25 de fev. de 2009

18 de fev. de 2009

3 de fev. de 2009

Cruzando com a felicidade

Eram 11:43 horas. Ele tomou mais um gole de cerveja. Encheu o copo novamente, olhou pro relógio, e voltou a olhar pro vazio.
Alexandre Gadelha de Castro estava ali desde as seis, hora em que desembarcou, caminhou apenas alguns metros, adentrando ainda mais na rodoviária. Arrastando a única mala que trazia. Parou no primeiro restaurantezinho que avistou, talvez o único do lugar, e não arredou mais o pé.
Não conhecia nada, nem ninguém, em Uberlândia, nunca estivera ali antes e não queria estar agora.
Enquanto bebia a terceira cerveja, em todo esse tempo, via, mesmo sem querer, os ônibus chegarem e partirem, e ficava tentando achar razão para estar ali.
Saíra de Goiânia, queria ir pra Recife. Pensava querer. Queria preencher o enorme vazio que era sua vida.
Com 31 anos, já havia iniciado quatro cursos universitários, não concluindo nenhum. Pertencia a uma família bem sucedida, tinha uma namorada que dizia amá-lo muito. Mesmo assim não era feliz. Sempre lhe faltou algo que ele não conseguia definir, nem entender.
Saíra pensando em não voltar mais, em achar o que lhe faltava. Em preencher seu vazio e ser feliz. Fora até Brasília, e ao partir de lá, sem saber por que, preferiu Uberlândia à capital pernambucana.
Tomou mais um gole, enquanto chegava um ônibus vindo do Rio de Janeiro.
Pensou em embarcar neste, que já voltaria. Não teve forças mais uma vez. Ficou plantado lá. Só olhando o desembarque. Saltou do ônibus uma moça morena, alta, cabelos longos e olhar opaco, como o dele. Por um momento ele a observou atentamente. Desviou a atenção e pediu outra garrafa, e ao procurá-la de novo, não a avistou mais. O garçom lhe serviu, ele apanhou o copo, levantou a cabeça e viu, na mesa ao lado, a moça do Rio. Ela tomava uma soda que o garçom acabara de trazer.
Eles se olharam e seus músculos ficaram enrijecidos. Não conseguiam girar os olhos. Ficaram assim alguns segundos eternos. Ele se levantou e foi até ela, arrastando sua única mala. Pediu permissão para se sentar ali, e obteve. Apresentaram-se. O nome dela era Daniele Ortiz Maia, tinha 28 anos, formada em medicina. Era pediatra, concluiu, também, o curso de homeopatia. Era rica. Parecia ter tudo, mas, como ele, sentia falta de algo muito mais importante que tudo que ela tinha. Pretendia ir para o interior da Amazônia trabalhar de forma beneficente, para os índios e as famílias carentes da floresta. Era super revoltada com a violência em seu estado.
Eram 12:20 horas, quando eles pediram uma refeição. Enquanto esperavam e durante o almoço, foram conversando, se conhecendo e se identificando.
Continuaram naquela mesa, conversando incessantemente até as 20 horas, e perceberam que suas vidas eram muito parecidas. Que ambos estavam ali sem saber por que e, que seus olhos estavam, agora, com um brilho alegre.
Bem lá no fundo cada um sentia que o vácuo que existia parecia ter sido preenchido.
Eles então atravessaram a avenida, adentraram em um hotel bem próximo. Requisitaram um só apartamento. Se instalaram, se banharam e, depois, se tocaram.
O primeiro toque muito tímido, o primeiro beijo meio trêmulo, mas, com certeza, o beijo mais gostoso de cada um até então. Eles se soltaram e se entregaram, sem ter medo. Sentiram-se no paraíso quando seus corpos se uniram. Atingiram o pico do prazer várias vezes. Pensavam estar fazendo sexo. Faziam, na verdade, amor. Dormiram, cansados dos movimentos e fortalecidos pelo sentimento. Sonharam ter encontrado seus tesouros, suas lendas pessoais, o que lhes faltavam.
Acordaram cedo, tomaram banho, tomaram café e foram pra rodoviária, carregando suas malas. Estavam felizes como nunca estiveram antes. Queriam seguir viagem.
Às sete horas eles embarcaram. Ele pra Recife, ela pra Manaus. Poderiam ter ficado. Com o que tinham dava pra iniciar uma vida a dois. Mas queriam partir. Acordaram loucos por isso. Não souberam ouvir seus corações, que queriam seguir juntos nos trilhos da felicidade. Juntos para sempre. Não era necessário embarcar. Era necessário apenas viver, se permitir e ser feliz.
Às 07:42 horas, já longe da rodoviária, e mais longe ainda entre si, eles perceberam o que fizeram. A chance que perderam e que dificilmente voltariam a ter. Então choraram profundamente.
Ele ruidosamente, ela mais sutil. Mas ambos com uma dor imensa. Sentiram que o vazio agora era bem maior que antes. Pois agora conheciam o que lhes cabiam.
No livro de registro do hotel seus nomes ficarão juntos pra sempre. Assim como a inscrição “Dani e Alex” dentro de um coração, gravados na mala de cada um.
Eles trabalharão, estudarão, mudarão de cidade, farão sexo com outros parceiros e, até sorrirão. Mas nunca esquecerão aquela quarta-feira. Único dia em que foram realmente felizes.


Da série "Pequenos prazeres ... Mas não haikais"

Bálsamo


Sol em tarde de verão.

À sombra, você.

Ver-te, refrigera minh'alma.

Um Parque em mim (ao PNE)

Fria e tranquila a noite caí.


No Céu, a lua se enche de brilho


Pra iluminar minha inquieta paz


 


Não há mais a fogueira,


Não há mais a velha viola,


Não há mais as piadas


            (‘marelas’ de tão usadas),


O rapel também já não há.


 


Esse tempo já passou,


O corpo não mais acompanha a mente livre,


Agora estou em outra estação.


Me contento em pisar,


Com os pés descalço,


Novamente esse chão.


 


Antigos companheiros


Seguiram outras direções.


Encontros, agora, apenas em rápidas paradas,


            Em algumas poucas estações


Um abraço e já uma nova despedida.


 


Mas há, ainda, o vento livre,


O pó da estrada


Os troncos retorcidos,


As águas claras do Formoso Rio


E o agradável cheiro do sertão.


 


Já não é tão abundante,


Mas o Cerrado inda persiste.


E há de nunca se extinguir.


 


Há uma lágrima,


Mas não há tristeza,


Há só a saudade,


Uma gostosa sensação.


E uma prece involuntária:


 


“Que eu consiga deixar o mundo melhor


Para os que virão.


Que os erros acumulados me mostrem os caminhos.


Que, assim como essa lua,


 minha vida tenha algum brilho


E que nenhum prazer tenha sido em vão”.



Deriva - Poema que empresta o título ao livro e a esse blog

A bordo da jangada que corre rápido
Pelo leito, de anos,
Que nos leva embora, pro fim... (ou pro recomeço?)
                            É nessa incerteza que nos guia.
Com olhar fixo pra’lém do ocaso da existência,
Ora tormenta, ora calmaria.

Mesmo sem entender, por inteiro, as emoções
Que em mim mesmo mora,
                      (faço um esforço e)
Quase entendo porque a própria vida
Às vezes ri, às vezes chora.

E como um sábio do que se passou,
E abobalhado com o que há de vir,
Sinto a frieza e o calor de CRONOS,
Que se torna mais forte a cada hora,
E, como antes, hoje nos devora...