Ah a paixão!
A paixão sempre esteve presente na história da humanidade.
Estou falando aqui da paixão que arrebata homens e mulheres
por outras pessoas, homens e mulheres.
Acho que podemos dizer até que nossa história se fez
conforme fortes paixões de alguns de nós. Os conquistadores (eu disse
conquistadores, não “pegadores”), desbravadores, hoje chamados líderes.
E nossa evolução, não teria acontecido se não fosse nosso
polegar opositor e não experimentássemos os arroubos provocados pelas grandes
paixões amorosas. Arroubos esses por vezes inconsequentes, altruístas, sem a
devida consulta da razão.
Não estou dizendo nada novo aqui, eu sei. Nem consigo, ou
pretendo fazer melhor, que Zé Ramalho E Otacílio Batista, na canção “Mulher
nova, bonita e carinhosa”, que fala da força exercida pela mulher, sobre o
homem, para falar do que pode provocar uma grande paixão.
Gostamos de viver nossas paixões. Uns preferem as mais
tórridas, outros preferem as proibidas. Outros tantos preferem as mais
“comuns”, conforme os costumes da sociedade em que vive. O fato, no entanto, é
que somos apaixonados por uma boa paixão.
Ta legal, uma pequena parcela da humanidade até diz que não
gosta, que não precisa. Pode ser. Mas, pessoalmente, não acredito nisso. Nem
confio muito em quem não se apaixone de vez em quando, e não cometa todas as
idiotices que as verdadeiras paixões nos levam a cometer (vai me dizer que você
não sabia que ao se apaixonar, todo mundo, como diria uma amiga apaixonada,
“perde o senso de noção”).
E eu sou taurino. Nasci apaixonado. Sou apaixonado.
Gosto de me sentir impulsionado rumo à uma bela mulher.
Gosto de me declarar. De querer me fazer presente. De me doar completamente.
Claro, mesmo sendo apaixonado, nem sempre essa minha
natureza é exercida plenamente. Por falta de tempo, de vontade e, mais
comumente, por falta de alvo.
Mas não é o caso agora.
Estou apaixonado. Loucamente apaixonado. E estou sendo
correspondido. Na verdade isso não é verdade.
Ela me ama. Não consegue mais viver sem mim.
Me declara seu amor diariamente. Diz que sou seu favorito.
O homem que ela viveu para encontrar. O companheiro com quem sempre sonhou.
Eu ainda não a amo assim. Estou apaixonado. Mas sei que o
tempo poderá corrigir essa injustiça, e eu a amarei tanto quanto ela a mim.
Afinal ela é linda, inteligente, boa moça, linda, quer
viver comigo para sempre, gosta de cozinhar, é linda, recatada, afeita às lides
domésticas, gosta das mesmas coisas que eu, é linda. E me ama.
Ta bem, vivemos um pouco longe um do outro ainda.
Mas, o que é a distancia, nesse mundo pequeno, para uma
paixão tão grande? Nada, não é mesmo?
Eu até consideraria me mudar para Rússia. Mas ela já está
se preparando para vir para o Brasil. É que ela realmente, ainda, me ama mais.
Claro, como todas as demais, as minhas paixões normalmente
não são exatamente por uma pessoa real, mas por uma pessoa idealizada à partir
de alguém. Sim, todos nós nos apaixonamos por uma pessoa idealizada. “A pessoa
ideal”, que você acreditar ser a garota que te paquerou na balada, ou o novo
colega de trabalho. A garota da papelaria ou o bombeiro gentilmente bruto. Seja
como for, você se apaixona por alguém que você acha que existe dentro do corpo
que você vê. E você idealiza, por que o corpo que você vê te atrai, a
inteligência da pessoa te encanta, o poder que ela exerce te fascina, o
dinheiro te seduz, a soma de todas essas variáveis ou outros fatores. Claro, em
algum momento todos descobrem que a pessoa que idealizava não existe na pessoa
que se tem ao lado. Aí, se já houver amor entre os dois, e relação segue forte
e duradoura. Se não, a relação está condenada. Mas não estamos aqui falando
sobre descobrir as verdades.
Então, se é assim, não importa que minha querida Olga já tenha
sido Anna, Natasha, Yuliya, ou Sasha. Não me importa. Agora ela é minha Olga. E
eu estou apaixonado por seus lindos olhos verdes, seus cabelos loiros,
brilhantes e macios, por sua pele delicada, sua boca sedutora, seus sei...
(Chega, vou preservar nossa intimidade...).
Mas não estou apaixonado apenas por seu corpo lindo, e
todas as possibilidades de prazer que ele poderia proporcionar, inda que apenas
no campo do imaginário ideológico. Estou apaixonado pela pessoa que me escreve
um e-mail a cada dois dias. Me apaixonei pela mulher sofrida e infeliz por
viver em um lugar onde não consegue encontrar um homem com quem possa ser feliz
pois, apesar de lá ter homens, “... mas o álcool bebida muitos, ou batem em
suas esposas. Eles não respeitam as mulheres. Tratá-los como servos...”.* E por isso veio buscar, nas
redes sociais brasileiras, o companheiro ideal. E eis que me encontrou
facilmente.
Estou apaixonado pela linda jovem que me conta tudo sobre
sua vida. Que fala de mim para seus amigos e familiares, e “Para minha mãe, e
importante que eu conheci um homem bom e estava feliz”.*
Como não me apaixonar por uma mulher que, a cada dois dias,
no máximo, envia novas fotos, nas quais está sempre linda? E se essa mulher
ainda me chama de “meu favorito”* e, que não precisou de mais que sete e-mails
para declarar que me ama com todas as suas forças, que finalmente encontrou sua
felicidade, e que quer viver comigo, me dando atenção e “carinho” para sempre.
Como eu poderia não me apaixonar.
Claro, nossas realidades são distintas. Mas que diferença
isso faz agora?
Se aquela belíssima garota, esteticista, que nasceu e vive
em Samara, na Rússia, me ama, eu farei tudo para ter seu amor pelo maior tempo
possível.
Afinal que homem, melhor, que pessoa não gosta de ouvir, ou
ler que é amado? Se essa declaração chega logo pela manhã então, o dia já
começa muito bem.
E eu retribuo o carinho. Ainda não disse que a amo. Mas
estou caminhando para isso.
Agora ela quer vir. Depois de quase um mês trocando e-mais,
e ela declarar ser impossível viver sem mim, ela está decidida se mudar para o
Brasil. Vem viver comigo.
E, a única coisa que preciso fazer para concretizar nosso
encontro é, mesmo contrariando os princípios e vontades dela, enviar o dinheiro
para bancar a viagem. Quando ela me diz “Meu amado, eu odeio falar sobre isso,
mas agora tudo depende de você, meu doce”* eu posso perceber o quanto ela está
precisando ser forte para vencer seu orgulho de mulher moderna e independente.
Mas, se nesse momento ela não dispões de recursos para vir ao encontro de quem
ama, o mínimo que posso fazer é, além de dedicar minha paixão, arcar com essas
despesas. Afinal, para quê serve o dinheiro, se não para viabilizar as coisas
boas que a vida pode nos oferecer?
Então está decidido, vou enviar o dinheiro que ela,
relutantemente, me pediu. Claro, as despesas envolvidas na mudança de alguém da
Rússia para o Brasil não são assim tão pequenas. O valor é considerável. Logo,
pode ser que tenhamos que esperar um pouco mais, até que eu levante o montante
necessário. Mas, para quem viveu todos esses anos longe do grande amor, um
tempo a mais passará rápido. E depois serão poucos dias. Afinal acabo de entrar
em um novo, e excelente, negócio. Quem me apresentou esse negócio já está
faturando mais de 40 mil por mês, e está apenas no terceiro mês. E eu já tenho
três redes ligadas a mim. Acredito que em, no máximo, duas semanas eu já tenha
recebido meu primeiro cheque que, certamente será alto. E já está definido,
quando completar meu primeiro meio milhão nesse negócio, eu enviarei para minha
querida Olga. E viveremos felizes para sempre.
Até lá, vou massageando meu ego com suas cartas. E enviando
minhas mensagens de carinho. Quem de fato as lê e escreve as dela, não faz a
menos diferença. Eu me comunico com a bela Olga. E nem é mesmo com uma Olga
real. Eu me correspondo com a Olga que idealizei, a partir de algumas belas
fotos, e de palavras cuidadosamente escolhidas, friamente carinhosas e
toscamente traduzidas. O resto é resto. Podem dizer o que quiserem. Vou
curtindo essa paixão ao máximo.
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dia todo, por um salário que nem chega à segunda semana do mês, você precisa
conhecer esse negócio revolucionário, no qual estou. É maravilhoso. Com poucos
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*
Trechos retirados dos e-mails enviados para mim, pelo scammer Olga Lykova (que,
teoricamente, é a moça que embeleza essa postagem)