26 de nov. de 2024

Adeus ao Mestre (Obrigado Martiniano J. Silva)

 

  



               Para onde vão os imortais, depois que morrem?

Olhando rápido, a pergunta pode parecer sem sentido. Alguns até podem dizer que é idiota mesmo. Mas isso por conta do da formação cristã que nos molda. Se vivêssemos sob outra mitologia e cultuássemos outro panteão, com outras regras, costumes e tradições, poderia ser uma pergunta comum, de alguém no início da sua formação no catecismo. Mas não importa, ainda quero saber para onde vão os imortais, depois que morrem?

Não, não estou aqui falando de deuses. Estou falando de imortais. Pessoas que foram especialmente abençoadas pelos deuses, de quem recebeu grande dom (ou dons, no plural mesmo).

O Mestre partiu.

É um momento de triste pesar. Choramos, claro. Mas, muito mais que me entristecer, sou acometido por gratidão e orgulho.

Muita gratidão pelo privilégio por ter podido aprender muito, durante toda minha vida, com ele, bebendo direta da fonte, esse açude baiano que cismou de vir irrigar justamente o extremo sudoeste goiano, onde eu era só um pivete pobre, periférico e sedento.

E, o que inicialmente eram apenas pequenas doses de água fresca, logo se tornou pote, cacimba e, quando deu por mim, o açude estava todo ali, pronto para alguns mergulhos. Claro que, com minhas limitações, nunca conseguir ir muito abaixo da superfície. Sua imensa profundidade não assustava ninguém, mas como eu poderia ser capaz de mergulhar, se ainda não tinha conseguido absorver tudo que vinha à tona o tempo todo.

De tanto matar minha sede, e mergulhar em suas águas, quis me tornar leito. E até me sinto jorrando, em pequenos filetes, rumo à vastidão do oceano dos sentimentos humanos. E, mesmo sabendo que jamais passarei de raso igarapé, parte de toda minha pequena profundidade superficial, eu devo àqueles bons mergulhos, que refrescavam a alma, aguçava a mente e, quase sempre, satisfazia o paladar, com as deliciosas quitandas, da adorável Chica.

Assim, falei um pouco da gratidão.

O orgulho que sinto, que já me acompanha por muito tempo, e seguirá me acompanhando, enquanto não me tornar passageiro no barco de Caronte, é o que ter podido tê-lo considerado, e chamado, de meu amigo. E pela certeza que esse era um sentimento recíproco.

Obrigado, Martiniano, por tudo que foi, fez e representou para a Mineiros da minha infância e juventude, por tudo que foi, fez e representou para mim, para minha formação e para minha vida.

Obrigado por tudo que seguirá sendo, fazendo e representado por todos nós, seus amigos/aprendizes da Academia Mineirense de Letras e por todos que virão depois de nós.

Siga em paz, siga livre. Você cumpriu sua jornada. As sementes das sementes de suas sementes já dão fruto e carregam novas sementes. Seu legado tem raízes profundas nesse Cerrado todo torto, resiliente e lindo.

Por aqui, tentaremos manter todas as chamas acesas, nos aquecendo (e fique tranquilo, eu e Toninho sempre iremos tomar aquela dose, escondida, honrando todos os copos de cerveja, que nos esforçamos para que nem Chica, nem sua enfermeira, não vissem). E em cada chá, seu espírito aguerrido, divertido, provocador e persistente, estará conosco.

Obrigado, velho amigo.

Esteja em Paz.

Goiânia, 26 de novembro de 2024

Nazareno de Sousa Santos – Naza