciência. Em breve o Concurso Literário Deriva voltará a ser realizado, agora em novo endereço, mas com a mesma proposta. E a participação de todos continuará sendo bem vinda e esperada.

A todos, eu desejo que, no ano novo, e por toda vida futura, que a vida nos seja recíproca, nos devolvendo, na mesma proporção, a maneira que nos comportamos e tratamos os outros. Observando, em especial, nossos valores e princípios, como respeito, honestidade e verdade.

Aos que me foram resgate, minha eterna gratidão (Tarcísio Barreiro, Manoel A. B. Neto, Hélio Benito, Ary Soares, Muriel Félix, Euzainy, grupo Garra, turma Aff, Rúbia Resende, Ednaldo (Marelo), Eduardo Costa, Valdira Rosa, P. H. Power, Carol, Marco Túlio, Pedro, Lílian Cardoso, Família DF e Casa 09).

Que bom que 2021 se encerra e, com ele, esse infeliz ciclo de 5 anos. Que em 2022 tenhamos muito mais escolhas felizes seguidas de mais escolhas felizes...

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10 de dez. de 2021

Uma chave

               Como sabem, cá estou eu, em processo de reconstrução. Tentando me reencontrar após praticamente dois anos muito difíceis e o fim de mais uma relação.

Voltei para Goiânia. Voltei perdido, muito perdido. Ainda estou. Mas vou me reencontrando um pouco a cada dia, a cada momento com os velhos amigos e com os novos que vão surgindo aos poucos. Também a cada nova sessão de terapia, a cada lágrima que ainda insiste em cair, às vezes.

Foi um fim. E todo fim é sempre complicado e por vezes dolorido. Esse último foi o mais dolorido até aqui. Por vários motivos.

Sei que em algum momento a dor dará lugar à outros sentimentos e, em seu lugar ficarão lembranças, boas e ruins e algumas lições (eu espero). Até lá, percorro o caminho do reencontro e da reconstrução.

Já atravessei esse trecho antes. Tenho boa noção do que o caminho me oferece. Sei que dói, mas escolho viver o mais intensamente esse percurso.

Estou morando sozinho. Já consegui refazer alguns dos laços de antes de me mudar para o interior. E já encontrei novas companhias de jornada. Algumas bem saudáveis, outras tão ou mais feridas quanto eu estou. Mas todas me são apoio. Amizades sempre são. Tenho uma nova gata, carinhosa e carente, que me faz companhia quando estou em casa. Mas, moro sozinho. Não estou dividindo a casa com nenhum outro humano.

E, em alguns momentos, isso potencializa a força da solidão, realçando a forte presença das novas ausências. E, para mim, momentos de arrumação da casa são especialmente doloridos. Minha mente sempre dá um jeito de ficar comparando como estou fazendo isso agora, com como “nós fazíamos” antes. E isso dói. Sinto saudade. Quero compartilhar, discutir sobre onde cada coisa deve ficar. Discordar, aceitar...

Ontem pela manhã foi um desses dias. Precisei reorganizar a cozinha para organizar melhor minha produção de donuts (essa é umas coisas boas que eu trouxe na velha mochila). Enquanto empurrava, sozinho, a geladeira, minha pequena mesa de vidro e um armário, novamente essa saudade bateu mais aguda. Como sempre um turbilhão de lembranças me vindo à mente. Cenas de tantos momentos alegres, outros nem tanto, mas compartilhados, portanto, felizes, passando em minha cabeça. Novamente o nó, o amargo, a lágrima. Sentimento de falta, de frustração, de angústia, de fracasso...

Porém, dessa vez uma coisa foi diferente e pode ter mudado para sempre minha vida ou, no mínimo, os momentos. É que, não sei bem por qual motivo, eu prestei mais atenção nas imagens projetadas em minha mente, e das quais eu sinto tanta saudade. E, ao fazer isso, uma chave foi acionada aqui dentro. Eu percebi que minhas lágrimas não são apenas por meu último casamento. E nem o tem como motivação, e sim, apenas o fim de relacionamentos com namoradas/esposas. O que me dói, o que verdadeiramente me dói, e a saudade de mim mesmo. De todas as sensações e sentimentos que eu experimentei em todos os momentos em que eu acreditei que uma dimensão da minha vida estivesse resolvida. Exatamente essa dimensão que, normalmente está relacionada com a presença de uma pessoa com quem se divide a vida, mas não necessariamente depende da existência da “alma gêmea”. Que é a dimensão que engloba a estabilidade doméstica. De moradia e agenda ligada à casa. Está ligado muito mais diretamente ligada à existência de um lar, sendo ele compartilhado, ou não, com um cônjuge.

Por isso sinto saudade de quando me mudei pra casa da Cohacol, lá em Mineiros, quando pela primeira vez, passei a ter um lugar que era meu. Na maior parte do tempo eu não tinha namorada. Mas tinha minha casa, onde me sentia seguro, livre, confortável, pleno. A casa estava sempre cheia de amigos. Era perfeito. Minha vida estava resolvida. Durou menos de 3 anos e eu precisei ir embora. Foi uma opção minha, desfazer aquele mundo perfeito. Apenas precisei partir.

Quando me mudei para a velha casa 266 da Rua 239, aqui mesmo, no setor Universitário, após alguns meses em outro endereço onde não me sentia tão bem, também me trouxe a sensação de que as coisas estavam resolvidas. E foram 10 anos felizes, com alguns momentos de menor alegria.

E teve a subida ao altar, no início de 2008, iniciando um período curto dessa segurança, Casamento que durou pouco, até começarmos a descobrir as diferenças e não sermos capazes de nos adequar.

Depois a relação intensa com a moça que foi comigo para o interior, mas que precisou voltar. Não teve briga, não teve decepções nem comportamento sacana de nenhum de nós. Apenas a relação chegou ao fim e ela precisava partir de lá. Doeu, claro, mas era fácil entender e aceitar o fim.

Em seguida, em meio à turbulência que estava minha vida, pela partida daquela companheira, chegou a face mais presente em minhas saudades. Teve certa intensidade. Foi bom. Trouxe a segurança e a paz que tanto me agrada. Novamente acreditei que minha vida estivesse resolvida. Mas, dessa vez só eu vivi a história dessa maneira. Mesmo assim, até que durou e acabou de forma dolorosa e um tanto desagradável. Mas foi certeza para mim, então sinto falta. Sinto saudade e, apesar de tudo, sinto que tenha terminado.

Em todos esses momentos esteve presente minha felicidade e alegria em acreditar que essa dimensão da minha vida estivesse resolvida, seja com uma companheira ou sozinho, mas com um lar.

Gosto de me sentir em casa. Gosto de ter a segurança de ter um porto seguro. Sim, gosto de sair, de viajar, de ir. Mas gosto disso especialmente por ter pra onde voltar. Ter a segurança de saber que, quando a aventura não for mais divertida, ou o trabalho for concluído, existe uma porta que se abre com minha chave e esse lugar está sempre pronto a me acolher. É disso que sempre senti falta, saudade.

Gosto das pessoas? Claro. Amo/amei cada mulher que esteve ao meu lado, ao longo dessa minha vida simples? Pode apostar que sim. E sigo amando cada uma, de maneira carinhosa e saudável. E sim, sinto saudade dos bons momentos que passei com cada uma. Mas o que percebi ontem é que nunca foi exatamente isso que me tira lágrimas. Minhas ex-companheiras estão em lugar seguro, dentro de mim, de maneira a continuarem me ensinando as lições de cada etapa, mas sem me ferir, nem ser ferida por mim.

Mas a sensação de LAR, que construí com cada uma, e que não existe mais, é o que me dói. Assim como a mesma sensação que criei sozinho, em alguns momentos.

E perceber isso é libertador. Me liberta da mulher que empresta o rosto aos meus momentos de solidão e angústia, nesse momento. Pois o que eu realmente busco não é ela. É o ambiente, a atmosfera que criamos, no caso da última relação, que eu acreditei, sozinho, que existia.

Essa percepção também liberta a pessoa, pois me leva a liberá-la de toda responsabilidade e culpa pela dor que eu possa estar sentindo.

Entendo as mudanças. Gosto da perenidade da inconstância que a vida é, e precisa ser. Mas também gosto de algumas certezas e seguranças. É importante ter pra onde voltar. Ter alguém esperando dá um conforto extra, que torna a vida bem melhor. Mas a vida sempre encontra alguma encruzilhada e muda as histórias. Nos faz querer ir, ou ter que ir mesmo sem vontade. Por vezes, temos que deixar o porto e navegar em águas turbulentas, ou com extrema calmaria, quase sempre parcialmente desconhecidas e, quando não há porto pra onde se pode voltar e atracar, qualquer navegante se sente perdido, à deriva.

O problema de hoje não é estar sozinho na casa em que estou. É não ter, ainda, construído a atmosfera de lar. Ainda não me sinto completamente em casa aqui e, até que isso aconteça, vou continuar sentindo essa saudade que usa rosto, perfume, textura de pele e tom de voz, para me enganar, pois, na verdade, sinto saudades de mim mesmo, dos momentos em que soube, ou acreditei, que eu tinha um LAR.

Goiânia, 08/12/2021

Naza

Poeta/escritor, apaixonado

Ferido em recuperação

23 de out. de 2021

O desconforto masculino ao cruzar com mulheres.

 

Enquanto voltava pra casa, ontem a noite, de um bar aqui perto, onde fui comer alguma coisa, fui obrigado a cruzar com uma mulher, acho que bonita. Acho que jovem. Acho que morena. Não posso afirmar nada disso com certeza, pois não pude observar. Tive que apresar o passo e me distanciar o máximo que pude.

Novamente o constrangimento e o enorme desconforto, que me tem acometido com frequência, sempre que uma mulher passa por mim.

Para que todos saibam, sou homem, branco, hétero e cristão. E a cada dia tenho sentido mais constrangimento e desconforto ao cruzar com mulheres.

Isso já acontece faz um tempo. Mas vem se agravando.

Sim, isso parece mesmo mais um “mi mi mi” de alguém que pertence à maioria socialmente aceita. E pode ser sim. Mas, o fato é que está cada vez mais difícil conviver com mulheres, em ambientes públicos ou privados, a menos que as mulheres em questão sejam conhecidas e você seja um homem confiável.

Posso ter acabado de denunciar o real teor da minha aflição. Mesmo assim, me permita expor, de forma explícita e completa.

Vejam, eu sou um cara normal. Não sou tão feio, que cause pavor devido minha aparência. Também não sou tão lindo, que gere furor e assédio, por parte das mulheres. Então nenhum desses é o motivo do meu desconforto ao cruzar na rua com mulheres.

O que me deixa desconcertado é ver no rosto, no jeito de andar e em toda atmosfera próxima, o medo que eles sentem, pelo simples fato de eu ser homem, ou por elas serem mulheres.

Como disse, percebo isso faz um tempo. Mas ao retornar para Goiânia, após alguns anos no interior, e tendo que caminhar pelas ruas da cidade, com vários pontos mais escuros, com pouca ou nenhuma luz e, inevitavelmente, cruzar com algumas mulheres em vários momentos, esse sentimento, nelas, passou a ser mais perceptível para mim.

Elas sentem medo. Elas ficam assustadas. Elas querem passar logo, se distanciarem o mais rápido possível. Chegar em segurança ao próximo ponto com luz. Ao próximo local com mais pessoas. Em casa.

Não, meus amigos, a culpa não é delas. Elas estão assustadas assim, com razão. Por culpa nossa. Nós homens, em especial nós, héteros, brancos, cristãos e aparentemente “gente boa”, fizemos com que a situação chegasse onde chegou.

Elas, as mulheres, estão com medo de serem agredidas, de serem estupradas, de serem espancadas e assassinadas, só pelo simples fato de serem mulheres. E esse medo tem base muito sólida em todas as estatísticas de violência contra mulher que é feita e publicada.

Sou poeta, faz parte de mim gostar de observar pessoas. Gente de todas as classes, cores, credos, alturas, matizes, gêneros e tudo mais. E, claro, também gosto de admirar as diversas belezas possíveis nas mulheres. Mas isso não é mais tão possível, pois minha observação pode significar uma análise para futuro ataque. Para um estupro ou outra forma de violência que nem consigo imaginar.

Eu sei quem sou. Mas elas não sabem. E, mesmo quem convive minimamente comigo, que segurança pode ter, de que não sou um psicopata?

Quero poder voltar andar livremente pelas ruas da cidade. Mas, para isso, é preciso que, antes, as mulheres possam fazer isso também, a hora que quiserem, com a roupa que se sentirem mais confortável, portando a bíblia cristã ou um título da Anaïs Nin...

Isso se dará, basicamente, com uma grande mudança na forma de educar/formar nossos meninos. Sei que nos últimos tempos, algumas mulheres vêm se dedicando à tarefa de transformar seus filhos em homens que saibam reconhecer seu verdadeiro lugar, respeitar as diferenças e, especialmente, respeitar as mulheres como seres independentes, livres e senhoras do próprio destino. Mas, quando eu era criança, o comum era as mulheres da época se esforçarem para fazer de mim, e dos outros garotos, verdadeiros garanhões, grandes pegadores.

Citei as mulheres, no papel de educadoras, no parágrafo acima, pois elas são as vítimas da formação machista que elas mesmas nos incutiam. Claro que os homens tem grande parcela de culpa na formação das crianças. Mas, se ainda não conseguimos curar a nós mesmos, esperar que sejamos capazes de gerar outros homens saudáveis, é esperar um pouco demais de nós. Ao menos das gerações que estão no papel de educadoras nesses dias. Mas, claro, precisamos evoluir pra isso.

Claro que temos pequenas e isoladas ilhas de bom senso e verdadeira maturidade, entre os homens contemporâneos. Não pretendo aqui desmerecer o esforço que alguns homens maravilhosos tem feito para a criação de um mundo melhor. Mas esses ainda são uma minoria tímida e, quase imperceptível.

Meu constrangimento, por força, vai me educando um pouco mais a cada encontro desconfortante. Eu sigo esperando ter a confiança de todas as pessoas que passarem por mim. Mas reconheço que, especialmente, para elas, o medo e a desconfiança ainda é sim, a melhor saída.