Noite calada,
Escura e fria.
Beco fechado,
Rua vazia.
O palco está sempre montado,
E, as personagens fazem, de fato,
Novas cenas do mesmo ato.
No elenco,
Como é constante,
O experiente
E a iniciante.
O silêncio pesa,
Quase não há luz,
Ela soluça,
- essa é a deixa -
Ele introduz.
Ela se esforça,
Tenta gritar.
Com a boca ocupada,
Por mãos e língua,
Somente pode chorar,
Enquanto seu sangue
Escorre e pinga.
Em sua mente,
Pensamentos desordenados
Passam como um furacão.
Ela é só dor,
Ele todo tesão.
No desempenho de seu papel
Ele se acha o melhor do planeta.
Ela já não se acha nada.
Sente, apenas, muita dor
E o horrível gosto de gameta.
Ele estremece e relaxa,
Outra explosão.
Ela percebe, movimenta rápido,
O brilho metálico troca de mão.
O novo quadro surpreende,
Ela não está mais no chão.
Ele, paralisado, quase se arrepende,
Experimenta algo novo,
O medo trocou de coração.
O dedo, tenso,
Pressiona o gatilho.
O coração dispara,
O dele pára.
Ela, nua, corre, chora e grita.
Mas está aliviada
Caído e sem vida,
Ele interpreta, brilhantemente,
O final, definitivo, daquela história,
Que ele próprio estrelou,
Em tantas outras madrugadas.
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